sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Fralda de pano, o tanque não te pertence mais

Se ficamos com uma imagem de que fralda de pano é coisa do tempo da vovó e que dá trabalho pra caramba, é porque provavelmente a gente não sabe muito sobre as fraldas de pano modernas. Me lembro como hoje, quando ainda estava grávida e mostrei pra minha mãe as primeiras fraldas de pano que tinha comprado, que tinha demorado um tempão pra escolher as estampas, os modelos... e ela então me disse: você gosta de arrumar trabalho hein? Ela já foi da geração das descartáveis, pra ela tudo muito prático e funcional. Fralda de pano era sinônimo de trabalho a mais. Pois bem, o objetivo desse post é exatamente de falar da minha experiência com as fraldas de pano modernas.

As fraldas de pano modernas são bem diferentes das fraldas de antigamente porque tem uma grande variedade de modelos, materiais e de absorventes e podemos tacar tudo na máquina de lavar (EEEEEE). Aqui vou falar só do basicão, porque podemos ficar horas falando delas. Os modelos nacionais tem elástico caseado que regula tanto a medida da cintura quanto da perninha, o que aumenta muito por quanto tempo que você vai usar. Além disso elas possuem vários botões ou velcros pra ajudar no quadril. 
elástico
Fralda de pano Fralda Madrinha
Basicamente existem três tipos:

  1. a capa: que é tipo uma fralda enxuta, que você coloca o absorvente por cima e fecha)
    Foto fraldasecologicas.art.br
  2. a pocket: que tem um bolso e que você pode inserir o absorvente tanto dentro do bolso e ela ficar como uma descartável (apesar de ser mais prático você suja mais fralda) ou usar o absorvente por cima e fechar como o modelo de capa e ficar trocando só o absorvente
    Foto bebebrasileiro.net
    3. All in one (AIO): são as fraldas que funcionam como as descartáveis, o recheio já vem costurado dentro da fralda, é só tirar e colocar outra. É prático, mas demora bem mais pra secar.
Quanto aos materiais existem vários! As fraldas geralmente são feitas por uma camada de tecido, uma de impermeável (que não impede vazamento pra frente) e outra de tecido. E aí tem de algodão (a mais fresquinha), tem de microsoft/fleece/soft/poliéster que são tecidos sintéticos que deixam a sensação de sempre seca e além disso secam super-rápido, de carvão de bambu...

Quanto ao absorvente temos mais variedade também: atoalhado de algodão, microfibra (que nunca deve ficar em contato direto com a pele do bebê), a fralda cremer de praxe (mas tem uma absorção muito baixa), e o carvão de bambu. Você pode comprar um atoalhado e fazer um recheio bacana, corta e faz o acabamento.

Cada um tem uma preferência e cada bebê se adapta melhor com determinada combinação. Por exemplo, você pode comprar uma pocket de soft e algodão e usar como capa com absorvente de algodão dentro durante o dia e durante a noite fazer uma combinação reforçada de recheio (colocar mais absorventes pra aguentar a maior demanda de xixi) e colocar no bolso pra que o bebê não fique molhado a noite toda, já que o xixi vai passar pela camada de soft e ir direto pro absorvente.

Além disso, na hora de comprar tem que levar em consideração o clima de onde você mora. Aqui em Natal como é muito quente sempre, eu tenho em grande maioria fraldas de pano algodão/soft.

O bebê fica com um volume um pouco maior que o da fralda descartável, mas isso nunca foi problema aqui. Eu particularmente acho muito mais linda a fralda de pano com tantas estampas maravilhosas pra escolher! Eu tive que parar de olhar fraldas na internet porque eu queria comprar todas!

Outra vantagem é que o uso das fraldas de pano evita assaduras e evita o uso de pomada no bebê. Eu não uso pomada no dia-a-dia de trocas. Só se tiver vermelhinho por algum motivo excepcional como quando tá nascendo dente, ou se deixo por tempo demais uma fralda, ou se ele comeu algo que deixou a pele mais sensível... enfim. E quando passa tem que usar pouco, para não impermeabilizar a fralda. As pomadas de assadura geralmente são bem gordurosas...

Por que usar?
Bom, o que me motivou inicialmente era o excesso de lixo produzido e a dificuldade de decomposição das fraldas descartáveis. Depois descobri que a química das fraldas descartáveis ficavam em contato com a pele do bebê e que a maioria deles derivava do petróleo, além de ser muito mais abafado do que as fraldas de pano e o bebê nunca ter a propriocepção de que fez xixi. E depois vi o quanto poderia ser prático também.


É mais caro?

Botando na calculadora, vi que além de tudo as fraldas de pano inicialmente exigiriam um pouco mais de dinheiro, mas que no final das contas saíam muito mais baratas que as descartáveis. Cada fralda de pano nacional sai em média de R$35. Um enxoval bacana pra lavar dia sim e dia não são de 20 fraldas (aqui eu tenho mas uso muito menos em dois dias. Acho bacana investir em recheios. E essa vai ser sua compra... Dá R$700. Já se vamos pra descartável, o gasto é bem maior, imaginando que gasta-se em média 5600 unidades até o desfralde. Eu fui fazendo minhas compras aos poucos, comprava umas duas e esperava desafogar pra comprar o resto. As lojas tem também uns pacotes bem legais que valem muito a pena. Além disso, tem o grupo no facebook que tem fraldas usadas, seminovas, que sai bem mais em conta.

Que marca?

Outro motivo que me incentiva muito a comprar fraldas de pano nacionais é de saber que são mães que trabalham em casa que fazem. Geralmente são mulheres que mudaram de ramo depois da maternidade para ficar mais perto dos filhos. Acho incrível poder incentivar esse tipo de trabalho. Seguindo a linha do consumo consciente, é importante ver que a fralda nacional tem um valor maior que o da internacional por uma série de motivos, e que as marcas nacionais vendem a um preço justo, inclusive algumas utilizam cooperativas de costureiras para fazer algumas peças, então, há de se pensar muito sobre isso. Eu tenho de várias marcas nacionais e só de uma gringa. Sinceramente, acho as nacionais bem melhores. 


Como lavar?

Muito simples. Eu tenho uma caixa de plástica com tampa dessas que se compra em mercado e loja de 1,99. Ao longo do dia vou colocando as fraldas sujas lá e tampo. Quando é xixi coloco direto, quando é cocô, agora que já é um cocô mais durinho eu passo uma ducha higiênica no vaso e o a maioria do cocô sai lá. Geralmente preciso passar uma água no tanque com uma esfregadinha básica sem sabão pra tirar algum restinho, e coloco na caixa também. Por que não usar sabão? Porque o sabão impermeabiliza a fralda, e vai dar um trabalho danado enxaguar mil vezes pra tirar o sabão. Por isso, ao final de dois dias, coloco todas na máquina com um fiozinhoinho de sabão de coco líquido, bicarbonato e muita água no ciclo rápido e enxágue duplo. É preciso mais água do que sabão. Se a fralda ficar com resíduo de sabão, o cheiro vai ficar muito forte quando o bebê fizer xixi. O bicarbonato de sódio eu coloco por ser bactericida e fungicida. Geralmente coloco 1/4 de um copo americano pra meia máquina de 11kg. Uma vez a cada 15 dias uso meio copo de vinagre pra máquina cheia pelo mesmo motivo do bicarbonato. Só não pode misturar bicarbonato + vinagre na máquina hein? E uma vez por mês uso o óleo de melaleuca (tea tree), Uso 10 gotinhas pra meia máquina pra dar uma geral nas fraldas. O óleo de melaleuca é maravilhoso e dá um up nas fraldas, é bactericida, fungicida e tem um cheirinho delicioso. Só não pode usar muito, tá?

