quarta-feira, 8 de abril de 2015

A voz como recurso para o parto

“Trabalhar a respiração e cantar podem sim ajudar.Não como técnica que se aprende para controlar,Mas como via de libertação.”
                            Frederick Leboyer - Se me contassem o parto
            
             A voz utilizada no canto e em vocalizações é usada como forma de contato com o divino há milênios. A ciência já conhece os efeitos positivos no humor e na promoção da saúde que tanto o canto quanto a dança podem promover. Mas, para uma sociedade distante de si mesma, o uso da voz no parto pode parecer uma ideia um tanto estranha. Afinal, em nosso país, 25% das mulheres relatam terem sofrido algum tipo de violência durante seus partos, e muitos dos relatos incluem repressões diante de vocalização com abertura de boca ou gemidos. Pois bem, nossos profissionais da assistência hospitalar normativa parecem estar bastante desinformados. 

            Frederick Leboyer, obstetra francês precursor da atenção humanizada ao parto, em suas andanças pela Índia, na década de 60, observou e registrou o uso do Canto Carnático pelas mulheres indianas. O canto carnático é uma vocalização feita com sons ascendentes e descendentes utilizando a respiração abdominal. Ele é feito desde a gestação, no parto e no pós-parto, proporcionando relaxamento para mãe e bebê. As mulheres grávidas na Índia se reúnem desde a gestação para meditar juntas e entoar o canto. O uso da respiração abdominal é muito importante, pois quando nascemos respiramos corretamente, e ao longo do nosso crescimento vamos somando tensões que culminam no esquecimento da respiração abdominal. Aprendendo o canto carnático e utilizando desde os primeiros meses de gestação, vai-se tomando consciência corporal e liberando emoções e tensões presas no diafragma. Além de acalmar a mente, já que é uma técnica meditativa. Você pode conferir mais sobre isso e no filme Nascitá. É incrível na parte 2 perceber como o abdômen da gestante se expande mesmo durante o trabalho de parto.  

            Ina May Gaskin fala sobre a Lei do Esfíncter, que traz a tona o colo do útero como um esfíncter, que se abre e se fecha involuntariamente. Fala ainda sobre como os esfíncteres são tímidos e que não obedecem a ordens. Neste vídeo ela fala sobre como em um trabalho de parto uma mulher passa de 7 cm de dilatação para 4 depois de um toque violento. Há ainda a noção de todos os sentidos estarem aguçados no parto, e a tensão de qualquer pessoa no ambiente ser captada e bloquear a abertura do esfíncter do cérvix.

            Com essa noção do corpo estar interligado fica mais fácil compreender como a voz pode ajudar na abertura do colo do útero, não é mesmo?

            Mas por que a vocalização auxilia no parto? Porque nosso corpo está interligado. Ao abrirmos a boca e as pregas vocais, proporcionamos um relaxamento do períneo e uma abertura dos outros anéis do corpo: ânus, vagina e colo do útero. Ao vocalizarmos, exalamos emoções, relaxamos e liberamos a produção de endorfinas. Um corpo tenso sentirá mais dor. Esse processo auxilia no alívio de dor que a contração pode proporcionar. Se a mulher está com privacidade e liberdade para se expressar, a musculatura tende a estar mais relaxada e a possibilidade de imersão no processo transformador do trabalho de parto acontece de maneira natural.
            Já parou para perceber como a anatomia da vagina parece com a das pregas vocais?

            Como fazer a vocalização? Emissão de sons graves durante as contrações (e/ou fora delas), com a mandíbula relaxada e a boca aberta. Sons graves proporcionam o relaxamento da musculatura. Esses sons podem ser sons guturais, cantos, mantras ou o que a mãe se sentir mais confortável.

           Tem dois vídeos bem interessantes para ver como funciona. Um é esse aqui:

E o outro é esse belíssimo parto utilizando técnica vocal nas contrações:




E aí? Ficou inspirada?

Fontes: 
Livro: Respirar, cantar e dar à luz Frederic Leboyer

Livro: Memoirs of a singing birth – Elena Skoko

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Grupo de Mães Coletivo Maternar em Brasília

Na gravidez do Cauã participei de diversos grupos de gestação e fiz muitas amizades e trocas importantes. Quando ele nasceu, passei um puerpério bem ruim e não encontrei na época um lugar para fazer as trocas com outras mulheres paridas. Foi um período bastante difícil, de transformação profunda e de aprendizado cotidiano. Uma alternância de alegria e tristeza. Coisas para as quais eu não tinha me preparado. Por alguns momentos longos pensei que estava ficando louca, que não ia dar conta... mas não tinha com quem trocar, a não ser meu companheiro, que também não tinha experiência com isso. Depois estudando fiquei bastante aliviada em perceber como é normal vivenciar tudo isso e como nossa sociedade romantiza a maternidade.

Desde essa época tinha imensa vontade de formar um grupo de mães. A ideia foi amadurecendo, fui lendo, me informando, participando de grupos de apoio e finalmente hoje posso anunciar que a ideia tomou forma e parceria com a querida Mônica do Espaço Scintilla e agora proponho um grupo de apoio para Mães em Brasília. Meu objetivo é o de auxiliar as puérperas e mães a se fortalecerem e a tomarem decisões de maneira consciente no exercício do maternar. Para isso, utilizarei uma abordagem holística e com embasamento em autores humanizados da maternidade ativa tais como: Laura Gutman, Alexandre Coimbra, Eleanor Luzes, Michel Odent, Ligia Sena, Andreia Mortensen, Dr  Carlos Gonzalez; além de teorias como a do: Biografia Humana, Ciência do Início da Vida, BLW, Criação com vínculo, Educação para a Paz, Pediatria Radical para citar algumas. 

Será uma construção coletiva, de fortalecimento mútuo, na formação e desenvolvimento de uma rede de apoio essencial para que a jornada se torne mais leve e prazerosa aqui.

Com certeza será uma experiência enriquecedora para todas nós! 
Confira a programação abaixo: