quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Babywearing: praticidade e contato pele a pele




Não sei o que seria de mim sem babywearing. No primeiro filho era uma mão na roda, agora com dois filhos é praticamente o braço inteiro! Usei desde o primeiro dia de nascido dos dois e Cauã usou até cerca de um ano e meio, mas tem gente que usa mais tempo. Andar de transporte público fica incrivelmente mais fácil, especialmente se preciso colocar o mais velho no meu colo sentada. Além disso, descer com o cachorro e com uma criança andante se torna bem mais prático e fácil, garantindo, quase sempre, uma soneca da pequenina no colo deixando minhas mãos livres para segurar a mão do pequeno mais velho!


Existem diversos modelos e cada pessoa se adapta melhor a um tipo. Confira uma tabela com os modelos aqui. Eu particularmente amo o wrap sling para bebês mais novos, acho o modelo pouch super prático (mas me deixa com uma dor na coluna por não distribuir o peso) e mais recentemente descobri o ergobaby e confesso que tem sido um caso de amor. Achei mais prático e ele proporciona o mesmo ajuste respeitando a anatomia do bebê.

Pouch Sling Foto:babysteals.com
ergobaby.com
Wrap sling! 







O carregador de bebê deve proporcionar uma angulação correta dos joelhos em relação aos quadris, proporcionando maior conforto e respeitando a anatomia do bebê. Há quem diga que o babywearing auxilia inclusive o desenvolvimento da articulação fêmur-quadril. Observe a figura abaixo.

Aqui no Coletivo Maternar já falamos sobre o aspecto histórico do sling na humanidade.
Existem inúmeros benefícios do uso de babywearing para mãe e bebê, tais como os citados abaixo, dentre outros:
  • Auxílio na consolidação do vínculo cuidador-bebê;
  • Alívio de cólicas e choros;
  • Praticidade para a mãe;
  • Auxílio na produção do leite;
  • Proteção de fatores ambientais como barulho, luz, olhares curiosos...
Dentro do pano um mundo de sons e cheiros conhecidos deixam o bebê mais calmo. Pode ser que no início o bebê estranhe, mas basta balançar um pouco que o bebê se acalma e se acostuma trazendo memórias de dentro do útero. Olha como a Cecília, com quase 15 dias, ficava dentro do sling. Parecia que ainda estava dentro de mim! Uma delícia pra ela e pra mim! ;)


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Brincando de escavar fósseis de dinossauros!

Se tem uma coisa que as crianças em torno dos três anos tem amado é tudo relacionado ao tema de dinossauros. Na escola do Cauã eles estão desenvolvendo um projeto bastante interessante sobre
os dinossauros e domingo ele ganhou do avô um brinquedo que deixou todo mundo da casa entretido
por cerca de uma hora contínua (loosho aqui)!

É um kit de arqueologia de dinossauro. É um molde de gesso que tem ossos de dinossauro dentro e que vem com um kit pra você ir quebrando o gesso e encontrando as peças. Depois é só montar tudo e aí tem o dinossauro.

Obviamente que você não precisa comprar um kit desses pra brincar disso. Esse brinquedo me deu mil ideias de outras atividades pra fazer com Cauã! Por exemplo, pode-se brincar disso no parquinho.
Se você não tem as peças em plástico, não tem problema. Dá pra imprimir e recortar e fazer uma colagem depois em papel cartão e montar como um quebra-cabeça!

Aqui tem uns moldes que separei do google nesse link.

Nessa atividade trabalha-se: concentração, coordenação motora fina e integração sensorial

Divirtam-se!

domingo, 13 de setembro de 2015

Antes de falar, pense duas vezes.

“Cuidado viu, a cunhada da prima do vizinho do meu namorado morreu no parto normal. O filho da amiga da tia do meu professor ficou com problema por causa disso.”

Ah! As entidades fantasmagóricas que assombram o inconsciente coletivo e que parecem cutucar as pessoas quando vêem uma mulher grávida para contar toda e qualquer história milaborante cheia de carga negativa para carregar ainda mais a mente e o coração daquelas que geram uma nova vida que chegará ao nosso planeta.

