sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O Renascimeto (de mim mesma)

Depois de ir à pré-estreia do Renascimento do Parto, em João Pessoa, algumas pessoas me “cobraram” uma resenha sobre o filme, queriam saber como tinha sido a experiência e eu, que falo bem pouco sóquenão (principalmente quando o assunto é parto) resumia dizendo que tinha sido maravilhoso!
De fato, o é. Mas é bem mais que isso. Tem mais de uma semana que vimos o filme, e desde então, sigo digerindo muitas coisas.
Fomos marido, eu e baby ver o filme. Cauã dormiu o filme todo (uma pena que acordou no debate reclamando silêncio). Eu e o marido vivemos intensamente o filme. Nos emocionamos muito.

Não consegui dormir direito na noite depois do filme. Ficava me revirando, repensando, revivendo o nosso não parto. Durante o filme segurei a onda no choro com receio de acordar Cauã. A vontade que deu e que já tinha me dado muitas outras vezes era de voltar no tempo, mandar as médicas que fizeram terror psicológico comigo (“41 semanas com esse líquido? Você precisa ir ver sua obstetra AGORA, é bem preocupante” mesmo com um bem estar fetal) irem pra merda. Não, na verdade eu não iria em médico nenhum. Ia ficar em casa esperando a hora em que ele dissesse que estava pronto. Mas talvez eu não estivesse preparada pra tamanha pressão que é de todos que nos cercam passar das 40 semanas de gestação. Tanto que eu nem tinha coragem de falar direito com minha doula. Eu sabia que ela iria me puxar pra realidade, mas diante do contexto, me aterrorizei, junto com marido e mãe, diante da possibilidade de causar sofrimento ao meu filho (hoje com a informação que tenho, sei que estava tudo bem e que poderíamos seguir monitorando o bebê). É isso, me senti refém. E o que eu vinha lidando desde o nascimento em doses homeopáticas veio muito em uma dose única depois de ver o filme.

Lembro que depois que Cauã nasceu, eu passei algum tempo sem crer na humanidade. O mundo me pareceu por algum tempo um lugar muito hostil. Simplesmente me parecia impossível tamanha frieza diante de um ato como o nascimento, tamanha violência com a mãe e bebê separá-los, fazer procedimentos sem questionar, dentre outras coisas que vivenciei. Flashes vinham e iam na minha mente da tremedeira do pós-cirúrgico, do abandono na sala de recuperação, das mãos amarradas, de terem dado leite artificial quando pedimos que não o fizessem, da incapacidade de me dedicar à minha cria como queria, do silêncio da obstetra ao testemunhar a grosseria do anestesista comigo e com meu marido, da técnica em enfermagem mexendo na minha virilha espremendo pêlo encravado sem me perguntar... Em meio a tantas coisas ruins, me veio o cheiro, a textura da pele do meu bebê, do meu rosto esfregando o dele por microsegundos, do choro que se interrompeu quando ele escutou minha voz, do olhar que ele me deu pela primeira vez. Ver as cenas das mulheres parindo seus bebês de maneira tão respeitosa me reacendeu mais ainda a fé na humanidade. Depois de algum tempo vivendo o luto do nosso não parto, comecei o Movimentopela Humanização do Parto e do Nascimento em Natal junto de outras mulheres que também foram violentada durante o nascimento de seus filhos. Simplesmente eu não poderia silenciar diante dessa realidade violenta. E esse Movimento foi me alimentando de esperança em mudanças possíveis.

Entender como o modelo de assistência é perverso com as mães e bebês me ajudou a entender o nascimento do meu filho. E esse filme é tão poderosa ferramenta de mudança de consciência que eu me pego pensando em como vai ser lindo quando as sementes por ele plantadas encherem bosques. As pessoas podem até não sair modificadas imediatamente após assistir. Mas que elas devem passar algum tempo digerindo o que viram, repensando condutas e pensamentos.... ah vão! E quem disser que passou imune por esse filme eu desconfio de tamanha insensibilidade. Não estou falando só para as gestantes ou mães ou wannabe mães. O Renascimento é pra todo mundo, afinal, se trata da sensibilidade da Humanidade.

Eu posso dizer que saí muito mais forte do que entrei naquele cinema. Mais forte pra peitar os profissionais contrários à humanização, pra lutar pelas e com as mulheres pelo respeito que nos é direito, pra lutar para que bebês sejam respeitados e para que o sofrimento de ninguém seja naturalizado e silenciado. Mais forte pra viver o meu parto. Sou eternamente agradecida aos criadores pela possibilidade de vi(ver) algo tão lindo.

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