sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A cárie na primeira infância

“Olha, você vai ter que desmamar pra ontem. A cárie está consumindo o dente dela. Assim ela vai ficar sem dente. Você pode continuar amamentando, mas o dente dela vai cair e depois você não vem me responsabilizar por nada.”

Minha amiga ouviu isso de um nada sensível dentista. A filha dela de cerca de 1 ano e 8 meses desenvolveu cárie nos dentes da frente, o que o dentista chamou de cárie de mamadeira, mas que no caso dela não se aplicava, porque ela não fazia uso de mamadeira nem de chupeta. Uma semana depois que ela me relatou isso, eu levei Cauã no dentista e ele também estava com cáries nos dentes da frente. Mas a dentista que nos atendeu foi mais cuidadosa.
“A cárie é uma lesão infecciosa transmissível que pode ser evitada. A cárie não é uma fatalidade.” (Guimarães ET AL, 2004)
Conversando com outra amiga, que é consultora em lactação, ela relatou que essas cáries acontecem mais por conta de falta de higienização frequente do que pela amamentação noturna isoladamente.

Esse era nosso caso.

Outro fator que poderia influenciar era uma dieta rica em açúcar e carboidrato. Mas nossa alimentação não se encaixa nisso.

No início de escovar os dentes, Cauã amava. Era uma brincadeira gostosa. Mas de repente virou o grande pavor da terra. Ele esperneava, sacodia a cabeça, chorava e eu ficava tentando usar o lúdico para escovar, mas acabava tendo que me aproveitar da boca aberta de choro pra tentar escovar alguma coisa. A sessão tortura passou então a ser evitada por nós, passando a escovar assim, meio meia boca, uma vez por dia. E durante a noite eu nunca acordava pra limpar os dentes depois das mamadas noturnas (ele dorme com a gente e às vezes eu nem via ele mamando). 

Pois é. De acordo com Bretz (1992) apenas 16% das crianças brasileiras entre 3 e 6 anos não tiveram contaminação pela bactéria da cárie.

Então acontece que nossa escovação estava precária mesmo, e acabou dando espaço para a cárie se instalar. Começamos uma escovação mais frequente, com mais empenho. A possibilidade de ele perder o dente facilitou que a gente passasse pelas escovações – sessão terror segurando a cabeça dele enquanto ele gritava. Junto com isso começamos um tratamento com escovação com flúor na dentista, o que ajuda a estacionar a cárie. Os dentes ficaram manchados, mas pelo menos o esforço coletivo deu resultado relativamente rápido. Em casa, na escola e no dentista todos trabalhavam para naturalizar o hábito de escovação. E agora a escovação não é mais um bicho de sete cabeças... só de vez em quando. Quando ele tá muito cansado ou muito agitado.

Fui procurar alguns artigos científicos sobre o tema e encontrei algumas informações interessantes:

Sobre a bactéria e a contaminação:

Foto: colgate

A boca é colonizada por bactérias desde o momento em que nascemos, mas a que ocasiona a cárie ocorre quando há a primeira erupção dentária.
A bactéria da cárie é a Streptococcus mutans. Parece haver uma concordância entre os pesquisadores em relação à contaminação na primeira infância. Ela acontece geralmente de maneira vertical, por transmissão cuidador-bebê, facilitado pelas condições ambientais como alimentação e higienização. 

Alimentação rica em carboidratos e açúcares e higienização precária facilitam a contaminação. A transmissão pode ocorrer quando um cuidador contaminado assopra uma comida para a criança comer, por exemplo. Ocorre também pelo uso compartilhado de talheres, copos, escovas etc. Mas a permanência da bactéria na boca vai depender se as condições serão favoráveis pra sua proliferação. Se criamos o ambiente bom, ela come nossos dentes que é uma beleza.

Sobre a cárie e os alimentos

A relação da cárie com o homem data da Idade da Pedra (12.000 – 3.000 AC) pela introdução de alimentos cozidos. Depois que foram introduzidos os farináceos e os refinados, houve um aumento significativo de cáries, no século XVIII. O aumento mais significativo foi no século XIX com uma incidência significativa nos dentes anteriores.
Um estudo de 2000 evidenciou que as mães introduzem o aleitamento artificial com produtos contendo sacarose geralmente por indicação do pediatra.
Pois é, a indústria do leite e da cárie caminhando juntas.
Há maior prevalência de cárie em crianças que se alimentavam com mamadeira e com leite artificial do que em crianças que foram amamentadas com leite materno.

A cárie propriamente dita

Streptococcus mutans provoca colônias rugosas, convexas, irregulares e opacas.
“Este microrganismo é uma bactéria gram-positiva que se adere a superfície dental, quebra o açúcar, produz ácidos e promove a diminuição do pH do ambiente bucal, levando ao desenvolvimento da lesão de cárie. Assim esta doença é produto direto da variação contínua do pH da cavidade bucal, sendo um resultado de sucessivos ciclos de desmineralização (des) e de remineralização (re) através da reprecipitação de minerais presentes na saliva, como o cálcio e fosfato. Se houver equilíbrio fisiológico do processo des-re, esta alteração pode ser restaurada e levar a uma inativação da lesão de cárie. A fase escura da cárie é quando ela se torna inativa. A fase ativa é caracterizada por manchas amareladas no dente.” (Guimarães ET AL, 2004) - 

Como prevenir?

Hábitos de higienização
         A partir dos seis meses deve começar o hábito de higienização, para facilitar no desenvolvimento do hábito da escovação.
                Na introdução alimentar: passar gaze com água após as refeições e depois das mamadas diurnas e noturnas.
                Quando há dentes: escovar com escova adequada com creme dental sem flúor (Crianças não têm a capacidade de cuspir e o flúor não pode ser engolido. Todas as pastas de adulto tem flúor.)

 
 Referências: 

Post 10 do desafio 30 ideias em 30 dias

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