Foto clothdiapergeek.com
Acho que é isso o básico! Eu devo ter esquecido de alguma coisa, apesar de ter escrito em três dias esse post. Mas qualquer dúvida falem comigo.
Beijos


sábado, 9 de novembro de 2013

Carta a uma amiga que passa das 40 semanas de gestação

                                                        
A maternidade é uma coisa tão maravilhosa, tão bela e tão transformadora quando a gente permite mergulhar nesse oceano de turbilhões. Na gestação a espera é linda e um pouco solitária. Pelo menos me pareceu pra mim. Assim como você eu também lutei toda a minha gestação para ter um parto natural. Mas parece que encontrar apoio é bem mais difícil do que encontrar histórias macabras de conhecidos sem fim de folclores míticos resultado desse histórico dessa assistência de merda ao parto que temos no Brasil. Infelizmente, a grande maioria das pessoas não entende que é possível parir com dignidade, beleza e respeito onde a gente escolhe parir. Mas aconteceram tantas coisas ao longo da gestação e mais precisamente no finalzinho que me deixaram muito vulnerável emocionalmente. Lhe escrevo porque sei como é: o cansaço do peso, das pernas, o tampão saindo de pouquinho ou de muitinho (mas ele se regenera), uma contração aqui outra acolá... vários sinais de que a hora está chegando, mas ela parece que nunca vai chegar. A vontade de ficar com a barriga pra sempre e a vontade de ver logo nosso bebê fora da barriga. De viver logo aquilo de verdade. Enquanto tá na barriga parece muito teoria e no final a gente quer a prática quer ver o rostinho, a mãozinha... E se não bastasse os turbilhões de emoções que nos invadem por inteiro: um mix de ansiedade, medo, curiosidade e euforia, @ companheir@, a família, os amigos vão perguntando, querendo saber: nasceu? Poxa, sistema filhadaputa esse. Até o bebê tem que nascer logo. Algumas pessoas tem a audácia de cobrar o tempo, como se tivesse prazo de validade. Gravidez não tem prazo de validade. Tem prazo que o bebê quem dá. Seguindo monitorando, escutando, sentindo o bebê, a gente vai seguindo com ele na barriga até ele dizer: pronto, tô pronto. E a hora é dele. E da mãe. E só. Da gente você só quer respeito e paciência e apoio. Tô aqui amiga. Eu mesma vivi uma pressão muito chata quando caminhava pras 42 semanas. Eu não escutei meu corpo, não dei um pé na bunda da obstetra que insistia em procurar uma coisa pra justificar a retirada do meu bebê. E até hoje e sempre vou me perguntar como teria sido se tivesse tido essa sabedoria. O evento do parto é o seu renascer. Viva lindamente esse momento e saia fortalecida desse processo tão maravilhoso e transformador. Se permita se fortalecer nesse finalzinho! Não deixe que roubem esse momento de vocês. Que os espíritos de nossas ancestrais te acompanhem na boa hora e te envolvam de paciencia e coragem para parir linda onde você escolher. O tempo.... é seu.

Cheiro de jasmim.

sábado, 19 de outubro de 2013

Eu sou ativista da humanização do parto

Dei uma sumida, a vida tava uma loucura! Aniversário de um ano seguido de organização da Marcha pela Humanização do Parto! Ambos eventos foram sucesso total! Eba!

Fiz um texto que tá na nota do meu perfil do facebook e gostaria de compartilhar aqui também:

Sou ativista da humanização do parto e do nascimento

Não se trata só de via de nascimento. Não. O buraco é muito mais embaixo do que você imagina (e do que eu imaginava antes de entrar nessa luta também). A gente não quer forçar ninguém a parir naturalmente. A luta pela humanização quer respeito à autonomia e ao protagonismo da mulher na hora de parir, quer que ela tenha privacidade, tenha um pré-natal informativo e de qualidade abordando conteúdos menos objetivos do que altura uterina, pressão arterial e peso. Queremos que os profissionais tenham uma prática baseada em evidências científicas. Simplesmente porque as evidências científicas tem mostrado que o sentido que a assistência ao parto no Brasil vai tomando é um sentido errado que não beneficia nem a mulher e nem o bebê. Quando a gente fala em evidência científica a gente tá falando de um monte de pessoas que dedicam grande parte de seu tempo pesquisando e estudando mais a fundo determinado tema. Não é opinião. É estudo, tempo, análise, conclusão. E a prática não está sendo baseada em evidência científica na assistência ao parto no Brasil. E não está seguindo as diretrizes da Organização Mundial da Saúde e nem do Ministério da Saúde. O que a gente quer é que os profissionais forneçam informações de qualidade para que as gestantes façam suas próprias escolhas. Mas temos encontrado muita resistência por parte dos profissionais em abrir espaço para conversa. Então sempre seguimos o caminho de informar as mulheres. Porque as mulheres podem mudar a realidade da assistência. Exigindo uma nova conduta, questionando velhas práticas, requerendo seus direitos, denunciando violências. Se uma mulher, sabendo que em uma cesárea sem real indicação médica tem um risco de 3x mais complicação materna e 2,5x mais complicação neonatal, que a cesárea eletiva tem sido associada com desconforto respiratório do recém-nascido e com prematuridade iatrogênica, com depressão pós-parto, entre outras coisas e ainda assim ela escolher marcar uma cesárea... que assim seja. Mas acho uma pena que as mulheres encontrem médicos que topem fazer uma cesárea eletiva. E acho lamentável profissionais que se baseiam em motivos ultrapassados (quando não absurdos) para justificar uma cesárea. Cômodo pra quem? Bom pra quem? Se cesárea fosse a via normal de nascimento, acredito que a OMS e o MS não estariam preocupados com o elevadíssimo índice de cesariana no Brasil. E a mortalidade materna não diminuiu, mesmo com o uso massivo de intervenções. Será que precisa disso tudo mesmo pra um evento que acontece o mesmo tanto de tempo que a Humanidade existe? A luta pela humanização do parto é a luta pela escolha informada, pelo empoderamento feminino. Nosso corpo sabe parir, sabe gestar. Nossa luta é para que cada vez mais mulheres saibam que é possível parir com privacidade, com respeito, com autonomia, com liberdade, respeitando a fisiologia do nascimento. Porque é nosso direito parir e do nosso bebê nascer com dignidade. O parto não precisa ser um evento traumático, permeado de dor. Eu acredito que o modo como uma sociedade lida com o nascimento está muito relacionado a outros aspectos, como a criminalidade (já comprovou Michel Odent no livro O camponês e a parteira). Se ¼ das mulheres brasileiras relata ter sofrido algum tipo de violência durante o nascimento dos seus filhos, o que será de nossa sociedade? Nós da humanização do parto queremos enaltecer cada vez mais a beleza do nascimento. O milagre da vida.


Saiba mais sobre a Marcha pela Humanização do Parto e do Nascimento e do Movimento pela Humanização do Parto e do nascimento em Natal



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O Renascimeto (de mim mesma)

Depois de ir à pré-estreia do Renascimento do Parto, em João Pessoa, algumas pessoas me “cobraram” uma resenha sobre o filme, queriam saber como tinha sido a experiência e eu, que falo bem pouco sóquenão (principalmente quando o assunto é parto) resumia dizendo que tinha sido maravilhoso!
De fato, o é. Mas é bem mais que isso. Tem mais de uma semana que vimos o filme, e desde então, sigo digerindo muitas coisas.
Fomos marido, eu e baby ver o filme. Cauã dormiu o filme todo (uma pena que acordou no debate reclamando silêncio). Eu e o marido vivemos intensamente o filme. Nos emocionamos muito.

Não consegui dormir direito na noite depois do filme. Ficava me revirando, repensando, revivendo o nosso não parto. Durante o filme segurei a onda no choro com receio de acordar Cauã. A vontade que deu e que já tinha me dado muitas outras vezes era de voltar no tempo, mandar as médicas que fizeram terror psicológico comigo (“41 semanas com esse líquido? Você precisa ir ver sua obstetra AGORA, é bem preocupante” mesmo com um bem estar fetal) irem pra merda. Não, na verdade eu não iria em médico nenhum. Ia ficar em casa esperando a hora em que ele dissesse que estava pronto. Mas talvez eu não estivesse preparada pra tamanha pressão que é de todos que nos cercam passar das 40 semanas de gestação. Tanto que eu nem tinha coragem de falar direito com minha doula. Eu sabia que ela iria me puxar pra realidade, mas diante do contexto, me aterrorizei, junto com marido e mãe, diante da possibilidade de causar sofrimento ao meu filho (hoje com a informação que tenho, sei que estava tudo bem e que poderíamos seguir monitorando o bebê). É isso, me senti refém. E o que eu vinha lidando desde o nascimento em doses homeopáticas veio muito em uma dose única depois de ver o filme.

