Hoje tem receita de almoço sem nada de origem animal e super nutritivo!
Arroz + Feijão + Macaxeira cozida + Panqueca recheada com legumes
Desta combinação, a receita vai ser a da panqueca:
Ingredientes da massa:
1 xícara de farinha de trigo integral
1 xícara de farinha de trigo branca
1/3 xícara de aveia (farinha é melhor, mas pode ser em flocos finos)
2/3 xícara de óleo de girassol
2 xícaras + 1/2 xícara de água
Sal a gosto
Um tiquinho de fermento
Um fio de vinagre branco
Modo de fazer a massa:
Misture tudo, deixando sempre por último o fermento+vinagre. A consistência deve ser meio líquida. Você pode fazer uma versão verde dessa panqueca, batendo no liquidificador a parte líquida com espinafre ou couve e misturando aos secos. Esquente uma frigideira antiaderente, pingue um pouco de óleo e coloque uma concha cheia por vez, espalhando a massa mexendo a frigideira. Depois que estiver sequinha por baixo, vire com uma espátula para assar do outro lado. Retire e recheie.
Essa receita deu cerca de 10 panquecas aqui em casa, de um tamanho menor que um prato de sobremesa.
Recheio (sugestão): o recheio cada um inventa o seu, mas esse aí que eu fiz foi:
Milho
Ervilha
Cebola
Shoyu
Abobrinha picada pequenininha
Tomate picado
Espinafre picado
Massa restante do leite de castanha de caju (sempre uso o que sobra no coador do leite de castanha para enriquecer nutricionalmente as receitas que faço. Nesse caso, ela deixou o recheio bem molhadinho, ficou uma delícia)
Como fazer o recheio: refogue a cebola com azeite, acrescente a abobrinha e o tomate, espere soltar um pouco de água. Acrescente o espinafre e espere murchar um pouco. Coloque o shoyu, a massa do leite da castanha de caju e o milho e a ervilha. Apure o sal. Recheie as panquecas!
Simples e delicioso!
quinta-feira, 28 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Questão de gênero
Eu
já achava que estava grávida de uma menina. Não sabia muito bem a razão, mas a
minha intuição dizia. Enfim, quando realmente confirmamos que era uma menina,
nossa Cecília, todo um mundo de laços, fitas e flores veio na minha mente. Mas
logo achamos esquisita a nossa reação diante da notícia. Afinal, não sabíamos
se ela se consideraria mulher. Porque pela concepção de gênero que temos e que
defendemos, este não é baseado em órgão sexual, ou seja, o gênero vai se
configurando a partir de uma série de comportamentos aprendidos, modos de
pensar, se portar, se vestir, de desejar que culturalmente são postos, ou
impostos. Desta maneira, ter pênis ou vagina, para nós, não configura fato
determinante dos modos como essas coisas vão ser aprendidas e internalizadas nas
performances de vida de nossxs pequenxs. E ali tínhamos visto uma vagina e já
concebido que teríamos uma menina! Isso criou um nó danado na gente.
Temos
um menino, com o qual não levantamos todas essas questões. Olha que coisa
doida! Machismo em nossas entranhas. Confesso que quando soube que era menina
fiquei imensamente feliz, pensei o tanto de coisas que poderíamos fazer juntas,
como por exemplo, fazer as unhas, coisa que eu sempre adorei fazer com a minha
mãe e que há anos não sei muito bem o que é. Começamos a ganhar milhões de
coisas rosa. E eu não gosto de rosa. Nunca gostei... acho uma cor tão sem
graça, principalmente pra roupa. E em todos os lugares que eu ia me perguntavam
se era menino ou menina, e aí eu se eu queria levar o pijama de dinossauro “ah,
mas pra menina é esse aqui”.... Essa concepção social do que é ser menina e menino
é tão limitante.
Enfim,
decidimos relaxar, maneirar nas frufruzices (até porque né, minimalismo tá aí
pra isso), aceitar algumas concepções intrínsecas construídas socialmente do
gestar uma menina. Afinal, se ela não se sentir confortável estando dentro de
um gênero já estabelecido desde meu ventre, será acolhida da mesma maneira e
vamos descobrir uma maneira nossa de viver isso.
E
a gente fica aqui na torcida para que ela, como a gente, continue lutando pela
igualdade entre os gêneros, pelo respeito coletivo e pela emancipação feminina.
Que sofra menos violências cotidianas do que as ancestrais dela sofreram.
