Eu
já achava que estava grávida de uma menina. Não sabia muito bem a razão, mas a
minha intuição dizia. Enfim, quando realmente confirmamos que era uma menina,
nossa Cecília, todo um mundo de laços, fitas e flores veio na minha mente. Mas
logo achamos esquisita a nossa reação diante da notícia. Afinal, não sabíamos
se ela se consideraria mulher. Porque pela concepção de gênero que temos e que
defendemos, este não é baseado em órgão sexual, ou seja, o gênero vai se
configurando a partir de uma série de comportamentos aprendidos, modos de
pensar, se portar, se vestir, de desejar que culturalmente são postos, ou
impostos. Desta maneira, ter pênis ou vagina, para nós, não configura fato
determinante dos modos como essas coisas vão ser aprendidas e internalizadas nas
performances de vida de nossxs pequenxs. E ali tínhamos visto uma vagina e já
concebido que teríamos uma menina! Isso criou um nó danado na gente.
Temos
um menino, com o qual não levantamos todas essas questões. Olha que coisa
doida! Machismo em nossas entranhas. Confesso que quando soube que era menina
fiquei imensamente feliz, pensei o tanto de coisas que poderíamos fazer juntas,
como por exemplo, fazer as unhas, coisa que eu sempre adorei fazer com a minha
mãe e que há anos não sei muito bem o que é. Começamos a ganhar milhões de
coisas rosa. E eu não gosto de rosa. Nunca gostei... acho uma cor tão sem
graça, principalmente pra roupa. E em todos os lugares que eu ia me perguntavam
se era menino ou menina, e aí eu se eu queria levar o pijama de dinossauro “ah,
mas pra menina é esse aqui”.... Essa concepção social do que é ser menina e menino
é tão limitante.
Enfim,
decidimos relaxar, maneirar nas frufruzices (até porque né, minimalismo tá aí
pra isso), aceitar algumas concepções intrínsecas construídas socialmente do
gestar uma menina. Afinal, se ela não se sentir confortável estando dentro de
um gênero já estabelecido desde meu ventre, será acolhida da mesma maneira e
vamos descobrir uma maneira nossa de viver isso.
E
a gente fica aqui na torcida para que ela, como a gente, continue lutando pela
igualdade entre os gêneros, pelo respeito coletivo e pela emancipação feminina.
Que sofra menos violências cotidianas do que as ancestrais dela sofreram.
Que
seja uma semeadora de luz e que respeite as pessoas independentemente do que elas
têm entre as pernas.
obs.: meu companheiro deu uma entrevista recentemente para a CBN sobre machismo na educação dos filhos. Quem quiser pode conferir a entrevista a partir dos 37 minutos neste link.
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