Lembro que depois que Cauã nasceu, eu passei algum tempo sem crer na humanidade. O mundo me pareceu por algum tempo um lugar muito hostil. Simplesmente me parecia impossível tamanha frieza diante de um ato como o nascimento, tamanha violência com a mãe e bebê separá-los, fazer procedimentos sem questionar, dentre outras coisas que vivenciei. Flashes vinham e iam na minha mente da tremedeira do pós-cirúrgico, do abandono na sala de recuperação, das mãos amarradas, de terem dado leite artificial quando pedimos que não o fizessem, da incapacidade de me dedicar à minha cria como queria, do silêncio da obstetra ao testemunhar a grosseria do anestesista comigo e com meu marido, da técnica em enfermagem mexendo na minha virilha espremendo pêlo encravado sem me perguntar... Em meio a tantas coisas ruins, me veio o cheiro, a textura da pele do meu bebê, do meu rosto esfregando o dele por microsegundos, do choro que se interrompeu quando ele escutou minha voz, do olhar que ele me deu pela primeira vez. Ver as cenas das mulheres parindo seus bebês de maneira tão respeitosa me reacendeu mais ainda a fé na humanidade. Depois de algum tempo vivendo o luto do nosso não parto, comecei o Movimentopela Humanização do Parto e do Nascimento em Natal junto de outras mulheres que também foram violentada durante o nascimento de seus filhos. Simplesmente eu não poderia silenciar diante dessa realidade violenta. E esse Movimento foi me alimentando de esperança em mudanças possíveis.

Entender como o modelo de assistência é perverso com as mães e bebês me ajudou a entender o nascimento do meu filho. E esse filme é tão poderosa ferramenta de mudança de consciência que eu me pego pensando em como vai ser lindo quando as sementes por ele plantadas encherem bosques. As pessoas podem até não sair modificadas imediatamente após assistir. Mas que elas devem passar algum tempo digerindo o que viram, repensando condutas e pensamentos.... ah vão! E quem disser que passou imune por esse filme eu desconfio de tamanha insensibilidade. Não estou falando só para as gestantes ou mães ou wannabe mães. O Renascimento é pra todo mundo, afinal, se trata da sensibilidade da Humanidade.

Eu posso dizer que saí muito mais forte do que entrei naquele cinema. Mais forte pra peitar os profissionais contrários à humanização, pra lutar pelas e com as mulheres pelo respeito que nos é direito, pra lutar para que bebês sejam respeitados e para que o sofrimento de ninguém seja naturalizado e silenciado. Mais forte pra viver o meu parto. Sou eternamente agradecida aos criadores pela possibilidade de vi(ver) algo tão lindo.

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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Baby Led Weaning (BLW) = DEIXA O BEBÊ COMER!

Você conhece o BLW? Quando Cauã ia começar a introdução alimentar, comecei a pesquisar sobre isso. Encontrei o BLW e confesso que não o utilizei desde o início. Bom, eu realmente cheguei a fazer algumas brincadeiras nesse meio tempo com exploração sensorial com comida, como essa aqui aos 7 meses.


Ele simplesmente adorava explorar os alimentos, e eu adorava ver ele fazendo aquilo, mas hoje vejo que não tinha entendido a proposta do BLW direito, como entendo agora. A introdução alimentar de Cauã foi muito conduzida pelo que a pediatra dizia, por insegurança minha. A medida que fui adquirindo maior confiança nos meus conhecimentos adquiridos por estudo e observações com Cauã, fui explorando mais os alimentos. Inicialmente, especialmente no primeiro mês de introdução, amassava beeeeeeeeeeeeeeeeeeem os alimentos no garfo. BEM mesmo. E Cauã não comia quase nada. Depois de um mês fui perceber o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) dizem: alimentação complementar. Oras, se é complementar, ela não é o principal, certo? Certíssimo. Comecei a desencanar da quantidade e fui me preocupando com que ele tivesse prazer em comer. Inicialmente utilizei o Método Montessori, com copo de vidro, tigela de vidro e colher real (Uso até hoje). Pode me chamar de louca, mas eu li relatos e vi esse vídeo em particular que me encorajaram bastante. De 6 ele quebrou 5 copos de vidro. Comprei desses de cachaça, sabe? Bom, hoje com 10 meses ele não joga mais no chão, pois já sabe que quebra e que não é legal. Com 8 meses ele começou a tentar a colocar a colher na própria boca. Mas eu ainda não sentia que ele achava legal comer. E eu queria que fosse uma experiência prazerosa pra ele... Bom, não sei se foi por ser mãe de primeira viagem, mas apenas com 9 meses e meio é que consegui ver Cauã curtindo suas refeições de verdade. Eu digo de verdade porque finalmente conseguimos almoçar eu, meu marido e ele ao mesmo tempo sem ele reclamar. Isso aconteceu depois que aprofundei meus conhecimentos quanto ao BLW e resolvi colocar em prática. Antes dos 9 meses e meio eu fazia uma espécie de BLW sem a adaptação do alimento e eu dando o alimento (apesar de dar uma colher pra ele também, que obviamente ia parar no chão). Duuurrr! Por isso que dava errado provavelmente. A consistência era muito amassada e úmida e tudo misturado. Não tinha nem uma variedade de cor, coitado! Mas o que importa é que nas minhas tentativas e erros eu aprendi! YES! o/\o e hoje todos comemos com muito prazer! E devo dizer que Cauã come bem mais também.

Como é esse BLW?
O BLW é simples. É deixar o bebê comer sozinho, a partir dos 6 meses de idade, conforme as diretrizes da OMS. Você obviamente precisa deixar a comida adaptada ao bebê, mas não em forma de purê. Por exemplo, uma batata deve ser previamente cozida (no vapor de preferência) e fatiada de maneira que o bebê consiga pegar o alimento segurando com a mão e colocar na boca. Olha o que almoçamos hoje: couve flor com tofu picadinho com couve, batata doce, arroz integral, feijão com abóbora. Essa é a foto do prato do Cauã! Ele comeu um bocado! 

O bebê não engasga?
É importante seguir as dicas de segurança, como a maneira que você oferece o alimento para o bebê. Por exemplo, eu jamais ofereço espinafre, couve “soltos”. Eles estão sempre bem picadinhos em alguma coisa do prato (como em um tofu, ou no arroz), pois o bebê ainda não os dentes molares (os posteriores) para triturar esses alimentos.  Aqui as regras retiradas do grupo de BLW do facebook – por Érika Tavares:
Mantenha o seu bebê seguro:
  • Verifique se ele está sentado ao comer. O bebê deve sempre estar em posição vertical; NUNCA deitado. O alimento pode ir para o fundo da boca e o bebê pode não ter habilidade para movê-lo com a língua, resultando em engasgo.
  • Não dar nozes/castanhas/amendoins inteiros.
  • Os frutos pequeninos, como azeitonas, cerejas, acerola, jabuticabas, etc, devem ser cortados ao meio e retiradas as sementes.
  • Não deixe que ninguém, exceto seu bebê, coloque comida em sua boca.
  • Explique como funciona o BLW para todas as outras pessoas que cuidam do seu bebê.
  • NUNCA deixe seu bebê sozinho com os alimentos

Por que o BLW é uma boa opção?
Bom, além de propiciar uma variedade muito maior de exploração sensorial, devido às texturas, cores, formas, o BLW também faz com que a criança use mais os órgãos fonoarticulatórios (lábios, língua, dentes, bochechas) e a musculatura facial, o que colabora para o correto desenvolvimento craniofacial (aliado à amamentação então, é supimpa!). Além disso tudo, com o bebê guiando, ele sabe quando está satisfeito. Com papas provavelmente acontece uma ingestão de uma quantidade maior, por ser fácil de “entrar” é mais rápido do que o comando de satisfação que o cérebro manda.

Que mais?
Bom, uma coisa eu devo dizer. Se criança feliz é criança suja com certeza há felicidade no BLW. Aqui utilizamos o cadeirão de alimentação, e ele fica assim ó:


Já teve vez de alguém comer pelas orelhas!


