“Cesárea
ué!” Foi assim que uma gestante me respondeu quando eu perguntei se ia ser
normal ou cesárea. Como se fosse óbvio que as pessoas nascem por cesárea. Como
se o normal fosse que as mulheres fossem submetidas a um evento cirúrgico de
tamanho porte sem uma real necessidade. Como se o bebê não devesse ser
consultado pra saber se naquela data ele queria nascer, afinal, era o
nascimento dele. Não, ela não tinha pensado em nada disso. Depois da resposta
dela perguntei: mas por que cesárea? Ela então disse: porque sim. Sei lá, tenho
medo da dor.
Não
sei quantas milhões de vezes eu escutei isso. “Vou fazer cesárea porque tenho
medo da dor” e “Vou fazer cesárea porque é mais limpo” são nas respostas que eu
mais escutei de grávidas quando eu estava grávida. Eu sabia que aquelas
mulheres não tinham sido informadas quanto aos problemas de agendar uma cesárea
sem um real motivo (mas isso fica pra outro post) e muito menos tinham recebido
informações quanto ao parto natural. Não. Não se encontra informação e a grande
maioria também não procura. E eu sempre me perguntei: como chegamos a esse
ponto? Como chegamos a tamanha submissão? Como chegamos ao ponto de enxergar um
evento natural que ocorre desde que a gente existe como algo tão impossível
para nós mulheres vivenciarmos? Foi então que comecei a procurar e procurar e
achei um livro em particular que me encantou e me encanta e que vai ser muito
citado nesse blog: O camponês e a parteira – uma alternativa a industrialização
da agricultura e do parto (recomendo a leitura). Essa cultura de esterilização,
onde o parto é visto como um evento sujo está absurdamente ligada ao processo
de industrialização da vida. E isso envolve o que comemos, o que consumimos,
como vivemos e, claro, como nascemos. Um evento cirúrgico, em um ambiente
esterilizado, onde o bebê é rapidamente “limpo” (apesar dos estudos mostrarem
os benefícios do vérnix, aquela gosminha que envolve o bebê e o protege e que
de sujeira não tem nada), onde supostamente
se tem o controle dos eventos, parece um evento ideal para uma sociedade que
procura se anestesiar de sentimentos e se afastar de si cada vez mais. Uma
sociedade longe de vida, que não se escuta, não escuta ao outro e muito menos à
Mãe Natureza. Querem acobertar o lado primitivo.
Dicionário
Aurélio: primitivo: 1.Dos primeiros tempos; 2. Diz-se dos povos ainda em estado
natural; 3.Rudimentar, simples; 4.Não derivado; primário.
Se
é o que veio primeiro, se é o que é natural, se é o que é simples, por que o
parto natural é visto como um evento sujo? Seriam então, outros eventos, como o
beijo, onde há troca de saliva e muitas outras coisas, o sexo, onde há mais
troca ainda, considerados sujos? Sendo sujo sinônimo de imundo, tendo você
respondido sim a essa última pergunta só posso lamentar. Quanta vida você está
perdendo. Essa esterilização só nos afasta de nós mesmos, do contato mais
íntimo que podemos ter com nosso eu. Essa esterilização mascara um monte de coisas,
que um dia vão vir a tona, querendo ou não.
Vão fazer você se sujar, vão fazer você sentir. Medo, todos nós temos de
alguma coisa. Ter medo por ignorância, aí é um problemão. Pra quem o tem. E é
por isso que a principal ferramenta que temos pra vencer essa cultura cesarista
é a informação. É a humanização da vida. De alguma maneira, com a industrialização das máquinas, industrializamos
a vida e as mulheres se esquecem que são capazes, que muitas já pariram antes.
Se fosse tão absurdamente doloroso, talvez estivéssemos extintos. Menos medo do
desconhecido, mais informação. Fica a reflexão.
Este
tema carrega muitos conteúdos importantes que com certeza serão elucidados em
outros posts.
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