domingo, 6 de janeiro de 2013

Esterilização da vida - Parte 1


“Cesárea ué!” Foi assim que uma gestante me respondeu quando eu perguntei se ia ser normal ou cesárea. Como se fosse óbvio que as pessoas nascem por cesárea. Como se o normal fosse que as mulheres fossem submetidas a um evento cirúrgico de tamanho porte sem uma real necessidade. Como se o bebê não devesse ser consultado pra saber se naquela data ele queria nascer, afinal, era o nascimento dele. Não, ela não tinha pensado em nada disso. Depois da resposta dela perguntei: mas por que cesárea? Ela então disse: porque sim. Sei lá, tenho medo da dor.
Não sei quantas milhões de vezes eu escutei isso. “Vou fazer cesárea porque tenho medo da dor” e “Vou fazer cesárea porque é mais limpo” são nas respostas que eu mais escutei de grávidas quando eu estava grávida. Eu sabia que aquelas mulheres não tinham sido informadas quanto aos problemas de agendar uma cesárea sem um real motivo (mas isso fica pra outro post) e muito menos tinham recebido informações quanto ao parto natural. Não. Não se encontra informação e a grande maioria também não procura. E eu sempre me perguntei: como chegamos a esse ponto? Como chegamos a tamanha submissão? Como chegamos ao ponto de enxergar um evento natural que ocorre desde que a gente existe como algo tão impossível para nós mulheres vivenciarmos? Foi então que comecei a procurar e procurar e achei um livro em particular que me encantou e me encanta e que vai ser muito citado nesse blog: O camponês e a parteira – uma alternativa a industrialização da agricultura e do parto (recomendo a leitura). Essa cultura de esterilização, onde o parto é visto como um evento sujo está absurdamente ligada ao processo de industrialização da vida. E isso envolve o que comemos, o que consumimos, como vivemos e, claro, como nascemos. Um evento cirúrgico, em um ambiente esterilizado, onde o bebê é rapidamente “limpo” (apesar dos estudos mostrarem os benefícios do vérnix, aquela gosminha que envolve o bebê e o protege e que de sujeira não tem nada), onde supostamente se tem o controle dos eventos, parece um evento ideal para uma sociedade que procura se anestesiar de sentimentos e se afastar de si cada vez mais. Uma sociedade longe de vida, que não se escuta, não escuta ao outro e muito menos à Mãe Natureza. Querem acobertar o lado primitivo.

Dicionário Aurélio: primitivo: 1.Dos primeiros tempos; 2. Diz-se dos povos ainda em estado natural; 3.Rudimentar, simples; 4.Não derivado; primário.

Se é o que veio primeiro, se é o que é natural, se é o que é simples, por que o parto natural é visto como um evento sujo? Seriam então, outros eventos, como o beijo, onde há troca de saliva e muitas outras coisas, o sexo, onde há mais troca ainda, considerados sujos? Sendo sujo sinônimo de imundo, tendo você respondido sim a essa última pergunta só posso lamentar. Quanta vida você está perdendo. Essa esterilização só nos afasta de nós mesmos, do contato mais íntimo que podemos ter com nosso eu. Essa esterilização mascara um monte de coisas, que um dia vão vir a tona, querendo ou não.  Vão fazer você se sujar, vão fazer você sentir. Medo, todos nós temos de alguma coisa. Ter medo por ignorância, aí é um problemão. Pra quem o tem. E é por isso que a principal ferramenta que temos pra vencer essa cultura cesarista é a informação. É a humanização da vida. De alguma maneira, com a  industrialização das máquinas, industrializamos a vida e as mulheres se esquecem que são capazes, que muitas já pariram antes. Se fosse tão absurdamente doloroso, talvez estivéssemos extintos. Menos medo do desconhecido, mais informação.  Fica a reflexão.

Este tema carrega muitos conteúdos importantes que com certeza serão elucidados em outros posts.

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