O ato de estar grávida parece ser bastante social quando o bebê está na barriga e quando está nos braços da mãe. Mas infelizmente caminhamos para um ato social que é individualista, porque ele parece ser somente um mundo de pitacos e histórias de caráter duvidoso ao invés de ser um portal de acolhimento da mãe e do bebê.

Estar grávida para algumas pode ser uma dádiva, para outras um fardo. A grávida conta já com uma série de novidades no seu corpo, mente e espírito. Anseios, medos, expectativas, mudanças bruscas permeiam o resto da vida da mulher que se torna mãe. Pode parecer que não, mas a maternidade pode ser um tanto isoladora. Primeiramente porque esse papel social dos indivíduos que contam histórias mirabolantes, ou que acariciam a barriga sem pedir permissão, termina ali. Quando a mãe precisa de apoio depois do nascimento, por exemplo, essa função social morre. É um ser social individualista e egoísta. Onde ele faz algo sem cogitar o que a grávida sente ou pensa a respeito, portanto, deslegitimando a mulher e o bebê. Mas isso vai muito além.

Quando você fala algo ruim, seja contando uma história seja compartilhando histórias negativas sobre qualquer que seja o assunto, você está jogando uma carga negativa no ser que chega. Já pensou sobre isso? A gestante lê ou ouve algo desagradável e seu corpo biologicamente irá responder, e a sensação que ela tiver o bebê irá sentir. Já bastam as tristezas inerentes à existência, né?

Na minha primeira gravidez, tive que rebater inúmeras vezes comentários desnecessários sendo até mesmo grossa para que as pessoas compreendessem o limite que eu estava colocando. Na segunda gestação, ainda colhi alguns desses frutos, principalmente de pessoas mais próximas que compreenderam os limites que eu já impunha. Mas qualquer grávida/mãe sabe como, por exemplo, se sai uma reportagem negativa sobre parto, imediatamente algumas muitas pessoas compartilham com essa mulher. Já se saem reportagens positivas, ou não compartilham ou um número significativamente menor de pessoas o fará.

Por isso hoje, eu convido você a assumir a responsabilidade enquanto ser Humano no planeta Terra. Uau! Parece um pouco demais? Não.

Bem simples: quando você tiver contato com uma gestante simplesmente conte histórias positivas, fale sobre coisas legais. Já basta o patriarcado e o machismo cotidiano para oprimir as mulheres. Leve mensagens de apoio,, procure escutar o que ela tem a dizer e respeite. Respeito mútuo é algo básico para termos relações saudáveis, não é mesmo? 

Então, vamos encher esse bebê de coisas positivas. Pra que ele saiba que a vida aqui fora vale a pena e pode sim ser muito bonita.

Em alguns lugares, as gestantes ficam recolhidas no período da gestação, por considerarem esse período sagrado e por isso muito importante utilizar um filtro para a energia que chega à mãe e ao bebê. No Brasil já existem locais que os casais vão durante esse período até um pouco após o parto para viverem a plenitude do momento sem as influências negativas que conviver em sociedade pode proporcionar.

A mesma dica fica para as pessoas que conhecem mães. As mães dão o melhor que podem. Se quiserem ajuda ou sugestão, vão pedir. Portanto, nada de encher de carga negativa ou de pitacos (que podem ser mau recebidos) mães e pais, ok? Vamos criar uma rede de apoio consciente de seu papel e apoiadora de verdade das mães e pais.  

Vamos ensinar a todos que nos rodeiam sobre a importância do bem dizer?

Participe compartilhando notícias ou coisas bonitas para gestantes e mães do seu círculo social use a #falarconsciente


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Relato de parto da Cecília e o renascimento de mim mesma

