quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A violência nossa de cada dia

Situação 1) O pai pergunta pro filho se ele quer tomar um murro na boca em frente a uma atendente em uma padaria

Situação 2) Uma médica obstetra manda a parturiente em trabalho de parto pegar as coisas e ir embora ao ser questionada sobre os procedimentos que iriam fazer e diz que quem sabe mais é ela, que é médica

Situação 3) Uma pessoa discute com a outra, xingando e dando dedo pela janela do carro, porque a outra entrou na faixa sem dar a seta 

Situação 4) Uma mãe dirige palavras de maneira hostil ao filho, todos os dias. 


Essas são algumas situações vivenciadas por mim nessas duas últimas semanas. Poucas coisas ruins me deixam realmente perplexas como a violência deixa. Já faz algum tempo que eu estava bem triste por testemunhar tantas coisas em tão pouco tempo. Fiquei pensando se elas estiveram sempre ali e eu não as via. Fico bem incomodada quando testemunho violências assim e depois conversas de como a sociedade está violenta e mimimi. Desde quando nos desconectamos do todo? Não fazemos parte desse lugar violento não? E o que temos feito para melhorar a situação? O fato de algumas violências serem tão legitimadas deixa o quadro um pouco mais complexo. Algumas violências simplesmente não são vistas como violência. E não é só por uma pessoa, mas por várias. Veja só, imagina que você acordou de mau humor e se comunica de maneira grosseira com as pessoas. Isso é uma violência. Não só com quem escuta, mas com quem fala também. Se a gente pensar energicamente, o fato de xingarmos alguém no trânsito, por exemplo, joga para o universo uma energia densa e ruim, que provavelmente encontrará força em outras energias da mesma afinidade e que provavelmente resultará em um acontecimento ruim. Quando você grita comigo, a energia não é legal. Quando você me bate, a energia não é legal.     

Depois de ser mãe eu passei a entender melhor o porquê de educar sem violência ser tão fundamental. Faz todo sentido. Eu nunca gostei quando gritavam ou me batiam. Me calava porque era o jeito. Obedecia porque era o jeito. Muitas vezes o que consideravam respeito, era medo. Realmente parece que quando estamos cansados, estressados e desconectados de nós mesmos e do todo, o primeiro ímpeto para uma ação indesejada de nosso filho (ou de quem quer que seja) é o de usar a violência, seja gritando, ameaçando, ignorando, batendo. É um lado feio, mas é um lado que faz parte da gente. A jornada da vida não é fácil, e depois que somos pais e decidimos por uma pa/maternidade ativas, conhecer e refletir sobre os processos do desenvolvimento infantil e sobre o nosso próprio crescimento, produz situações de crescimento coletivo muito mais prazerosas. Viver de maneira consciente e coerente é essencial para mudar o mundo para melhor. Se estamos sendo agressivos com nosso filhos, é hora de olhar para dentro, pois aquela "danação" pode não ter a dimensão que damos a ela ou mesmo pode ser um sintoma de que algo na comunicação não vai bem. Por que essa situação me estressa? O que ele quer me dizer com isso? É preciso ir além. Laura Gutman, diz que a maternidade é o encontro com a própria sombra. Ao invés de fugir dela, vamos abraçá-la e procurar compreendê-la para que não depositemos pedras nas costas de nossos filhos que na verdade são nossas. Uma infância sem violência gerará seres mais comprometidos com o amor e a paz no nosso planeta. Assim não faz mais sentido? Se quer amor, plante amor. Em todos os lugares com todas as pessoas. É um exercício diário! 
Só poderia encerrar com um pedido:


para ler:
Comunicação não violenta - Marshall Rosemberg