Que
seja uma semeadora de luz e que respeite as pessoas independentemente do que elas
têm entre as pernas.
obs.: meu companheiro deu uma entrevista recentemente para a CBN sobre machismo na educação dos filhos. Quem quiser pode conferir a entrevista a partir dos 37 minutos neste link.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Quinta da comida: lanchinho básico
Na Quinta da Comida você vai encontrar receitas aqui no blog!
A de hoje foi feita para uma visita das crianças da sala do Cauã na nossa casa.
Servimos:
Pão sírio integral, torradinha integral, bolo de banana sem lactose, chips de batata doce, guacamole, hommus (pasta de grão de bico)
+
Suco de beterraba, limão e laranja.
Receitas: guacamole, chips de batata doce e hommus.
Guacamole:
1 abacate maduro
1 tomate
1 dente de alho
Azeite em uma boa quantidade
Sal
1 limão
Modo de fazer: taca tudo no liquidificador ou multiprocessador. A ideia é a pasta ficar cremosa, se ao bater ainda ficar muito consistente, acrescente um pouco de água. Prove para testar o sal.
Chips de batata doce:
Fatie a batata doce em fatias finas. Coloque em uma assadeira untada com azeite, salpique o sal e leve ao forno a 205ºC até que fiquem crocantes. Retire e sirva.
Hommus:
Grão de bico (idealmente que tenha ficado de molho 12h antes de ser cozido)
1 limão
Sal
1 fio de shoyu
Azeite
Água
Modo de fazer: taca tudo no liquidificador ou multiprocessador. Se ficar muito consistente ainda, coloque mais água. Eu adoro a ideia do shoyu, acho que dá um tchan pra receita.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Passo a passo de como pagar seu parto humanizado
Dando
sequência ao post anterior sobre valores (materiais e não materiais) da equipe
de parto humanizado, segue agora um passo a passo (o famoso PAP) - pra quem é
artesão isso faz todo sentido - de como levantar aquela grana para o parto
humanizado.
Antes
de tudo, os valores de um parto humanizado, domiciliar ou hospitalar variam
muito de cidade pra cidade. Outra coisa é que as equipes humanizadas oferecem
diferentes tipos de serviços, que podem ou não estar incluídos no seu contrato,
como por exemplo, consulta de pré-natal, assistência pré-hospitalar, entre
outras coisas. Além disso, os valores mudam de acordo com a formação da equipe:
geralmente quando tem obstetra na equipe fica um pouco mais alto, tem as
enfermeiras obstetras que trabalham com outras enfermeiras obstetras e tem as
que trabalham com médicos também. A presença de pediatra ou não, o local do
parto (porque parto humanizado pode acontecer em qualquer lugar), compra de
material ou não (em caso de parto domiciliar algumas equipes pedem para comprar
alguns itens, mas isso varia), são coisas que influenciam no preço da equipe
contratada.
O
meu contrato inclui o parto humanizado com duas enfermeiras obstetras, com
consultas de pré-natal, já incluso o material da assistência domiciliar. Tudo
ficou quase oito mil reais. E elas fornecem nota fiscal (o que permite
ressarcimento do plano de saúde, que não oferece o serviço) além de abater do
imposto de renda.
Eu juro pra você que não tinha absolutamente nada de reserva
quando contratei minha equipe. Então
vamos lá. Qual é o passo a passo para conseguir?
Primeiro:
Acredite.
É
o seguinte. Não adianta de nada querer um parto humanizado e ficar de mimimi.
Se você ainda está presa nesse papel, saia agora do papel de vítima do mundo e
comece a acreditar que você vai ter um parto humanizado. Acredite de verdade.
Você pode ter uma pontinha de dúvida, mas você tem que acreditar mais do que
duvidar de que vai conseguir as condições para que ele aconteça.
Segundo:
Mande a mensagem para o universo.
Você
pode até achar que eu sou hippie, bicho-grilo, maconheira ou qualquer
estereótipo que poderia colocar meu discurso em caráter duvidoso. Mas a física
quântica tá aí pra provar: tudo é energia. Então, assuma sua responsabilidade
em ser um ser criador e comece a vibrar a mensagem positiva de que você vai
conseguir de fato, e comece a pensar isso todos os dias. Tipo um mantra. Você
vai começar a atrair pessoas e situações para viabilizar o seu projeto.
Acredite em mim, é algo quase inacreditável!
Terceiro:
Planejamento é a ordem.