Dia 16 de junho eu completaria 37 semanas. Dia 15 comecei a sentir contrações doloridas de 10 em 10 minutos. Dei pulinhos de alegria, derramei algumas lágrimas de emoção e fui sentindo aquilo. Logo depois me vieram cenas do nascimento do Cauã na cabeça (mais no coração, talvez). Sabia que elas poderiam aparecer. Nós não tivemos uma experiência positiva no primeiro nascimento e eu sabia que o segundo nascimento poderia trazer memórias guardadas. Mas tinha me preparado ao longo da gestação para isso. Gestei bem algumas dores e pari elas ao longo da gestação da Cecília, porque sabia que memórias assim poderiam atrapalhar o parto. Enfim, abracei essas dores com toda a minha vontade a ponto de elas sumirem. Fazem parte da nossa história, afinal. Então avisei à minha equipe depois de algumas horas e fui tomar um banho quente como pediram. Tomei e as contrações sumiram. Brochei. Poxa, eram pródromos. Então fui pra rotina normal e fui dormir. Na madrugada as contrações apertaram, mas não ritmaram. Doíam pouco, agora sei. No dia seguinte tinha consulta de pré-natal (em casa) com minhas enfermeiras, a Ana e a Nath. A Ana me avaliou, avaliou Cecília, tudo bem. Contrações doloridas, que perdiam o ritmo. Pródromos. Era isso, era uma questão de tempo. Ah! O tempo. Sempre tivemos uma relação um tanto conturbada. Coisa de quem é ansiosa. Enfim, sabia que os pródromos poderiam durar alguns dias. Só não sabia que poderiam durar tantos dias. Dias de intenso aprendizado, cura e preparação. Oscilava entre “meu corpo sabe parir, é só esperar”, “será que tem alguma coisa errada?”, “acho que ela não tá pronta”, “Cecília sai logo daí cara, vamos nascer, quero parir”. Loucura total. Absoluta imersão no meu caos interno. Que viagem deliciosa, penso eu agora, já fortalecida (e fora do turbilhão). Pois bem, nesse período, logo no início, pedi pra doula vir, me ajudar, fizemos algumas medidas naturais para indução, chá, escalda-pés, massagem. Nada parecia funcionar. Claramente porque Cecília ainda não estava pronta. (E acho que nem eu). Ao longo dos 21 dias a única coisa que pensava era que não queria pressão social. Como sou espertinha e já passei por isso no primeiro filho, menti a dpp pra todo mundo. Sim família e amigos, menti. E sinceramente, todas as grávidas deveriam. Gestar é um processo social, além do individual, obviamente, mas as grávidas e seus bebês sofrem uma pressão sem fim que não necessitariam sofrer. Então, como minha primeira gestação chegou às 42 semanas e eu já estava quase mandando todo mundo pra putaquepariu (trocadilho besta hein), resolvemos mentir. Voltando à imersão dos 21 dias. Foram muito difíceis. Porque eu não me sentia a vontade para sair de casa, já que a cada contração dolorosa eu precisava parar um pouco e respirar fundo. As pessoas olham com certa preocupação para mulheres visivelmente a beira de parir e paradas respirando diferente. Então passei a maior parte do tempo em casa. Pra não surtar completamente, comecei a inventar pequenos projetos de artesanato. Lavar roupa. Dormir. Ler. Ver séries (o melhor passatempo EVER). Depois de 15 dias achando que a qualquer momento ia engrenar, comecei a ter certeza de que nunca mais seria uma pessoa não grávida. Juro que comecei a viver como se eu fosse ficar pra sempre naquela condição. Até que...

Até que meu companheiro me deu um empurrão num processo que eu precisava perceber: minha ansiedade estava me consumindo. Todo dia de manhã quando acordava e percebia que não tinha parido, passava o dia borocochô. Depois da dica fiquei mais atenta a lidar com sabedoria com o processo. Vez ou outra ia conversar mentalmente com as paridas do meu painel de inspiração. Ah a danada da espera. Entender que a qualquer momento o trabalho de parto poderia de fato começar me deixava super ansiosa para qualquer contração mais doída. Lembro que as contrações mais fortes eu falava em alto e bom tom: é isso aí, manda brasa! (hahaha amadora) Mas elas foram episódios isolados, pessoas solitárias em meio às contrações doloridas de verdade. As parteiras disseram pra mim: quando for trabalho de parto, você vai saber. (de fato eu realmente soube). Então galeuris fica a dica: pródromos longos? Depois de aproveitar pra descansar, vá fazer qualquer coisa pra pensar em outra coisa que não seja o parto. No meu caso, como eu tive MUITO tempo, eu usei a maior parte pra ficar sendo bipolar entre “a Cecília não tá pronta, quando estiver vai engrenar” para “vai Cecília nasce logo”. Até o momento em que eu me conectei comigo mesma, ouvi meus medos, me tranquilizei conversando francamente com minhas parteiras e decidi ir ao cinema, fazer outras coisas puramente com fins distrativos. Cerca de quatro dias antes do parto, fiz acupuntura e depois moxa. As contrações ficavam bem fortes e frequentes logo depois das aplicações, mas sem ritmo. E sumiam depois de um banho quente ou de deitar na cama. Na última semana eu consegui dormir todas as noites inteiras, as contrações simplesmente pararam de intensificar durante a madrugada, me deixando mais ainda com a sensação de que ia ficar pra sempre grávida. No domingo antes do parto fui a uma feira ao ar livre dar um rolé e foi ótimo. Encontrei pessoas, gargalhei, comi, admirei a beleza de Brasília e suas intervenções urbanas, além das naturais.