E há sempre uma parceria do crime cachorro+bebê+comida
    


Quer saber mais? Indico:
Grupo de BLW no facebook
Site do BLW (em inglês)
Vídeo do Dr. Carlos Gonzalez sobre alimentação complementar

Por fim, deixo uma poesia da Fabíolla, que escreve no Alimento e Comportamento:
BLW é nada.
É só observação.
É deixar o dia que a cria vai comer acontecer.
É ter comida boa à mesa e a cria ter braço comprido para alcançar a vida nova alimentar.
Apetite infantil é família que come com gosto.
É não pressa, é respeito, é paciência e observação.
Pode acontecer a qualquer hora.
Não tem hora certa para acontecer.
Com 6 meses, com 9 meses, com 12 meses, cada um no seu tempo re-conhecendo o mundo novo, novo mundo.
Autonomia e diversão.
Comer sozinho sob supervisão.
Comer com as mãos, com os dedos, com os olhos e com o coração.
Não precisa de papinhas, só precisa de atenção.
No seu prato pedacinhos e aventura e comida lúdica.
Comer é brincar e nada mastigar.
Comer é mastigar brincando.
Comer é estar junto e compartilhar.
Importante atentar: comer é diversão.
Não é trapaça, não é chantagem, nem barganha, nem punição.
Não é também pressão.
É respeito e tempo.
Tempo de cada um crescer a seu tempo e se ver crescendo em interesse sem fim pela vida toda, por tudo dessa vida.
Comida, interesse e prazer.





terça-feira, 6 de agosto de 2013

Meu relato de amamentação

Mamando e recebendo cheiro!
Ainda na gravidez eu já tinha decidido que ia amamentar. Cada vez que eu procurava me informar, mais certeza eu tinha da minha escolha. No nascimento propriamente dito, no centro cirúrgico a pediatra colocou ele 5 segundos no meu peito e já disse que não ia dar certo porque meu bico do peito era plano. Como você sabe, eu passei por uma cesárea desnecessária, além de outras violências obstétricas durante o nascimento do meu filho. Lembro do meu marido saindo acompanhando a pediatra e eu lembrando ele: não deixe darem leite artificial (LA)! Não deixe! E ele afirmou com a cabeça. Quando chegamos no quarto, perguntei pro meu marido se tinham dado LA. Ele disse que pediu para não dar, mas o profissional que receptou ele disse que teria que dar porque era protocolo de rotina do hospital. (Um protocolo bem atrasado, diga-se de passagem). Enfim, fiquei muito mais triste e me senti muito mais violentada. Não respeitaram nenhuma das nossas vontades... Mas tudo bem, na manhã seguinte eu acordaria e daria de mamar. Durante a madrugada, uma técnica em enfermagem veio e deu LA. Eu estava dormindo, fiquei sabendo depois. Bom, chegou o dia em que levantei, ninguém veio me ajudar com a amamentação. Levaram ele para dar banho e quando ele voltou eu perguntei e disseram que tinham dado LA de novo. Fiquei muito mais triste. Bom, na hora do almoço que eu já tinha me levantado, quando a moça do berçário veio com sua caixinha de LA eu disse pra ela: Vamos fazer assim? Você me ajuda com a amamentação e se não der certo você dá LA pra ele. Ela disse: ok. Me ajudou, colocou ele no peito e ele mamou lindo. Meus olhos encheram d'água. Fiquei sentindo a maior plenitude da minha vida ao olhar praquele ser lindo sugando o que há de melhor em mim! Depois chamei umas mil vezes alguém do berçário pra me ajudar. Toda vida que ele tinha que começar a mamar, eu precisava de ajuda para entender como era a pega e tal. O problema (hoje que eu sei) é que elas vinham, colocavam ele no peito e iam embora. Elas não me ensinaram mesmo. Bom, chegou o dia de alta, fomos para casa e aí começou os 15 dias mais esquisitos da minha vida! Eu simplesmente não conseguia colocar ele no peito sozinha. Ele tinha dificuldade em abocanhar a auréola e eu achava que o problema era o bico do peito. Chamei minha doula inúmeras vezes, que é também consultora em lactação e fonoaudióloga, e ela me ajudou pra caramba! Mas o problema persistia... Comecei a ter fissuras horríveis no peito! Doía tanto para amamentar! Mas para mim não tinha outra opção. Eu não ia desistir. Cheguei a colocar toalha na boca para morder quando ele dava as primeiras sugadas, de tanta dor que a pega incorreta dava. Um dos peitos chegou a sangrar. Algumas vezes pensei em dar logo o NAM, mas logo isso passava. Lembrava dos relatos de amigas e de outras mães dizendo que amamentar não era tão fácil para algumas mulheres... Comprei um bico de silicone pra ver se ajudava. Pensei que talvez fosse a falta de bico que estivesse dificultando. Pareceu ajudar no primeiro tempo, mas as fissuras continuavam. Quando Cauã pegava direito no peito, mesmo com o mamilo machucado, eu não sentia dor. O problema era que não conseguia acertar a pega sozinha, me desesperava com o choro dele, e minhas inseguranças vinham à tona. Ele sentia meu medo de não conseguir. Fiquei sem usar sutiã, deixando o peito respirar bem. Ordenhava leite e deixava estocado para dar para ele no copinho quando não conseguia dar o peito. Até que fomos no banco de leite para fazer o cadastramento de doadora de leite. Lá pedi ajuda, mostrei as fissuras, as bolhas de sangue... E aí eu encontrei uma senhora simples, do interior. Mandou logo eu tirar o bico de silicone, disse que não tinha necessidade. Disse que meu bico do peito não tinha nenhum problema. Me colocou numa sala e lá me deixou a vontade. Disse para eu ficar lá o tempo que fosse e chamar ela quantas vezes fosse necessário. Ela me mostrou como tinha que ficar a boca dele no peito e ela saiu. E aí fiquei lá nessa sala. Chamei ela umas duas vezes. Perguntei como era mesmo a posição do braço? Da boca? Do peito? Aí ela disse algo que foi fundamental para o sucesso da amamentação: esquece a técnica. Bebês choram. Não se desespere. É a única maneira que ele tem de falar pra você o que ele quer. Se você se desesperar, ele vai sentir. Veja qual a melhor posição pra você, não fique presa a posições. E aí foi quando tudo aconteceu. A partir daquele momento ali na sala, por tentativa e erro, eu fui construindo minha confiança em vários aspectos e me comunicando com meu filho. Lá eu chorei um bocado ao ver que tinha conseguido sozinha. Foi incrível. Depois desse dia tiramos de letra! Larguei a almofada de amamentação pra lá e fui seguindo minha intuição. Foi assim, com a ajuda de várias pessoas e principalmente com o apoio do meu marido, que me incentivou, deu a mão pra eu apertar quando sentia dor, e com o amparo da família que conseguimos estabelecer uma amamentação prazerosa! Hoje estamos com quase 10 meses de amamentação, sendo 6 desses com amamentação exclusiva. Em todas as posições! =)

Para mim hoje percebo como amamentar é se doar. Tenho profunda admiração por essa entrega, essa conexão, essa troca de amor com tanta pureza e beleza!


Esse relato foi para comemorar a Semana Mundial da Amamentação 2013! O tema não podia ser melhor: Apoio próximo, contínuo e oportuno! Ou seja, um apoio de qualidade, um apoio acolhedor e sensível à realidade de cada mãe! 

Mamíferas unidas!

terça-feira, 30 de julho de 2013

Renascer é preciso

No mês de agosto terá o lançamento do aguardadíssimo filme O Renascimento do Parto. Me lembro como hoje quando, ainda grávida, assisti ao teaser do filme. Naquela época os organizadores ainda estavam procurando maneiras de viabilizar o lançamento sem ficar sem ter o que comer. No início desse ano as coisas caminharam muito bem com a realização de uma vaquinha coletiva pra finalizar o filme e fazer o lançamento. Esse é um filme que estará em circulação com mão do coletivo de pessoas que acreditam na importância que esse filme tem para o cenário atual da assistência ao parto e ao nascimento. Por que essa importância?

O Brasil tem índices altíssimos de cesárea. Muito distante do que preconiza a Organização Mundial da Saúde. Esse problema já está em evidência e o Ministério da Saúde tem desenvolvido ações que estimulem o parto normal. A questão é que não se trata só de via de parto. Quando se fala de parto, uma série de outras coisas está envolvida. Por que há esse mito em torno do parto normal? De onde vem tamanha desinformação dos profissionais envolvidos com o nascimento e das gestantes com suas cesáreas agendadas? E as indicações fictícias de cesárea? E a violência obstétrica? Puxa! São tantas questões a serem elucidadas... Várias pesquisas vem sendo desenvolvidas por todo o Brasil para evidenciar a falha grave que temos na assistência ao parto e ao nascimento em nosso país.