Agora
que você está com uma atitude positiva e ativa, é hora de ver como você pode
levantar essa grana. Se esse bebê tivesse sido planejado (como o primeiro foi)
a gente teria feito uma poupança pro parto. Mas como aconteceu em meio a um
momento de caos e de instabilidade financeira, tive que contar com uma boa dose
de fé e de criatividade pra montar esse quebra-cabeça. Fiz mais ou menos assim:
Coloquei
várias respostas com ideias diferentes em cada post it e espalhei pelo chão.
Várias. Até ideias absurdas apareceram e foram escritas. Essa não é a hora de
selecionar, é a hora de escrever. É uma logorréia escrita de possibilidades.
Segunda
etapa: O que é realmente viável?
Peguei
um papel em branco e fui escrevendo o que poderia fazer. Várias atividades,
projetos, etc.
Terceira
etapa: Organizei mais ou menos o que poderia fazer o mais breve possível e quem
poderia articular para me ajudar na empreitada (parceiras). Criei um grupo no
face que se chama “Quero ajudar a Gabi a ter um parto humanizado” que tem
muitos amigos queridos e onde eu divulgo os eventos e recebo apoio através do
compartilhamento do que tenho feito pra conseguir essa grana.
Apesar
de fazer um planejamento, sempre aparece alguma ideia nova ou alguma coisa que
não deu certo, e o planejamento vai sendo reconstruído continuamente. O meu
planejamento foi/está sendo esse:
Coloquei
as coisas que sabia fazer e selecionei algumas ideias que tive que poderiam ter
um retorno financeiro. As coisas que já fiz e que tiveram o dinheiro totalmente
revertido para o parto foram:
-
Oficina de bolos veganos: coloquei um limite de pessoas e estabeleci um preço
de R$80 por pessoa o que totalizou R$400.
-
Participação em três feiras com comidas veganas e peças doadas para o bazar:
consegui cerca de R$300 em cada. Acho que eu poderia ter conseguido mais, se tivesse
mais o know how do público das feiras e tal. Uma das coisas mais interessantes
foi que em uma das feiras coloquei um cartaz “Compre um lanche e ajude a pagar
meu parto humanizado” e muitas mulheres que tiveram partos humanizados ou
famílias que são apoiadoras da causa doaram dinheiro mesmo sem comprar nada,
simplesmente para me ajudar. Foi muito gostoso me nutrir de tanto carinho e ter
tanta conversa bonita! Mas decidi não mais participar de feiras por ser
profundamente cansativo o dia anterior de preparação e o dia da exposição.
-
Oficina de comidas veganas – edição salgada: essa oficina foi muito procurada.
Fiz uma edição e farei a próxima dia 24/maio, as inscrições ainda estão
abertas. São 5 vagas com o valor de R$100 por pessoa o que totalizou R$500 por
oficina.
-
Encomendas de bolos: peguei algumas encomendas de bolos e enquanto estiver
dando conta, tô pegando encomenda.
-
Poupanças cotidianas: a gente reservou o que economizávamos no dia a dia também
para o parto. Uma ideia legal é deixar uma caixinha ou latinha pra ir colocando
dinheiro. Mas não vale moedinha. Tem que ser nota. Na minha só colocava acima
de 10 reais.
-
Doações: recebi doações de amigas e da minha mãe querida.
Em
abril tínhamos que dar 20% do valor total, mas conseguimos juntar mais e dar
R$3000,00. E ainda pagar a doula, que estava por fora desse contrato. Isso
mesmo. Sem o apoio dos amigos e da nossa equipe (Périnatale) isso seria impossível. Somos
pura gratidão!
Ainda
faltam quase 5000. Já tenho algum dinheiro guardado, mas pretendo levantar pelo
menos uns 2000 antes da Cecília nascer. O resto que faltar talvez pegue um
financiamento ou até mesmo divida no cartão (minha equipe facilita pacas). Para
isso estou fazendo alguns eventos e iniciativas. Você pode me ajudar
participando, compartilhando, divulgando, rezando ou me dando ideias para novas
iniciativas! Tem uma aba aqui no blog que chama “Ajude meu parto” com o que
está rolando pra juntar essa grana antes de Cecília nascer. Olha só:
-
Oficina de comidas veganas (edição salgada): inscrições abertas, vagas
limitadas
-
Rifa em prol do parto humanizado: Cada rifa custa R$10. Para participar basta escolher
o número disponível (aqui), efetuar a transferência para a conta do Banco do
Brasil Agência 1507-5 Conta Corrente 42.780-2 e me avisar pelo facebook ou pelo
e-mail gabriellacotta@gmail.com
para que eu reserve o número. O sorteio será dia 10/junho. Para conferir as
regras, acesse o link do evento ou me mande um e-mail que eu te envio de volta.