No dia seguinte, seis de julho. Pela manhã fomos ao parquinho com Cauã. Fizemos almoço. Estava vivendo a vida, o presente, finalmente. Já não sentia mais ansiedade como antes. Parava nas contrações dolorosas, fingindo admirar o céu, a árvore, quando estava na rua, pra evitar olhares curiosos ou preocupações desnecessárias de desconhecidos.  Depois do almoço fui cochilar com o mais velho, deitei ao lado dele, fiz carinho, adormeci. Algum tempo depois acordei com uma contração, senti algo fazendo ploc e levantei rapidamente quando a contração passou. E aí, eis que minha bolsa tinha estourado. Yes! Finalmente! Torcia para que as contrações começassem a se intensificar. Cauã dormiu tanto que achamos melhor não ir para a escola. A Ana veio me avaliar e estava tudo bem, pediu pra eu seguir a vida normalmente até que engatasse mesmo. Já pro final da tarde eu tinha tido episódios isolados de contrações bem mais dolorosas. Resolvemos sair para lanchar e ir ao mercado abastecer para o parto. Do lanche eu não consegui ir ao mercado. As contrações estavam espaçadas mas bastante doídas. Fui para casa, tomei um banho quente e fiquei torcendo para que as contrações não desaparecessem. E não desapareceram. Marido e filho chegaram, contrações estavam apertando. A cada uma, eu vocalizava continuamente, usando a técnica de respiração abdominal e abertura da boca para a abertura dos anéis do corpo. Mas infelizmente Cauã ficou incomodado com minhas vocalizações e achamos melhor pedir para que meus pais o levassem para a casa deles. Já tínhamos combinado isso previamente. Após a saída de Cauã, me soltei de verdade e pude me entregar ao processo sem preocupações. Avisei à doula e às parteiras que as contrações tinham se intensificado. A cada uma, eu vocalizava, usando a expiração de uma inspiração longa e vagarosa. Léo, meu companheiro, deixou as luzes indiretas, como eu queria. Ficou um pouco comigo. Fui pro chuveiro e as contrações ficavam mais intensas. Estava muito contente de ver meu corpo funcionando. As parteiras chegaram e foram organizar as coisas. Saí do chuveiro e fui pro quarto, sentei na banqueta de parto e pedi que meu marido ficasse atrás de mim. Passada a contração vi que tinha saído cocô, e não fiquei com vergonha. Não sabia como iria reagir a esse momento e poucos relatos falam do cocô. Pois é, tamanha força e compressão do reto, sai cocô. Pouco. Nada demais. Enfim, estava doendo pra caralho. Muito mesmo. Eu vivia um duelo porque sabia que tinha que apagar meu neocortex pra coisa rolar mais naturalmente. Mas se eu estava pensando em apagar o neocortex provavelmente eu não tinha apagado, pensava eu. E aí a Ana perguntou se eu queria a piscina. Eu perguntei se dava tempo. Elas disseram que talvez fosse interessante fazer um toque para avaliar em que patamar estávamos. 20h: Nath veio, avaliou. Não falou nada e saiu. Nessa hora já imaginei que deveria estar desfavorável, com colo grosso e pouca dilatação. Ela foi sábia pra caramba de não ter me dito. E eu não perguntei porque não queria brochar ou duvidar do meu processo. Tamanha sensibilidade minhas parteiras tinham. Sabiam que minha ansiedade poderia atrapalhar e souberam lidar com isso e comigo de uma maneira ímpar. Sou muito grata à maneira que tudo foi conduzido. Após perceber que o processo poderia demorar, de ver a movimentação pra montar a piscina e tal, resolvi esperar no chuveiro, relaxando, vocalizando agachando, me entregando. Deixei uma luz de led na tomada, liguei o chuveiro no mais quente possível e fiquei lá por um tempo. A cada contração soltava: aaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Tipo aquela daquele post que fiz sobre o canto carnático. Lembrei muitas vezes daquela indiana que conduziu as mulheres no canto. Do som da água do vídeo. Do vídeo do parto da bailarina vocalizando também. Aí minha doula chegou! Ufa! Elisa chegou e perguntou prontamente o que eu precisava. Eu disse que estava muito frio. Veja, o banheiro tem uma janela quebrada que sempre me irrita porque deixa passar um ventinho frio assim que saímos dentro do box do banho quente. E eu estava com a porta do box aberta. Então... Elisa convocou Léo e elaboraram uma engenhoca pro vento parar de me incomodar. Colocaram alguns sacos plásticos na janela com fita crepe e funcionou muito bem. Tão bem que eu podia ver a fumaça do banheiro contra a luz led da tomada. E a partir daí a imersão foi belíssima.