Michel Odent, em seu livro O Camponês e a Parteira: uma alternativa à industrialização da agricultura e do parto, relata diversas pesquisas que associam a industrialização da vida com aumento da criminalidade. A industrialização da vida trouxe uma série de intervenções desnecessárias ao processo fisiológico do parto, como a introdução de fármacos, procedimentos invasivos, posições não verticalizadas para a comodidade do médico, dentre outras. O pré-natal, um momento para ser de construção, de preparação, de informação; se torna na industrialização uma procura por algo errado que receberá um rótulo que fará com que a gestante passe a ser uma enferma. No nosso país, 25% das mulheres dizem terem sofrido algum tipo de violência obstétrica durante seus partos. Esses dados foram encontrados nessa pesquisa de 2012. O parto humanizado (re)surge nesse contexto para trazer o respeito a autonomia da mulher, o respeito ao parto fisiológico, sem intervenções que atrapalhem o seu desenvolvimento, que acolha a parturiente e seu bebê. No livro do Leboyer, Nascer Sorrindo, há uma longa reflexão a ser feita ao enxergar o nascimento do ponto de vista do bebê. As contrações avisam ao bebê que algo irá acontecer. Ele se prepara para aquele momento. Já pensou em retirá-lo do útero sem nenhum tipo de aviso? As pesquisas mostram que cesáreas desnecessárias possibilitam maior probabilidade de complicações maternas e neonatais, além de dificultar o estabelecimento da amamentação. As cesáreas eletivas tem sido associadas com o aumento da prematuridade e do desconforto respiratório dos recém-nascidos.

Enquanto isso, discute-se a redução da maioridade penal. Michel Odent diz que “a criminalidade juvenil pode ser vista como uma deficiência em amar o outro”. Será que não está na hora de repensarmos e fazermos algo para mudar o modo do nascer no Brasil? Países com baixos índices de criminalidade são os países com as menores taxas de violência obstétrica. Será que isso é mero acaso? Será que o fato do surgimento da anestesia no parto dos bebês que foram os adultos da geração dos anos 60 não está relacionada a busca incessante dessa mesma geração em se anestesiar com drogas? Eu concordo com Michel Odent. Eu não acredito em acaso. Há uma forte relação entre esses índices.

É preciso informar as pessoas sobre a possibilidade de um parto respeitoso.
É preciso informar às pessoas que o parto normal é melhor pra mãe e bebê.
É preciso informar.
É preciso renascer.


O Renascimento do Parto no Facebook




quinta-feira, 18 de julho de 2013

Considerações sobre a estação do desenvolvimento motor

Recebi algumas perguntas e sugestões quanto ao brinquedo que fiz e achei importante registrar o que me foi colocado, por desencargo de consciência :)

- Observar se a parte debaixo da madeira está plana. Quando eu furei a madeira para colocar os pregos, eu passei um pouco da conta e furei até o chão (risos), mas tomei o cuidado de não deixar nenhum parafuso passar por debaixo da madeira. Assim, caso Cauã conseguisse virar, não se machucaria.

- As bordas da madeira devem ser arredondadas ou lixadas. Eu não fiz isso na minha madeira porque não achei necessário. Eu só ofereço esse brinquedo quando estou observando, não deixo ele sozinho com ele... Mas, caso queira, é importante livrar qualquer possibilidade de arranhões e machucados das quinas da madeira.

- Cuidados ao escolher o que pregar. Na hora de escolher o que pregar, levei em consideração os movimentos a serem feitos, a segurança do que ia ser pregado, a viabilidade de pregar na madeira (por exemplo, fechaduras eu não conseguiria pregar porque precisaria cortar a madeira, ou usar uma madeira mais funda). Nenhum dos materiais que escolhi oferecem perigo de cortes ou arranhões. A quina da dobradiça é a que eu acho que poderia oferecer maior risco, mas tenho o cuidado de observar bem quando ele vai utilizá-la. 

- Fazer a atividade com a presença de um adulto. Como eu disse anteriormente, sempre ofereço esse material quando posso observar o uso que meu filho faz dele. Assim, qualquer movimento mais grosseiro que possa vir a causar algum machucado, eu interrompo explicando o porque de não poder fazer aquilo. Até agora não tivemos nenhum problema com a estação. 

Será que esqueci de algo? Espero que não!
Se você lembrar coloca aí nos comentários pra compartilhar!

Beijos

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Estação do desenvolvimento motor: brincando e aprendendo

Desde quando me vi sozinha com Cauã, quando ele era bem pequenino mesmo, eu já pensava em todas as brincadeiras que queria fazer com ele. Já falei de uma aqui, lembra? Então, eu sou absolutamente fascinada por esse universo do brincar, do descobrir. Amo ficar observando Cauã explorar as coisas. Desde cedo, a gente percebeu que ele tinha um choro de tédio. Ele chorava e a gente entendia o que ele queria dizer: tá chato, vamos fazer algo mais legal? Isso me instigou cada vez mais a fazer brincadeiras novas, a propor novos desafios. Fui fazendo algumas que eu criava, outras (a grande maioria delas) encontrava (e ainda encontro) com muita pesquisa na internet nessa maravilhosa blogosfera materna... Mas onde eu sempre encontro brincadeiras maravilhosas mesmo que é fonte certa de brincadeiras inteligentes é no grupo Montessori para Mamães e no site How We Montessori (em inglês).
 
Através da brincadeira/atividade (como queira chamar) que a criança aprende, né? Então, observando Cauã percebi que ele estava querendo abrir e fechar tudo: gaveta, porta, livro, tapete, interruptor... Então comecei a matutar o que poderia desenvolver. Comecei a pensar em uma caixa com uma porta, mas me pareceu um pouco óbvio demais. Então fui na fonte do grupo de Montessori e achei exatamente o que eu queria! Aí fui, tirei uma prateleira de um armário que tá encostado e furei com a furadeira essas coisas aqui embaixo que comprei em loja de material de construção.
 
 
Nesse espaço que tá sem nada eu tinha planejado colocar uma daquelas fechaduras que tem uma corrente, sabe? Mas não encontrei aqui perto de casa, então deixei o espaço para prender quando encontrar! Essa é uma estação de desenvolvimento motor. Tem vários tipos de movimentos que são realizados em cada um dos objetos. Deslizar, apertar, empurrar, puxar. Nessa tomada do meio eu coloquei um adaptador que tinha aqui em casa pra fazer o encaixe.
 

 
Cauã adorou! E eu também adorei fazer! Ele ficou um tempo passando a mão e tentando arrancar as coisas e depois começou a explorar outros movimentos! Acredito que com o passar do tempo vai ficar cada vez mais legal de acordo com o aprimoramento das habilidades motoras.

 
Gostou? Tem alguma dica? Fala pra gente! :)
 
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Terrible 8? O dia em que cogitamos cogitar dar chupeta

