Confesso que antes de ficar
grávida achava a ideia do bebê dormir com os pais um pouco esquisita. Depois,
na gravidez, descobri que na verdade dormir com o bebê era uma prática comum em
muitos países e que, até recentemente (meados do séc XIX) no Ocidente que
surgiu essa prática de deixar o bebê dormir sozinho. Não fiquei surpresa ao
descobrir que essa prática surgiu na sociedade ocidental pós-industrial¹.
Acredito que esse seja outro item ruim da Industrialização da vida. Bom,
fazendo uma reflexão para o lado primitivo da coisa, que está em nós e não há
como negar, uma cria jamais seria deixada sozinha, pois dessa forma estaria
protegida dos caçadores. Indo para um contexto mais urbano, acredito que se a
mãe se permite escutar sua intuição por um momento, perceberá que para deixar o
bebê dormindo sozinho em outro quarto, estará indo contra o que manda seu
coração. Agora saindo um pouco da visão romanceada da coisa, e que não deixa de
ser real, e indo pra visão científica.
De acordo com a psicóloga
Danielle Motta, o lugar em que o bebê dorme parece estar relacionado com as
metas de socialização de determinada comunidade. Essa prática não é bem vista
na maior parte do ocidente, mesmo sendo comprovado o bem que faz para a mãe e
para o bebê. Os pais adeptos do attachment parenting (traduzido como “criação
com apego”) também defendem a cama compartilhada. Dentre os benefícios da prática segue alguns:
- Ela facilita o
aleitamento materno e sincroniza o sono dos dois 1,2,3,4,5
- Quando feita com
os cuidados necessários diminui a incidência da síndrome de morte subida do
recém-nascido 2,3,4
- A mãe não
precisa se levantar para amamentar, nem mesmo acordar completamente para
amamentar, conseguindo descansar mais 4,5
-
Estudos mostram que crianças que dormem com os pais são mais autoconfiantes e
tem maior autonomia do que as crianças que não o fazem4
-
Intensifica os vínculos afetivos com os pais 4,5
- Os bebês choram
menos 4,5
-
Os bebês estão mais protegidos, pois caso precisem de socorro, os pais percebem
com maior rapidez 2,3,4,5
Quais os cuidados que se deve ter
para compartilhar a cama? Bom, coisas básicas como não utilizar colchas pesadas
nem muitos travesseiros na cama, não dormir alcoolizado ou sob efeito de outras
drogas. Tem um manual de como fazer cama compartilhada com segurança aqui (em inglês).
O RELATO DA MINHA EXPERIÊNCIA
A gente comprou um berço
provavelmente porque é o que todo mundo faz. Eu não tinha muita noção de como
seria quando Cauã nascesse. Eu tinha lido sobre a cama compartilhada, mas
queria que ele tivesse o canto dele na casa. Bom, ele nasceu e nunca usou o
berço. Na verdade a gente usou o berço como porta entulho e em algumas ocasiões
pra tirar foto pra mostrar o quanto ele era pequenininho. Mas pra dormir, não.
Minha sogra e minha mãe tinham me dito que a gente não ia usar (Mal sabia eu
que seria uma mãe Montessori). Mas eu sou teimosa não sabia como seria.
Enfim, nas três primeiras semanas ele dormia no carrinho ao lado da cama. A
gente ainda não tinha colocado ele na cama porque tínhamos medo de esmagá-lo (Acho
que um medo comum de pais de primeira viagem. A gente tinha um cuidado
gigantesco pra pegar ele. Parecia que ao menor aperto ele ia quebrar). Quando entendemos que ele não era de porcelana, passamos do
carrinho pra nossa cama. Ele dormia entre eu e o pai. Senti uma diferença
gigantesca no sono dele, tendo diminuído absurdamente as vezes que ele
acordava. Nas primeiras semanas de cama compartilhada mesmo eu ficava acordando toda hora pra ver se ele
tava bem. Outra coisa foi que ele nunca mais chorou de noite. Quando queria
mamar ele soltava uns gemidos bem baixinhos como quem diz “mãe, tô com fome”,
eu pegava ele no colo e amamentava sentada na cama. Nessa época a gente ainda
não tava 100% na amamentação e eu me sentia mais segura amamentando sentada.