Os prêmios são:
·
1º
prêmio:
·
2º prêmio: Livro de receitas
veganas: bolos, doces e salgados
·
3º prêmio: Bastidor com bordado a
mensagem Gradidão
-
Bazar online: confira as fotos no álbum do facebook, tem muita coisa boa e
barata
-
Livro de receitas veganas: Livro com receitas de bolos, doces, e comidas
salgadas livres de produtos de origem animal. Frete a combinar. Você pode adquirir
mandando um e-mail para gabriellacotta@gmail.com
e aguardando as instruções para o envio do livro. Cada um custa R$30,00. (50
unidades disponíveis).
- Além disso, um casal amigo e artesãos me deram uma percentagem do que eu vender deles, então tenho vendido alguns wrap slings (que são maravilhosos) e outras coisas lindas que eles fazem para ajudar no parto também! Conheça um pouco mais do trabalho deles na página do face: Ammi: de mãe para mãe
Ufa! Tem dado um trabalhão organizar isso tudo, mas sei que vale a pena.
Confio na equipe que contratei e estou investindo em algo que acredito
profundamente. Será que você se interessa em alguma das possibilidades para me
ajudar? Se sim, vá em frente! Agradecemos de coração! Se não, tudo bem, se
rolar ajude a divulgar? Agradecemos mesmo assim!
Beijos cheios de gratidão, luz e de inspiração!
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Quanto vale o nosso parto
Algumas
pessoas tem dificuldade para compreender porque tenho me dedicado tanto para
pagar uma equipe humanizada para o meu parto se tenho plano de saúde privado e
o SUS. A seguir você encontra os principais motivos que me levaram a empreender
toda minha energia para conseguir pagar minha equipe e espero que esse texto
fique de motivação para quem acha que não pode ter um parto humanizado porque
não tem dinheiro.
O contexto
Nós
estávamos desempregados, em meio à concretização de um planejamento de seis
meses de mudança de cidade, no qual sabíamos que teríamos privações materiais.
Diferentemente da primeira gravidez, a qual foi bastante planejada e esperada
por sete meses, essa gravidez aconteceu por um descuido. Então, nossas reservas
já tinham sido planejadas para serem utilizadas para nossa mudança. Um parto
não caberia no que tínhamos planejado... Como tínhamos tido uma experiência ruim no primeiro nascimento, correr o risco de passar por tudo de novo era
inaceitável. A gente estava com os dois pés fora da matrix. Parir no convênio
não era uma opção. No SUS uma possibilidade.
A realidade da assistência privada
Ter um plano de saúde e querer parir não
são coisas que podem ser somadas no Brasil. Na verdade, a rede privada tem umíndice de cesarianas de 83%, chegando a muito perto de 98% em algumasmaternidades. Funciona mais ou menos assim:
Opção
1: ou você encontra um obstetra que de cara vai marcar sua cesárea, a conhecida
cesárea eletiva. Talvez até digam que parto normal não existe mais, que as
mulheres não precisam passar mais por isso (oh god). São os obstetras cesaristas. Falam na cara que
não acompanham parto normal (humanizado então, nem se fala).
Opção
2.2: ou você encontra um obstetra fofinho. Aquele que vai te dizer que
acompanha parto normal SE tudo der
certo. Mas ao longo do pré-natal (aquele que você vai esperar 3 horas pra uma
consulta de 10 minutos) ele vai conseguir minar sua coragem ou até mesmo
encontrar mil motivos médicos (que não são baseados em evidências científicas,
como circular de cordão, bebê pélvico, não ter passagem entre outros mitos) pra
marcar a cesariana ou mesmo fazer o procedimento assim que você der o primeiro
sinal de trabalho de parto.
Opção
2.2: pode ser que você chegue parindo, com o bebê coroando. Esse obstetra “fofinho”
não sabe acompanhar um parto fisiológico e muito provavelmente vai correr pra
fazer uma episiotomia ou colocar um sorinho ou qualquer intervenção de rotina desnecessária sem nem perguntar a você nada.
