Mamando e recebendo cheiro! |
Ainda na gravidez eu já
tinha decidido que ia amamentar. Cada vez que eu procurava me
informar, mais certeza eu tinha da minha escolha. No nascimento
propriamente dito, no centro cirúrgico a pediatra colocou ele 5
segundos no meu peito e já disse que não ia dar certo porque meu
bico do peito era plano. Como você sabe, eu passei por uma cesárea
desnecessária, além de outras violências obstétricas durante o
nascimento do meu filho. Lembro do meu marido saindo acompanhando a
pediatra e eu lembrando ele: não deixe darem leite artificial (LA)!
Não deixe! E ele afirmou com a cabeça. Quando chegamos no quarto,
perguntei pro meu marido se tinham dado LA. Ele disse que pediu para
não dar, mas o profissional que receptou ele disse que teria que dar
porque era protocolo de rotina do hospital. (Um protocolo bem
atrasado, diga-se de passagem). Enfim, fiquei muito mais triste e me
senti muito mais violentada. Não respeitaram nenhuma das nossas
vontades... Mas tudo bem, na manhã seguinte eu acordaria e daria de
mamar. Durante a madrugada, uma técnica em enfermagem veio e deu LA.
Eu estava dormindo, fiquei sabendo depois. Bom, chegou o dia em que
levantei, ninguém veio me ajudar com a amamentação. Levaram ele
para dar banho e quando ele voltou eu perguntei e disseram que tinham
dado LA de novo. Fiquei muito mais triste. Bom, na hora do almoço
que eu já tinha me levantado, quando a moça do berçário veio com
sua caixinha de LA eu disse pra ela: Vamos fazer assim? Você me
ajuda com a amamentação e se não der certo você dá LA pra ele.
Ela disse: ok. Me ajudou, colocou ele no peito e ele mamou lindo.
Meus olhos encheram d'água. Fiquei sentindo a maior plenitude da
minha vida ao olhar praquele ser lindo sugando o que há de melhor em
mim! Depois chamei umas mil vezes alguém do berçário pra me
ajudar. Toda vida que ele tinha que começar a mamar, eu precisava de
ajuda para entender como era a pega e tal. O problema (hoje que eu
sei) é que elas vinham, colocavam ele no peito e iam embora. Elas
não me ensinaram mesmo. Bom, chegou o dia de alta, fomos para casa e
aí começou os 15 dias mais esquisitos da minha vida! Eu
simplesmente não conseguia colocar ele no peito sozinha. Ele tinha
dificuldade em abocanhar a auréola e eu achava que o problema era o
bico do peito. Chamei minha doula inúmeras vezes, que é também
consultora em lactação e fonoaudióloga, e ela me ajudou pra
caramba! Mas o problema persistia... Comecei a ter fissuras horríveis
no peito! Doía tanto para amamentar! Mas para mim não tinha outra
opção. Eu não ia desistir. Cheguei a colocar toalha na boca para
morder quando ele dava as primeiras sugadas, de tanta dor que a pega
incorreta dava. Um dos peitos chegou a sangrar. Algumas vezes pensei
em dar logo o NAM, mas logo isso passava. Lembrava dos relatos de
amigas e de outras mães dizendo que amamentar não era tão fácil
para algumas mulheres... Comprei um bico de silicone pra ver se
ajudava. Pensei que talvez fosse a falta de bico que estivesse
dificultando. Pareceu ajudar no primeiro tempo, mas as fissuras
continuavam. Quando Cauã pegava direito no peito, mesmo com o mamilo
machucado, eu não sentia dor. O problema era que não conseguia
acertar a pega sozinha, me desesperava com o choro dele, e minhas
inseguranças vinham à tona. Ele sentia meu medo de não conseguir.
Fiquei sem usar sutiã, deixando o peito respirar bem. Ordenhava
leite e deixava estocado para dar para ele no copinho quando não
conseguia dar o peito. Até que fomos no banco de leite para fazer o
cadastramento de doadora de leite. Lá pedi ajuda, mostrei as
fissuras, as bolhas de sangue... E aí eu encontrei uma senhora
simples, do interior. Mandou logo eu tirar o bico de silicone, disse
que não tinha necessidade. Disse que meu bico do peito não tinha
nenhum problema. Me colocou numa sala e lá me deixou a vontade.
Disse para eu ficar lá o tempo que fosse e chamar ela quantas vezes
fosse necessário. Ela me mostrou como tinha que ficar a boca dele no
peito e ela saiu. E aí fiquei lá nessa sala. Chamei ela umas duas
vezes. Perguntei como era mesmo a posição do braço? Da boca? Do
peito? Aí ela disse algo que foi fundamental para o sucesso da
amamentação: esquece a técnica. Bebês choram. Não se desespere.
É a única maneira que ele tem de falar pra você o que ele quer. Se
você se desesperar, ele vai sentir. Veja qual a melhor posição pra
você, não fique presa a posições. E aí foi quando tudo
aconteceu. A partir daquele momento ali na sala, por tentativa e
erro, eu fui construindo minha confiança em vários aspectos e me
comunicando com meu filho. Lá eu chorei um bocado ao ver que tinha
conseguido sozinha. Foi incrível. Depois desse dia tiramos de letra!
Larguei a almofada de amamentação pra lá e fui seguindo minha
intuição. Foi assim, com a ajuda de várias pessoas e
principalmente com o apoio do meu marido, que me incentivou, deu a
mão pra eu apertar quando sentia dor, e com o amparo da família que
conseguimos estabelecer uma amamentação prazerosa! Hoje estamos com
quase 10 meses de amamentação, sendo 6 desses com amamentação
exclusiva. Em todas as posições! =)
Para mim hoje
percebo como amamentar é se doar. Tenho profunda admiração por
essa entrega, essa conexão, essa troca de amor com tanta pureza e
beleza!
Esse relato foi para
comemorar a Semana Mundial da Amamentação 2013! O tema não podia ser melhor: Apoio próximo, contínuo e oportuno! Ou seja, um apoio de qualidade, um apoio acolhedor e sensível à realidade de cada mãe!
Mamíferas unidas!
Que lindo Gabi.. Lembrei de mim que foram 16 dias passando por tudo isso (so não passei por esses sangramentos, fissuras..etc..etc..) mas sofri muito toda vez que olhava para minhas roupas apropriadas para amamentar que havia comprado e pensava que jamais usaria pq ele n iria mamar...mas enfim conheci a enfermeira Tânia e ela me ajudou por 2hs, foram duas horas de estimulação total e conseguimos...Eu e ele juntos conseguimos e depois tudo se torna tão simples não é mesmo?..rs.. Depois de quase 27 meses amamentando vejo o quanto foi importante para nos dois essa persistência, não que quem não conseguiu amamentar seja menos mãe que eu mas acredito que tudo pra mim teria sido mais difícil se não tivesse sido assim.
ResponderExcluirparabéns por terem persistido tbm e ter o prazer de desfrutar dessa honra que é conseguir acalentar nossos filhos com um simples "tutu"...rs
Haaa... e ele continua, sem previsão de parar...
ResponderExcluirhahaha Que lindo Lili! É maravilhoso pode dar o melhor da gente com tanto amor e troca né? =) Parabéns pela amamentação prolongada. É o tema do próximo post! Mulher corajosa e informada você! Mamíferas unidas!
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