Depois com 1 mês e pouco, nem levantava mais, assim como faço até hoje. Conto
nos dedos de uma mão as vezes que levantei da cama durante a noite. Meu sono
ficou tão bom que eu voltei a sonhar! Outra coisa maravilhosa é poder acordar
com o sorriso dele. Ele acorda e fica ali olhando a gente dormir, sorrindo, balbuciando...
Aí a gente acorda, às vezes finge que tá dormindo pra ver se ele dorme de novo,
mas é sempre muito gostoso acordarmos juntos. Somos presenteados todas as manhãs.
Agora alguns tópicos que escuto
quando falo que fazemos cama compartilhada:
MAS E VOCÊ E SEU MARIDO?
Olha minha gente, eu não sou
hipócrita e não pago de santinha então vou falar no que eu acredito e vivencio.
Se a presença do seu filho na sua cama está afetando o seu relacionamento,
repense, porque o problema na relação não tem a causa nisso. Se você acha que a
sua vida sexual vai ficar ruim porque seu filho dorme com você, existem outros
lugares da casa que podem ser explorados. E deixa eu te dizer desde já que sua
vida sexual vai mudar bastante. Cedo ou tarde você descobre que um bebê muda bastante
a dinâmica do casal. Pra melhor ou pra pior, vai depender de como vocês vão se
adaptar à nova realidade. Aqui a gente trabalha em equipe! o/\o
VAI SER DIFÍCIL DEPOIS PRA TIRAR ELE DA CAMA
Mas quem falou em tirar ele da
cama? Todas as pessoas que eu conheço que fizeram cama compartilhada e que
seguem uma linha de educação para autonomia e independência, mas sempre com
amor e seguindo a intuição materna (criação com apego), relatam que chegou um
momento que o filho quis dormir sozinho no seu quarto, ou que foi dormir no
colchão ao lado da cama dos pais, fazendo o que a gente chama de quarto
compartilhado. Eu realmente acredito que existem outras questões relacionadas se
o processo é doloroso para uma criança não dormir com mãe. O fato isolado de
ela dormir com a mãe não influencia negativamente na autonomia da criança, ao
contrário, as crianças se sentem mais confiantes e seguras, como mostrei lá em
cima.
SEU FILHO VAI SER MIMADO E GAY
Ser mimado definitivamente não
está relacionado ao fato de fazer cama compartilhada. Eu não me importo se ele for gay.
Eu quero que ele seja feliz.
Fecho com uma citação da Danielle Motta, do artigo
1:
“Talvez a questão seja justamente esta, somar e não
sobrepujar, ouvir as sugestões sociais, sem calar os instintos e considerar, acima de tudo, o
bem-estar físico e emocional de quem depende de nós.”
Recomendo:
Facebook: Soluções paraNoites sem Choro
Fontes:
¹MOTTA, Danielle. Um bebê na cama dos pais. Revista Eletrônica Polêmica.
Disponível em http://www.polemica.uerj.br/pol22/cquestoesc/artigos/contemp_4.pdf
²SENA, Ligia. Cama compartilhada:
por que é bom e seguro? Disponível em http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/03/cama-compartilhada-por-que-e-bom-e.html
Gabi!
ResponderExcluirQue interessante como voce fala da cama compartilhada aqui. Eu nao sou mae, mas aprendo muito das amigas que sim sao. Tenho uma, que está esperando o terceiro filho, que tem o que ela chama de um quarto familiar: cama de casal e uma cama menor ao lado. Dormem os quatro aí e ela defende essa prática. É incrível, mas em lugar de ensinar dependencia, dá confianca que se necessita para desenvolver autonomia.
Lindo blog!
Beijos grandes.
Maíra