Sentia as dores da contração. Doíam muito. Perguntava pela banheira, mas não estava pronta. Sentia meu corpo se abrindo. Contração vem, vocalização, respiração. Contração vai, procurava relaxar os outros músculos do corpo: cervical, face, mãos e braços. Contração vem: vocalização, respiração. Contração vai: lembrar de apagar o neocortex. Contração vem: vocalização, respiração. Contração vai: eu tenho que parar de pensar em apagar o neocortex e me entregar. Contração vem: vocalização, respiração. Contração vai: ah que delícia as massagens da doula. Contração vem: nossa isso tá doendo pra caralho, acho que vou sair do chuveiro. Contração vai: vamos pra cama, tô morta, preciso descansar! Elisa vai comigo pra cama. Deito de lado e simplesmente as contrações parecem não parar. Não dá pra descansar. Fico gritando pra Elisa apertar meu quadril. Usou toda a força e aliviava bem. Uma hora ela estava praticamente em cima de mim de tanta força que eu pedia. Mas aliviava mesmo. Deitada foi horrível, doeu mais. Não deu pra descansar. Pedi pra voltar pro chuveiro, porque a piscina não estava pronta. Voltei pro chuveiro. Durante as contrações comecei a perceber a analogia das ondas do mar. Perfeito. Vem e vai, vem e vai. Mas chegou um momento em que começaram a ficar quase insuportáveis. E aí... aí eu disse aquela frase CLÁSSICA de quem está perto de parir: EU ACHO QUE VOU MORRER. E depois de vomitar, fazer cocô (não sei se eu realmente fiz) e gritar isso, imediatamente depois, eu pensei: putz, tá perto mesmo! Elisa disse logo depois: Que bom! Tá pertinho! Você consegue! E aí a Nath veio perguntar se eu queria agulhamento. A Ana, a outra enfermeira, tem um curso e usa uma técnica de agulhamento a seco no parto para alívio da dor. Eu nem esperei a Nath terminar de falar. Ouvi agulhamento e disse EU QUERO! Ok. Ana vem, com toda sua sabedoria, falando baixinho. Senta na frente do box. Não sei que magia a voz da Ana tem, mas fiquei instantaneamente mais centrada só com o tom da voz dela. Estava em uma contração, perdendo as estribeiras, querendo partir pro caos ao invés da entrega harmoniosa e lembro da Ana: respira Gabi, devagar, já já passa. Se eu pudesse eu gravava o jeito que ela falava. Era quase uma hipnose. Automaticamente a contração passava a ser suportável, eu voltava a vocalizar, a vibrar os lábios pra auxiliar a mucosa a relaxar, a rebolar. Entre uma contração e outra, consegui sentar na banqueta de parto e ela aplicou. Fiquei 15 minutos com as agulhas. Com 3 minutos veio outra contração, mas já senti uma melhora da intensidade, muito mais suportável. A Ana tirou as agulhas, Elisa voltou, e eu fiquei lá, em imersão em mim mesma. Quando eu pensava em titubear pensando no toque que eu sabia que não tinha grande dilatação eu lembrava rapidamente da lei do esfíncter, e isso me tranquilizava muito. Sabia que abrindo a boca ajudava a abrir o colo do útero, vibrando o lábio relaxava a mucosa e o períneo e usei e abusei dessas técnicas. Então comecei a sentir puxos. Puxo é quando dá vontade de fazer força. Depois do primeiro, avisei a Elisa: Elisa estou tendo puxos! Ela saiu e foi chamar a Ana. Ana veio. Perguntou se eu conseguia sentar para ela me avaliar. Eu sentei, de costas pra ela, porque a banqueta estava virada de costas pra saída do box, que é um quadrado que só cabia eu. Enfim, Ana pediu pra eu virar e eu já na minha versão bicho disse que não, que ela ia ter que me avaliar assim mesmo. E aí ela avaliou, fez um contorcionismo danado, fez um toque e pediu pra que eu tocasse. Toquei e pude sentir a cabeça de Cecília no canal de parto. Foi uma sensação incrível. Então pedi ajuda, viramos a banqueta e eu. Ana sentou, colocou sua luz de escavador na testa (hahaha) e eu apoiei o pé esquerdo no joelho dela. Segurei no suporte da parede com uma mão e com a outra segurei na barra da porta do box (que não sei como não quebrou). JURO que o expulsivo não doeu. Durante uma contração e outra do expulsivo eu tive a sensação nítida de estar em cima da prancha no mar, esperando a próxima onda. Com a mesma calmaria, com a mesma paz, com a mesma plenitude e sintonia com a natureza. Vibrei lábios entre as contrações. Abri ao máximo a boca e vocalizei durante as contrações. No segundo puxo eu queria um pouco perder o eixo, mas aquele olhar de paz da Ana, nunca vou esquecer. Nunca vou esquecer aquele momento. Eu olhava pra ela e era como se eu me visse dizendo: tá tudo bem. Sentia uma confiança absurda de que realmente tudo sairia bem e sentia uma tranquilidade incrível. A Ana dizia: deixa ela descer Gabi, só faz força quando tiver vontade. E eu esperava o sinal do meu corpo de que a força estava vindo. Uma força que eu não reconhecia. Não sabia que tinha. Não era uma força só de colocar um filho para fora do meu corpo. Mas uma força criadora. Uma força criativa. Empoderadora. Fortalecedora. No expulsivo, entre uma contração e outra, era como se tivera chegado num lugar em que nunca estivera. Com uma vista incrível. Tudo ficou claro. A vida, seu propósito e sua beleza. Ali, naqueles poucos segundos entre uma contração e outra eu me reencontrava. Quando ela saiu e escorregou para as mãos da Ana, que logo me entregou, às 23:15, eu atingi meu Samadhi. Minha ascenção espiritual. Falei: EU CONSEGUI. Eu realmente consegui. Todos choraram e pedi para que Léo viesse ficar com a gente no box do chuveiro. Foi incrível.

