domingo, 24 de maio de 2015

Questão de gênero

Eu já achava que estava grávida de uma menina. Não sabia muito bem a razão, mas a minha intuição dizia. Enfim, quando realmente confirmamos que era uma menina, nossa Cecília, todo um mundo de laços, fitas e flores veio na minha mente. Mas logo achamos esquisita a nossa reação diante da notícia. Afinal, não sabíamos se ela se consideraria mulher. Porque pela concepção de gênero que temos e que defendemos, este não é baseado em órgão sexual, ou seja, o gênero vai se configurando a partir de uma série de comportamentos aprendidos, modos de pensar, se portar, se vestir, de desejar que culturalmente são postos, ou impostos. Desta maneira, ter pênis ou vagina, para nós, não configura fato determinante dos modos como essas coisas vão ser aprendidas e internalizadas nas performances de vida de nossxs pequenxs. E ali tínhamos visto uma vagina e já concebido que teríamos uma menina! Isso criou um nó danado na gente.

Temos um menino, com o qual não levantamos todas essas questões. Olha que coisa doida! Machismo em nossas entranhas. Confesso que quando soube que era menina fiquei imensamente feliz, pensei o tanto de coisas que poderíamos fazer juntas, como por exemplo, fazer as unhas, coisa que eu sempre adorei fazer com a minha mãe e que há anos não sei muito bem o que é. Começamos a ganhar milhões de coisas rosa. E eu não gosto de rosa. Nunca gostei... acho uma cor tão sem graça, principalmente pra roupa. E em todos os lugares que eu ia me perguntavam se era menino ou menina, e aí eu se eu queria levar o pijama de dinossauro “ah, mas pra menina é esse aqui”.... Essa concepção social do que é ser menina e menino é tão limitante.  

Enfim, decidimos relaxar, maneirar nas frufruzices (até porque né, minimalismo tá aí pra isso), aceitar algumas concepções intrínsecas construídas socialmente do gestar uma menina. Afinal, se ela não se sentir confortável estando dentro de um gênero já estabelecido desde meu ventre, será acolhida da mesma maneira e vamos descobrir uma maneira nossa de viver isso.

E a gente fica aqui na torcida para que ela, como a gente, continue lutando pela igualdade entre os gêneros, pelo respeito coletivo e pela emancipação feminina. Que sofra menos violências cotidianas do que as ancestrais dela sofreram.


Que seja uma semeadora de luz e que respeite as pessoas independentemente do que elas têm entre as pernas.


obs.: meu companheiro deu uma entrevista recentemente para a CBN sobre machismo na educação dos filhos. Quem quiser pode conferir a entrevista a partir dos 37 minutos neste link.

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