Opção
3: ou o médico do plantão. É importante dizer que chegar em trabalho de parto é
visto de maneira muito esquisita pela maioria dos plantonistas. Obviamente eles
querem logo passar o caso pro obstetra que acompanha o caso. Ou “acabar logo com
tudo isso” pra não passar o plantão com trabalho pro outro plantonista. A
gestante parece uma espécie de batata quente e o parto um evento que precisa
ser terminado logo e aí... dá-lhe intervenções. Prestar uma assistência padrão
ouro, discutindo condutas e respeitando autonomia e protagonismo feminino é
bastante difícil pela rotina que o hospital segue e pela própria formação dos
profissionais da assistência que lá estão.
Pode até ser que você conheça alguém que
chegou parindo e que conseguiu um parto natural no hospital do convênio. Essa
mulher é bastante sortuda, ou seja, correu um risco significativo de ter uma
experiência de parto negativa.
Mas além de se preocupar com o parto em
si, é importante também saber das intervenções no recém-nascido, que, na
assistência hospitalar de rotina ainda são bastante invasivas.
Enfim, todas essas opções me parecem
bastante ruins. E hoje, compreendendo o funcionamento dessa indústria
milionária, eu não me submeteria nem ao pré-natal e nem à assistência ao parto
com um médico do convênio. Simplesmente não compactuo com esse modelo. Apesar
de ter plano de saúde privado, tenho utilizado apenas para fazer exames
solicitados pela minha equipe. E me privado de muitos incômodos como esperar
horas para ser atendida para uma consulta ridiculamente curta, sem olho no
olho. Esse sistema faliu e eu não compactuo com ele. Ele é violento pra todo
mundo. Enquanto nós mulheres não criarmos novas demandas, enquanto os
profissionais não se organizarem para melhores condições de trabalho, enquanto
a questão for tão mercadológica e egóica, acredito que a mudança vá ser bem
morosa.
Pré-natal humanizado, com participação da família e atenção integral gestante |
A
realidade da assistência pública
Eu sou apaixonada pelo projeto do SUS. E
até tentei fazer o pré-natal por ele quando cheguei a Brasília. Mas o caos
estava instalado, profissionais em greve e muitos outros problemas decorrentes
de uma má gestão. Na primeira gestação eu fiz pelo SUS em Parnamirim (RN) e
gostei bastante. As enfermeiras eram super atenciosas, apesar das palestras serem
bem ruins e tratarem as gestantes de maneira infantilizada, o que também
constatei aqui em Brasília. Como a qualidade do pré-natal no posto de saúde estava bem ruim, resolvi incluir no pacote da minha equipe.
Apesar de ter um índice menor de
cesarianas, cerca de 40%, o parto com intervenções ainda é a realidade da
assistência ao parto no SUS. Isso significa que mesmo não caindo numa cesariana
mal indicada (de acordo com as evidências científicas), eu entraria na escala
de produção do parto normal que consiste num pacote de intervenções que
comprovadamente tem um impacto negativo no desenvolvimento do parto fisiológico
e que são inclusive contra p que preconiza a Organização Mundial da Saúde tais
como: uso de ocitocina de rotina, episiotomia (ainda mais sem o consentimento
da gestante), limitação da escolha da posição para parir (a imensa maioria dos
obstetras dos hospitais públicos colocam a mulher naquela velha posição de
litotomia com a barriga pra cima, pernas naqueles apoios (muitas vezes
amarradas), entre outras condutas de terrorismo psicológico e outras cositas
más que são conhecidas também como violência obstétrica.
Saindo do modelo de assistência
hospitalar, eu teria a opção de uma casa de parto, se não fosse minha cesárea
anterior. No protocolo de assistência na Casa de Parto de São Sebastião (DF), não são acompanhados
partos vaginais de mulheres com cesariana prévia. Apesar de já existirem estudos
recentes mostrando que o índice de ruptura uterina não é significativamente
maior em partos vaginais após cesarianas. Enfim, na Casa de Parto tenho certeza
que conseguiria uma assistência humanizada e minha autonomia respeitada. Mas já
não era uma opção... então me restou o hospital de referência. Que eu teria que
parir com quem tivesse de plantão. Só que a dinâmica de um hospital é muito
diferente do de uma casa de parto. É um risco muito grande que eu decidi não
assumir como plano A. Mas definitivamente é meu plano B. No SUS, com as
portarias do Ministério da Saúde e outros fatores (como o funcionamento real de
uma ouvidoria) eu me sinto bem mais acolhida e com uma possibilidade maior de
conseguir um parto sem intervenção principalmente se mostrar que conheço meus
direitos. Infelizmente, essa é uma realidade que já escutei e presenciei
inúmeras vezes: acompanhantes e mulheres informados dos seus direitos, que
chegam com plano de parto e doula são tratados com um cuidado maior,
infelizmente pelos motivos errados medodeserprocessado. Fico mais
tranquila até em relação aos procedimentos com o bebê, já que as novas
portarias regulamentadoras vão de acordo com o que a humanização do parto
preconiza: pele a pele imediatamente, amamentação na primeira hora, alojamento
conjunto, clampeamento tardio do cordão umbilical. Na minha experiência percebo
um maior respeito a isso quando o profissional percebe que a mulher é informada
e discute a conduta.