No meu gestar e parir me encontrei em mim. Percorri lugares nunca percorridos, encontrei dores escondidas, fortalezas esquecidas e vivi o presente como nunca houvera vivido. Senti-me entorpecida de amor, de esperança e de paz. Fez-se luz nas minhas vistas, no meu coração e na minha mente e agora sou outro alguém.  

Muito mais plena.

Gratidão ao meu grande amor Léo, às parteiras mais especiais que eu poderia ter arrumado Ana e Nath e à inspiradora doula Elisa.
Sou grata pela sensibilidade, pela voz baixa e afetuosa, pelo cuidado holístico e olhar de quem acredita.

*Minhas parteiras são da Périnatale.


OBS: Esse parto foi um vbac. Períneo íntegro, trabalho de parto com cerca de 3 horas.  
Hora de ouro! Mamando no calor da mamãe na primeira hora de vida!

Foto com a equipe da Perinatale com as enfermeiras obstetras Ana Moulaz e
Nathália Paiva  e a doula Elisa! Comemorando o períneo íntegro!


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Se todos os partos forem medicalizados, então qual a função da parteira?

Tradução livre e adaptada de trechos da reportagem postada no The Telegraph em 24 de junho de 2015 por Judith Woods. Acesse o texto completo em inglês aqui.