Eu já ouvi falar do abominável terrible 2! Muita gente já relatou que o filho mudou completamente, ficou reclamão, respondão, birrento, cheio de manha! Alguns dizem que parece que o filho foi embora e botaram alguém muito do chato no lugar! Ainda não li muita coisa a respeito disso, mas já sei mais ou menos o que esperar daqui a um ano. Enquanto Cauã está com 8 meses eu aproveito para curtir essa fase mais gostosa e fazer descobertas com ele. Então a vida seguia tranquilamente com meu bebê lindo, sorridente, brincalhão, carinhoso quando de repente SOCORRO! Ele passou a dormir menos, comer menos, mamar mais, querer colo o tempo inteiro (mais especificamente o meu colo), reclamar o tempo todo. Nada parecia estar bom! Entramos em parafuso aqui em casa! Não entendíamos mais nada!
Se antes ele ia dormir às 19h e acordava às 6h, ele passou a ir dormir às 21h e acordar às 6h. A soneca da manhã sumiu. A da tarde ficou menor. Passava quase o tempo inteiro fazendo um barulho de reclamação pra lá de irritante! Parava por alguns minutos quando dava peito ou quando pegava no colo ou quando inventava uma brincadeira nova. De repente só o meu colo resolvia. Era tanto isso que eu não conseguia ir fazer xixi sem ouvir um choro de lamento por ter ido pro chão ou pro colo do pai. Ou, quando estávamos sozinhos, tinha que carregar ele no colo pra fazer xixi comigo (Quem nunca?). O pai ficou sentido, achando que ele não gostava mais dele. Eu fiquei meio doida, sem tempo pra nada enquanto ele estivesse acordado. Ele simplesmente não ficava sozinho. Eu e meu marido nos perguntávamos: será que ele tá mimado? viciado em colo? será que é por isso que os pais dão chupeta pros seus filhos? Será que isso nunca vai ter fim? Isso é um teste de paciência? - E aí surgiu a pergunta que evidenciou que estávamos no caminho errado das perguntas: Vamos comprar uma chupeta?
OI?
É que a gente desde quando Cauã estava na barriga tínhamos combinado de não dar chupeta. Pelos mais diversos motivos que podem existir: o uso de bico artificial estar correlacionado com o fenômeno de confusão de bicos, interferir no mau desenvolvimento craniofacial e no desenvolvimento da fala, o uso de chupeta na verdade ser um "cala a boca" pra criança... enfim. Sabíamos que o uso da chupeta era conveniente para os pais e só pra eles. (Quer saber mais sobre os malefícios da chupeta? Leia aqui )
Para mim nunca foi uma opção dar chupeta. Mas por um milésimo de segundo, eu cogitei a possibilidade. Mas depois não. Depois nós fomos ter uma DR sobre essa mudança repentina, tentamos buscar o racional em algum lugar onde eu tinha deixado também um pouco mais de paciência e lembrei na hora que ele deveria estar passando por um baita de um pico de crescimento. Fui atrás de um artigo maravilho que tenho impresso da Dra. Andréia Mortensen sobre isso e PÁ! Achei a descrição exata de como Cauã vinha se comportando!
"- 37 semanas (8 meses e meio): o bebê fica ‘temperamental’, tem mudanças frequentes em seu humor, de alegre para agressivo e vice-versa, ou de exageradamente amoroso para ataques de raiva em questão de momentos. Chora com mais frequência. Quer ter mais atividades e protesta se não as tem! Não quer que troquem sua fralda, chupa seus dedos. Protesta quando o contato corporal é interrompido. Dorme menos, tem menos apetite, movimenta-se menos e “fala” menos. Às vezes senta-se quieto e sonha acordado. O bebê agora começa a explorar as coisas de uma forma mais metódica. Passa a entender que as coisas podem ser classificadas, por exemplo, sabe o que é comida e o que é animal, seja ao vivo ou em um livro. Fala "mamá" e"papá" sem distinção de quem é a mãe ou o pai. Engatinha, aponta objetos, procura objetos escondidos, usa o polegar e dedo indicador para segurar objetos."  (Trecho retirado do artigo Fases de crescimento e desenvolvimento que modificam o padrão de sono do bebê e da criança da Dra. Andréia Mortensen)
 
 Poxa, me senti um pouco "menos", o pai também. Como esquecemos de pensar o lado dele?  Quanta falta de sensibilidade nossa, poxa! Então tudo começou a fazer sentido. Ao tentar enxergar o lado dele, nos tornamos mais sensíveis ao turbilhão que ele vinha passando. Sabíamos que era uma fase que ia passar e que ele precisava do nosso apoio, atenção e carinho. De repente viramos um poço de paciência e de maior cumplicidade com nosso bebê em pleno pico de crescimento! :)
Como já dizia Montessori: Siga sua criança.
Elas realmente dão os sinais e nós temos o dever de ter mais compaixão e compreensão com o que as crianças nos mostram através de todos os meios que elas tiverem para usar.
 
 
 

domingo, 16 de junho de 2013

De volta com inquietações!

Poxa! Andei passando por umas crises existenciais e muitas mudanças na vida acontecem quando a gente repensa as coisas, né? Tinha um monte de coisa que eu queria escrever por aqui, mas estava um pouco em dúvida na continuidade do coletivo. Por fim percebi o quanto gosto de escrever aqui, o quanto gosto de trocar experiências com outras mães e o quanto a blogosfera materna já me ajudou um bocado! Então, hoje, publico um texto que eu escrevi em meio às inquietações e que ora ora não é sobre... inquietações! :)

Eu sempre fui uma pessoa inquieta. Não consigo ficar parada. Tudo bem que essa inquietação toda hora, pode debandar pra um lado ruim, mas não é essa inquietação que eu falo. É a inquietação que o movimento gera. A inquietação contrária à ociosidade. A inquietação que instiga a procura, a ação. Ela não está relacionada à velocidade. Afinal, pode-se agir na velocidade que lhe é peculiar. Também não está relacionada à uma diarreia de pensamentos. Quer dizer, nem sempre. O ócio me parece um puta desperdício. Desperdício de vida, de energia. Não entendo como algumas pessoas deixam a vida passar, e não passam por ela. Caramba! Sabe-se lá até quando temos tempo pra fazer o que queremos, pra mudar o disco, pra construir ou reconstruir. Me peguei pensando em umas dessas inquietações. Que triste passar a vida justificando o não ato e acabar vivendo o não vivido. Já pensou? Que coisa doida. Viver o não vivido. Um tanto quanto contraditório e ainda assim uma realidade nas vidas. Minha gente! Como pode? Sabendo que não se sabe aonde tá a linha de chegada, o que se faz? Deixa de correr? E faz o que? Senta e vê os outros correrem? E de onde se está, será que dá pra ver qual a sensação de quem chegou, fez, correu? Não. Fica só na imaginação. Ah, poderia correr se a linha estivesse lá. E se estivesse lá diria que correria se não houvesse sol. E se não houvesse sol? Aí acharia uma não tão boa desculpa pra justificar a inércia. A não ação. Adiando uma vida que uma hora vai ter que ser vivida.
A vida às vezes me parece bolhas de sabão, a qualquer momento elas podem explodir e se acabar! :)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Coletivo Entrevista: mãe vegana!

Recentemente estava assistindo ao Globo Rural (?) e estava passando uma reportagem sobre como aumentar a produtividade do leite da vaca. Fiquei um tanto horrorizada ao saber que injetavam ocitocina e a vaca ficava com um sugador na teta para estimular a produção de leite. Fiquei passada. Eu nunca gostei muito de leite, mas tomava porque tinha que tomar. Daí fiquei um pouco intrigada com essa realidade. Foi então que parei pra pensar em uma série de coisas e fiquei bem interessada em saber como era o processo de nutrição de uma vegana na gravidez/amamentação e como seria a introdução alimentar vegana e quais alimentos poderiam substituir os tão conhecidos leite como fonte de cálcio e a carne como fonte de proteína.
E foi assim que esbarrei com a Leide, professora de Inglês e de Português, mãe do Angelo, que tem 7 anos e do Miguel, de 4 anos. Ela é vegana e seus filhos também!
Ficou curios@
Leide e sua família !
? Óia:



1) Há quanto tempo você é vegana?
            Me tornei Lacto-vegetariana a 11 anos, sou vegana há 8 anos.
2) O que é ser vegana pra você?
            Ser vegana pra mim é me alimentar com consciência sobre os sentimentos dos animais, sobre o impacto que minha alimentação pode trazer ao meio ambiente e ao nosso planeta de uma forma geral.
3) Por que você se tornou vegana?
            Não sei dizer exatamente como me tornei vegana. O processo foi natural e gradativo, eu já estava envolvida em causas dos direito dos animais, já tinha consciência do que acontecia nos batedouros e aos poucos deixei o leite de vaca para trás.