O
panorama do Brasil: a violência obstétrica
Desde que ressignifiquei a experiência
negativa com o primeiro nascimento, me tornei uma ativista mais forte e mais
compreendida acerca do contexto em que fui violentada e que 25% das mulheres
brasileiras relatam ser.
Um quarto das mulheres brasileiras relatam terem sofrido algum tipo de violência durante seus partos. E tenho
certeza que esse número é muito maior, porque muitas mulheres não compreendem
que foram violentadas, já acostumadas a um modelo de assistência tão violento e
a serem tão submissas. A imensa maioria delas apenas guarda um sentimento
negativo em relação ao parto. Sentimentos que geralmente são passados para as próximas
gerações ao dizer que hoje em dia a mulher não precisa sofrer, que parto dói
muito entre outras coisas que estão em nossa memória coletiva de uma maneira
muito forte e que não fortalece as mulheres, apenas perpetua um modelo de
submissão e de sofrimento em relação ao parto e ao nascimento.
Já aconteceram inúmeras vezes: eu
começar a falar sobre violência obstétrica e alguma mulher começar a chorar por
se reconhecer nos sentimentos ou relatos que escuta. Inúmeras vezes. Ou por
falar em episiotomia e mutilação feminina e muitas começarem a perceber que se
sentiram assim e pensarem que era assim mesmo, que a dor pra sentar, pra ter
relação sexual era algo normal. E em todas ficarem absolutamente maravilhadas
como um parto pode ser bonito, ainda que dolorido. Em como a dor das contrações
pode ser ressignificada. Em como é possível até mesmo ter orgasmos durante o
parto. A maravilha é perceber outra possibilidade, muito mais bela e simples,
bem ali.
Onde eu puder minimizar os riscos de
passar por violência obstétrica novamente, eu o farei. Lutando contra um
sistema posto, contra achismos de todos ao redor, por um parto digno e
respeitoso.
O
valor de um parto
Para mim não importa quanto fosse.
Conversei com algumas equipes humanizadas, com doulas e fiz minha escolha.
Muito mais baseada em empatia do que em valores. Expliquei explicitamente para
todas envolvidas a situação da gravidez, a dificuldade financeira de não ter
uma reserva que pudesse ser usada para isso naquela hora, mas deixei bem claro
que faria tudo que estivesse ao meu alcance para conseguir. E a equipe foi super parceira em facilitar o máximo possível as condições de pagamento.
E tenho feito.
Economizamos bastante, deixamos de fazer
muitas coisas, buscamos alternativas mais baratas, vibrei abundância em todas
as minhas meditações, percebi o que poderia oferecer para trocar com as pessoas
por dinheiro para ajudar a pagar minha equipe. Nesse processo está sendo
fundamental o apoio das amigas e da família e da virtualidade. Tem sido uma
construção coletiva muito bonita e sou pura gratidão a todas as pessoas que tem
nos ajudado. No próximo post vou detalhar exatamente o plano que tracei para conseguir
o dinheiro pro meu parto, do zero.
O valor de um parto pra mim não é um
valor plástico, material. É um investimento: pra mim, pra minha família e pro
mundo. Acredito de verdade que podemos mudar uma sociedade deixando imprints de
amor e de acolhimento em quem chega ao invés de frio e solidão. Força de vontade, fé de que vai dar certo e movimento para fazer as coisas acontecerem são coisas muito importantes para viabilizar algo assim.Contar com amigos e família também é essencial. Ter conseguido quase a metade do valor total até agora já me mostra mais uma vez que juntos somos bem mais fortes! E que nada é impossível, por mais que pareça difícil.
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