Nota do Coletivo Maternar: quando falamos parteiras no Brasil, falamos de enfermeiras obstetras e obstetrizes. No exterior midwife é uma formação parecida com a da obstetriz no Brasil.

O obstetra francês Michel Odent acaba de escrever um novo livro intitulado: Nós precisamos de Parteiras?, onde ele afirma que o aumento da medicalização no parto está relacionado à perda da capacidade de parir, em detrimento da humanidade.

Odent fez de seu trabalho de vida testar e empurrar os limites. Nos anos em que coordenou uma unidade de maternidade em Paris e seu subsequente estabelecimento no Centro de Pesquisa em Saúde Primária em Londres ele introduziu ideias inovadoras que agora são tomadas como sábias.

Foi ele quem promoveu a ideia de partos na água e suítes com baixo aparato tecnológico, contato pele a pele após o parto e o incentivo a amamentação na primeira hora após o nascimento.

Dar ao seu novo livro um título provocativo é, começo a suspeitar, uma trama para incitar uma audiência que não está normalmente interessada nas políticas obstétricas. Sua argumentação é que precisamos mais que nunca das parteiras. Em particular, precisamos nos tornarmos "protetores do processo evolutivo", protegendo as mulheres de médicos que tentam intervir em partos, e assegurando que elas tem espaço e paz para parir naturalmente.

"Quando eu pergunto 'precisamos de parteiras?' é uma pergunta real", ele ressalta. "Se todos os partos são medicalizados, então que função uma parteira tem? Que tipo de parteira nós precisamos?"

O cenário ideal, diz Odent, é que a mulher dê a luz em um quarto escuro, quente e calmo, como única companhia uma parteira tricotando. Ele argumenta que é uma cena mais pragmática do que romântica: "Nós só descobrimos em Julho de 2014 que a melatonina, o hormônio do sono, tem um papel importante no parto e que é destruída pela luz, então ter luzes reduzidas é muito importante," ele diz. "Assim como também é o aspecto de tricotar; atividades repetitivas reduzem a adrenalina, que se presente, tem um efeito sutil na parturiente."

A cena que ele descreve é bastante contrária à cena comum de um parto em ambiente claro, cheio de gente e agitado. Pelo pensamento do obstetra, os princípios da medicina moderna - apesar de altruístas - estão minando um processo natural, resultando em muitas cesarianas, que tem resultado no que ele chama de uma "neutralização da seleção natural" indesejável.

"Não sou contra cesarianas, não mesmo. Fiz mais de mil delas; escrevi um artigo no Lancet destacando que muitas mulheres estão sendo largadas durante o trabalho de parto com dor por muitas horas quando uma cesariana de emergência seria preferível."
[...]
"Mas estou enxergando a longo prazo sobre como o aumento da medicalização irá afetar a humanidade e o resultado é que algum dia a maioria da via de parto será por cesariana. Precisamos olhar a frente e compreender as consequências. Eu não dou opiniões, eu afirmo fatos, mas às vezes esses fatos parecem incompatíveis com interesses e são culturalmente inaceitáveis."

Odent é pai de três e avô de três netos e faz perguntas desconfortáveis e filosóficas porém necessárias - sobre o que fazemos como espécie e como isso influencia a nós como indivíduos.

"Nos séculos anteriores as mulheres que eram capazes de parir tinham muitas crianças. Mulheres que não era, morriam no parto. Isso é um fato," ele diz. "Graças aos milagres da medicina moderna e da ciência reprodutiva, a maioria das mulheres que querem ter dois bebês, conseguem tê-los. Similarmente, mulheres que em outras épocas poderiam ter muitos filhos agora param em dois; isso é ótimo para as mulheres mas claro que tem um impacto geral." O impacto não é singular; bebês nascidos por via cirúrgica em um ambiente estéril ao invés de um canal de parto rico em micróbios, não tem a mesma oportunidade de desenvolver resistência às doenças. Bebês nascidos por cesariana tem cinco vezes mais chances de sofrerem alergias.

Mães que tiveram cesarianas ou que foram induzidas por drogas que imitam a ocitocina, o hormônio do amor que induzem sexo, amor, vínculo e a amamentação, não produzem a delas próprias, o que causa um efeito devastador na maneira que elas se vinculam às suas crias e às respostas dos bebês. Odent também acredita que exista uma relação entre o aumento de cesarianas e o aumento das taxas de autismo; pessoas autistas produzem menos do hormônio em questão.