Gestação e Amamentação
4) Quando eu fazia pré-natal, os médicos sempre falavam para que eu comesse proteína porque era importante pra formação do bebê. Durante a gestação, o profissional de saúde que te acompanhou soube que você era vegana? O que disseram pra você?
            Eu tive a sorte de encontrar obstetras que entendiam a minha escolha, eles diziam que eu tinha que ingerir proteínas e muito cálcio para que o bebê se formasse sem defeitos e tudo mais, mas nunca disseram para eu comer carne ou tomar leite. Só houve uma situação em que uma nutricionista quase me bateu (sem exageros), quando já com 6 meses de gestação, da minha segunda gravidez, a procurei para poder montar um cardápio variado e sem alguns alimentos que me causavam muito enjoo. Quando disse que era vegana, ela me acusou de ser extremista, de estar maltratando o bebê que estava na minha barriga e que ele nasceria pequeno e desnutrido. Daí disse a ela que aquela não era a minha primeira gravidez e que não comi carne durante a gestação anterior e que meu filho nasceu normal e era saudável. Foi uma situação no mínimo constrangedora.
5) Você teve anemia durante a gestação ou na amamentação?
            Não, eu tive duas gestações muito saudáveis e sem problemas com ferro.
6) Onde está a proteína na sua alimentação?
            Como muita proteína de soja, glúten, castanhas, leites de castanhas e vegetais ricos em proteínas.
7) Você toma algum suplemento vitamínico?
            Não. Já tomei nos 3 primeiros meses de gestação, durante a amamentação e hoje em dia não tomo mais.
8) Você amamentou seus filhos até que idade?
            Meu primeiro filho amamentei até 1 ano e 11 meses de idade e o segundo até 1 ano e 9 meses de idade.
9) Muitas pessoas acreditam que a pessoa que não come nenhum tipo de carne é fraca. Se disser que a pessoa é vegana, acreditam que a pessoa é mais fraca ainda. Por que você acha que existe essa associação de ingestão de carne/leite com ser saudável/forte?
            Acredito que essa seja uma associação comumente feita com base em crenças pessoais e populares, enfim, um embasamento mais cultural do que científico, digamos assim. A carne foi e ainda é relacionada a poder aquisitivo e força física. A pessoa que come carne fica mais forte para trabalhar, a mulher que come carne durante a gestação terá filhos mais fortes entre outras crenças relacionadas à ingestão de proteína animal.

Introduzindo comida para o bebê
10) Como você começou a introduzir comida pro seu filho? Quais os alimentos que você adicionou à dieta de acordo com a idade?
            Meus filhos começaram a se alimentar com 6 meses de idade. Para ambos apresentei primeiro frutas amassadinhas, raspadinhas e sucos. Tudo sem adição de açúcar. Pouco tempo depois, duas semanas depois de introduzir outras comidas a alimentação deles, comecei a dar papinhas de legumes e verduras, todas sem temperos e com pouquíssimo sal, já que a maioria dos bebês rejeitam papinhas salgadas. Nunca dei papinhas prontas ou sucos industrializados até os 2 anos de idade. Refrigerantes entre outras guloseimas só foram dadas com mais de 3 anos de idade.
11) Na apostila “Dez passos para crianças brasileiras menores de dois anos” do Ministério da Saúde, há a indicação de “carne ou vísceras ou ovo” como fonte proteica. Como você vê isso? De que maneira a proteína pode estar presente na dieta infantil vegana?
            Acho assustadora a ideia de dar pedaços de animais mortos a um bebê! Vitaminas com leites vegetais, frutas, castanhas e outros alimentos que possam suprir a necessidade de proteínas de um bebê e criança.
12) Muitos alimentos saudáveis são mais caros. Você acredita ser possível a alimentação vegana para todas as pessoas?
            Acredito que a alimentação vegana possa ser acessível a todos sim. Alguns alimentos são mais caros, pois a procura não é grande. Se muitas pessoas começarem a consumir mais alimentos saudáveis e veganos, os produtos se tornarão mais acessíveis a todos.
13) Quais sites você poderia indicar para quem quiser conhecer mais sobre a dieta vegana?
           Em relação aos sites, Gosto muito do Vista-se, ele tem muitas informações boas a respeito de receitas, outros sites, documentários, reportagens a respeito do veganismo. Gosto muito também do  http://www.veggietal.com.br/, ele segue a mesma linha do vista-se mas é mais focado em receitas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Nascer em Natal: um negócio pra lá de escrachado

Sinceramente eu tenho medo de parir em Natal. A situação do nascimento aqui está pior do que o quadro geral do Brasil, que já é ruim. O ano começou já com proibição de doula e recentemente uma das duas maternidades particulares de Natal lançou seu vídeo de divulgação de 2013. É possível perceber que se trata de uma cesárea eletiva (quando há agendamento prévio sem real motivo) como sendo uma situação normal de nascimento, contrariando o que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS). As evidências científicas mostram que cesárea eletiva tem sido associada com maior risco de desfechos maternos graves e maiores complicações para o bebê, principalmente quanto a questão da prematuridade. O Brasil tem um índice muito superior aos 15% estabelecidos pela OMS para o índice de cesarianas. A situação de Natal me parece um tanto horrenda. Eu mesma rodei por cinco obstetras até encontrar um que estivesse disposto a conversar sobre a minha concepção de como eu gostaria que fosse o meu parto. E ainda assim eu passei por uma cesárea desnecessária entre outras situações péssimas durante o nascimento do meu filho. Tive a certeza de que a prática definitivamente não era baseada em evidência científica. A situação obstétrica de Natal tem se mostrado cada vez mais tensa. Profissionais da assistência que se mostram a favor da humanização do parto e questionam condutas de um modelo obstétrico engessado são alvo de chacota e de condutas desrespeitosas por parte do complô da assistência engessada. Os protocolos de atenção ao recém-nascido vão contra o que recomenda OMS e MS. Não há contato pele a pele. Não há incentivo a amamentação, uma vez que já ministram leite artificial assim que o recém-nascido chega no berçário. Quem perde no final das contas são as mulheres e os bebês. Em sua grande maioria estão desinformadas e/ou estão a mercê de um corporativismo que não está disposto a mudar paradigmas. O pré-natal, que era para funcionar como um momento de informação e de troca, funciona mais como uma  pesquisa minuciosa para achar algo que justifique a cesárea (e que geralmente não é uma real razão).
O município conta com uma maternidade pública com instalações favoráveis ao parto humanizado. O problema é que os profissionais não estão capacitados dispostos a acompanhar o parto de forma humanizada. Ver o nascimento como um negócio, prezando pela comodidade de horários agendados e de retorno financeiro ao invés de ver o bem estar da mãe e do bebê são condutas desumanas. 
Pelo que vivi, para parir em Natal de maneira natural, humanizada, para que respeitem os desejos da parturiente, só mesmo parindo em casa longe das armadilhas do pré-natal ou então protegida das armadilhas que são colocadas por obstetras cesaristas. Os profissionais e os hospitais de Natal não estão preparados para essa demanda do parto humanizado. As pessoas que podem mudar essa realidade são as mulheres. Exigindo e lutando por um modo de nascer respeito e com carinho DE VERDADE. Porque pra ser respeitoso, é preciso ter uma conduta horizontal, é preciso acompanhar o parto. Afinal, o parto é da mulher e de quem mais ela quiser que o seja.

Mulheres, o direito é nosso!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Guest Post: Elucubrações sobre alimentação complementar de uma mãe amante de comida

Perto de Cauã fazer seis meses comecei minha procura por informações e relatos da introdução alimentar. E hoje o post é da querida Soraya Souza, a Sol, mãe da linda Rosa (essa menina de olhos luminosos da foto)! Eu aprendi um bocado com a experiência dela! Olhaí:

O que comer é para você? Para mim, é algo entre uma benção, uma celebração, um honra, uma dádiva, um deleite. Não sei quando ou como isso se deu, sei somente que comer é uma das coisas mais importantes e prazerosas da minha vida. Mas só tive a dimensão disso quando, grávida, comer se tornou uma obrigação regrada: enjoos tão intensos no primeiro trimestre que perdi um bocado de peso e nos meses seguintes uma fome tão descomunal que eu não podia atrasar as refeições em mais que dez minutos, para evitar perigosas quedas de pressão. Some a isso o entendimento da importância de comer bem para o bem-estar global e pronto, estava composto o contexto para uma mãe preocupadíssima com o futuro alimentar da sua cria.
Felizmente, Rosa mamou muito bem desde a primeira oferta. Amamentando em livre demanda, sofri horrores no primeiro mês, peguei o jeito no segundo e no terceiro a vi se organizar para mamar a cada 2h, em média por 40min. Ciente de que o retorno às atividades do doutorado me imporiam limites na manutenção desse esquema, muito cedo comecei a me preocupar com a introdução alimentar. Quando a hora chegou, estrategicamente me cerquei de boas referências: fui para perto de minha mãe, que introduziu oito pessoas à vida alimentar, e da minha irmã com quem tenho mais sintonia, que tem três filhos e um pediatra que é também gastroenterologista. Assim, eu tive quem me auxiliasse na tarefa de preparação e oferta das primeiras refeições, juntamente com a sorte de receber as orientações de alguém de confiança e muito preocupado em fazer a coisa de um jeito respeitoso ao organisminho dos bebês.
Esse profissional é adepto da separação por grupos de alimentos, visando, ao mesmo tempo, oferecer variedade e respeitar o ritmo de funcionamento dos órgãos digestivos, principalmente os sensíveis intestinos. Ele me passou um esqueminha que ajuda a orientar como garantir a variedade e progressão de introdução das coisas mais difíceis de digerir. Uma coisa que é meio consenso é de que o oferecimento nunca deve envolver mamadeira, pelo simples fato de que ela é extremamente confortável pro bebê. Ou seja, acostumou com ela, vai se apegar e, muito, provavelmente, largar o peito, que demanda deles um esforço danado. Atentos a isso, usamos sempre a colher pros sólidos (tem vários modelos em silicone bem legais) e o copo pros líquidos (o primeiro foi comprado por minha mãe, pasmem, feito para se tomar cachaça, de um plástico molinho). Aos 7 meses oferecemos canudinho e ela sugou feliz da vida, tanto que é a maior “canudeira” até hoje.
Ela já estava com 10 meses quando aprendeu a usar uma caneca de transição que nos tem sido genial: ela tem alças, uma tampa com bico de silicone molinho e uma válvula de segurança que nem deixa derramar, nem deixa os restinhos babados voltarem pra dentro da caneca. A funcionalidade dela é tanta que quando a esquecemos em algum passeio, ficamos meio atrapalhados, especialmente se não há disponibilidade de canudo ou onde lavar bem a menininha, já que o uso do copo comum implica em maior sujeira. Fazemos uso dela sabendo que contraria as recomendações médicas, que são enfáticas quanto ao uso exclusivo de copos simples. Mas essa escolha entra no rol daquelas que fazemos assumindo os riscos da discordância pela conveniência que oferece ao cotidiano que vivemos, tal como foi com a escolarização aos 7 meses e o desmame precoce, aos 12.
A primeira coisa que oferecemos foi mamão, depois pera, em dias alternados e nesse meio tempo rolou também suco de laranja lima, que é menos ácida e mais doce. As papinhas salgadas fizemos conforme o esquema do pediatra, sempre amassadas no garfo e mantendo os vegetais separados. A finalidade é favorecer a mastigação e trabalhar o paladar pros diferentes sabores e texturas. Quando eu senti que ela já encarava, passei a oferecer pedacinhos e cedo ela demonstrou preferência por essa forma, tanto que permanece meio reticente a coisas pastosas, como purê de batata, por exemplo.
Eu demorei a entender que as papinhas salgadas não só podem como devem ser temperadinhas que nem comida de gente grande, e quando passei a temperar, ela aceitou ainda melhor, mesmo tendo estranhado as primeiras vezes, o que não só é considerado normal como sadio. Ela já comia há mais de um mês quando parei para ler com atenção a caderneta de vacinação e lá me deparei com o link para o site do programa do Ministério da Saúde sobre complementação alimentar. Lá, tivesse acesso ao pdf com receitas regionais de papinhas para a complementação alimentar, o que me ajudou muito com isso dos temperos e, mais ainda, com o cálculo das quantidades. Porque era um tal de falta papinha pra janta (ofertávamos o mesmo do almoço), sobra papinha pra mais três bebês, e eu vivia louca sem acertar as quantidades. Fora as vezes que me desliguei um pouco e ela comeu beterraba várias vezes na mesma semana e ficou avermelhada, como se tivesse tomado sol sem protetor...
Na orientação do pediatra, as fontes de glúten (trigo, aveia, cevada) deveriam ser oferecidas somente após os 8 meses, preferencialmente na versão integral, assim como as frutas muito ácidas (cupuaçu, por exemplo) e que prendem muito o intestino (açaí, goiaba), e foi o que fizemos. Para reduzir a produção de gases, os grãos eram mantidos primeiro num molho, cuja água era dispensada, e somente depois eram cozidos, para serem consumidos sempre no mesmo dia. Além disso, somente depois dela ter completado 1 ano foi que oferecemos alimentos com a clara de ovo e os derivados de leite, primeiro um queijo magro (aqui optamos pelo minas frescal) e depois iogurte natural, feito em casa, misturado somente com mel ou batidinho com frutas.
As poucas tentativas que fiz de oferecer mingaus foram frustradas e nunca envolveram leite de vaca (somente de soja e arroz), que ela até hoje só toma como ingrediente de alguma receita. Desde cedo oferecemos sucos variados, sempre com pouco açúcar, muitas vezes em combinações (abacaxi + hortelã ou gengibre, maracujá + manjericão, acerola + manga, manga + cardamomo, limão + couve). Em dias de temperaturas mais baixas, oferecemos também chás morninhos (cidreira, erva-doce, camomila). Dou preferência aos bolos e biscoitos feitos em casa, com farinha integral. E ofereço saladas cruas sempre temperadinhas com azeite, limão, ervas (secas e/ou frescas), pouco sal e sementes como de gergelim e mostarda.
Mesmo com a complementação, ela manteve o esquema de amamentação de 2h em 2h até os 8 meses, quando precisei escolarizá-la para poder cumprir com os compromissos do doutorado. Pouco antes dela completar o primeiro aninho, meu ritmo de trabalho somado com a amamentação noturna consumiram mais energia do que eu podia suportar, então conversei com o marido e as pediatras (contamos com a ajuda de uma homeopata e de uma alopata), e decidimos pelo desmame. Isso implicou no aumento do número de refeições diárias dela (de 4 para 6, depois para 7), o que fizemos gradualmente. Felizmente ela tolerou bem a mudança, permanecendo com um apego tão grande ao peito que, alguns meses depois, quando enfrentou um processo grave de adoecimento, voltou a mamar como se nada tivesse mudado. Até hoje, depois de mais de 1 ano de desmame, ela continua com verdadeira adoração ao peito e ainda pede para mamar vez por outra. E eu dou, feliz da vida.
Entre meus radicalismos, está a não oferta de várias coisas: biscoitos recheados, refrigerantes, embutidos, maionese, bebidas lácteas e achocolatados. Ela experimentou chocolate pela primeira vez ao completar 1 ano e depois disso em oportunidades tão poucas que contamos nos dedos das mãos. O mesmo vale para frituras, que jamais são feitas em casa. De vem quando, vamos a uma sorveteria na cidade onde os sorvetes são feitos artesanalmente, a partir de frutas frescas e sem gordura vegetal. Na pizzaria, que é raridade frequentarmos, escolhemos opções menos calóricas e oferecemos pequenas porções.
Um dos atrativos da escola escolhida foi a ajuda nesse sentido: são proibidos lanches muito artificiais e calóricos, ao invés de cantina tem cozinha, com cardápio feito por nutricionista, sem uso de açúcar branco (em casa usamos demerara para os sucos e mascavo para bolos e biscoitos), com boa variedade de vegetais e de receitas. Todos os dias ela leva fruta e somente fruta para o lanche, com tanta variedade quanto conseguimos manter (em geral, são 3 tipos).
Se foi fácil a introdução alimentar? Não. Impossível ser. Dá trabalho estar atenta à geladeira e à fruteira, calcular combinações, manter variedade, descascar, cortar, refogar, cozinhar. E ainda fugir dos agrotóxicos e adubos químicos, dos conservantes, corantes, espessantes, acidulantes e das pessoas querendo ser legais oferecendo toda a sorte (sorte?) de guloseimas supostamente saborosas. Mas, como eu disse no começo, isso de comer é algo que me encanta e fascina. Talvez por isso seja um trabalho a que me entreguei e entrego com esmero, dedicação e muita, muita satisfação. E certamente por isso que eu tenho uma criança que mastiga cookies de aveia com o mesmo prazer de bananas, sushis, tomates-cereja e cupcakes de limão.


E você? Como foi sua experiência com os alimentos do seu filho?