"Meus livros não são para mulheres grávidas," diz Odent. "O tempo delas e muito precioso; elas deveriam estar apreciando a lua, cantando para o bebê e contemplando."
Ele expressa esse sentimento com tanta certeza que serve de lembrete que na França, ser filósofo é um trabalho real.
[...]
"As pessoas não são geneticamente programadas para pensar a longo prazo," diz Odent. "Quando uma mulher fala sobre esse assunto ela foca no próprio corpo, no próprio bebê. Estou falando de evolução humana e as pessoas preferem não olhar tanto pra frente."

Olhando o panorama geral os fatos parecem sustentar o que o obstetra diz - estudos mostram que mulheres que pariram entre 2002 e 2008 demoraram cerca de duas horas e meia a mais durante a primeira etapa do trabalho de parto do que aquelas que pariram entre 1959 e 1966.

Na Inglaterra em 2013-14, 26,2% dos partos eram por cesariana - o dobro da taxa registrada em 1990 - e 25% dos partos foram induzidos por substâncias como a ocitocina sintética.

A ocitocina natural, acredita Odent, permite que a mãe o bebê criem um vínculo muito forte nos dias seguintes ao parto.

Como há evidências de que esse primeiro vínculo permanece por todos os futuros relacionamentos, há um argumento que a humanidade altere isso criando um risco próprio.

Ao nosso redor, ele diz, temos evidências de que como sociedade estamos em perigo de perder o que ele chama de "a capacidade de amar". Pelo processo de evolução nossos sistemas de ocitocina começarão a falhar? E se sim, então o que faremos?

Se estamos cientes disso ou não, precisamos de pessoas que pensem e continuem fazendo perguntar desconfortáveis para o nosso próprio bem. O futuro da humanidade, não só das parteiras, poderiam literalmente estar nessas respostas.





quinta-feira, 18 de junho de 2015

Quinta da comida: cuscuz à paulista (vegan)

Receita vapt vupt!


Ingredientes:
2 xícaras de milharina
Cebola
Alho
Milho
Ervilha
Cenoura
(use a imaginação para combinar)
1 colher de sopa de óleo de girassol
Sal

Modo de fazer: Deixe a milharina de molho como pede na embalagem. Refogue a cebola e o alho, os legumes (se tiver algum duro, como a cenoura, ou você cozinha previamente ou coloca ralada), o sal e deixe apurar um pouco o sabor. Acrescente a milharina hidratada e misture bem no fogo baixo. Acrescente uma colher de sopa de óleo de girassol (ou outro que prefira). Misture bem. Unte uma fôrma, despeje a mistura ainda quente e pressione contra a fôrma. Espere esfriar e desenforme. Sirva!
(Sim não precisa ir ao forno!!!!!!!)

Excelente opção pro lanche da tarde! Não precisa ter nenhum animal para ficar saboroso!
Se quiser acrescentar o shoyu no refogado também fica uma delícia!


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Quinta da comida: charuto de couve com recheio de shitake

A combinação do almoço foi: arroz integral + farofa de banana +  feijão carioca + charuto de couve com recheio de shitake

Ingredientes:
Shitake
Couve
Água
Temperos

Modo de fazer: faça primeiro o recheio. O truque do shitake é comprar quele desidratado, hidratar com água quente e limão. Depois que hidratar, deixa um tempinho no shoyu. Depois você corta em cubinhos. Então refoga a quantidade de cebola e alho que achar legal, e acrescenta o que você quiser. Aqui usei: milho, tomate, cheiro verde e cebolinha. Além disso achei interessante colocar um resto da massa que sobra no coador do leite de castanha de caju que faço sempre e guardo para fortalecer algumas receitas. Ficou tipo um creme, delicioso. Deixa o tempero pegar bem e também não fica tão legal ficar muito molhado. Reserve o recheio pronto, esquente água em uma panela e coloque a couve por pouco tempo, só dá um mergulho, conta até 3 e tira. Recheia e enrola ela (com talo e tudo, mas pode tirar se quiser).

Voilá!