Você descobre a gravidez, a
barriga cresce, as roupas deixam de caber e mudam. O bebê nasce e você passa os
primeiros meses sem nem olhar direito pra você. Algumas passam anos. As roupas
de antes que você guardou retomam às vezes o mesmo corpo, mas não a mesma
pessoa. Talvez elas ainda te sirvam, ou não, mas não imprimem o que você quer.
Na verdade você nem sabe direito com o que se sente bem mais. Com que roupa,
com que cabelo. Mas chega uma hora que cansa tanto desencontro de si mesma.
Esse desencontro é tão comum. As
mulheres depois que são mães são encorajadas muitas vezes a se apagarem. As que
se afirmam e se expressam livremente, com ideias contrárias aos valores do
patriarcado, sofrem muitas repressões cotidianas. De todos os lados. Afinal,
poucas pessoas se deixam pensar diferente e refletir sobre seus preconceitos.
Eu senti isso depois de ser mãe.
Se já tinha ideias feministas antes, depois elas se concretizaram mais ainda. A
opressão parece que duplica. Mas a força interna quadriplica.
E aí veio ela, minha mãe. Tinha
mais de um ano que não pensava sobre o que vestia. Sabia que não tava legal,
mas não sabia também como seria. Saí uma ou duas vezes pra comprar roupa pra
mim e saía com várias roupas pra Cauã. Chegou pra mim e me deu um shortinho
jeans, bem curto. Vesti e me senti nua. Acho que nunca tinha usado algo tão curto
na minha vida. Ela me encorajou e eu saí com ele. Demorou até eu me acostumar. Às
vezes penso que até eu mesma precisava desconstruir a ideia de ser mãe
dissociada da de ser mulher.
E foi libertador. Daí pra frente,
fui me reencontrando. Mas não tanto. Foram doses homeopáticas nesses quase dois
anos. Definitivamente posso dizer que os grandes catalisadores foram as
possibilidades que tive de estar em círculo com mulheres e de estar junto de
grandes mulheres amigas. É uma coisa incrivelmente fortalecedora estar
compartilhando com mulheres.
Se você é mulher e mãe, recomendo
fortemente que tenha um grupo de amigas mães também. É incrível como nos fortalecemos
e nos curamos umas às outras. Não precisa de assunto pré-estabelecido, de
ritual, símbolos nem nada. Basta estar de alma e coração junto pra crescer. Ontem nos reunimos mais uma vez,
depois de muito tempo. Fizemos um escambo – levamos coisas do guarda-roupa que
queríamos doar. Trocamos, damos e recebemos. E nos reecontramos nos fortalecendo,
como sempre.
Muitas vezes a vestimenta está
associada com a ideia de consumo e de superficialidade. Mas ela pode não estar
também. Já pensou como a história da indumentária e a revolução feminista andam
lado a lado? Ou como o momento histórico de uma sociedade pode ser muito bem
compreendido pelas roupas que se usam? Por exemplo, na segunda guerra mundial,
na França e na Alemanha a paleta de cores das roupas eram escuras. Os tecidos,
grossos. Os sapatos, grosseiros. Porque era isso que a sociedade estava
vivendo: escassez, rigidez e tristeza.
Na vida a vestimenta pode
aparecer como fator auxiliar pro desenvolvimento de auto-confiança,
auto-conhecimento. É isso que vem acontecendo comigo e com minhas amigas de
jornada. Estamos nos reecontrando, nos reconhecendo depois de tanto nos afastarmos
de nós mesmas. E quando a gente se reencontra, a gente se fortalece. Quando a
gente compartilha, fica mais leve.
Sabe, hoje acordei diferente.
Vesti a calça que peguei de uma amiga ontem no escambo, coloquei um sapato que
não usava há cerca de 3 anos, botei um lenço na cabeça e me senti linda. Muito
provavelmente não pelas coisas que me adornavam, mas pelo que o encontro prévio
me proporcionara: um sorriso na alma e mais coragem para cumprir minha missão.
Estar em círculo com mulheres é
um presente.
Estar em contato com nosso
interior é uma sabedoria.
Poder compartilhar a jornada faz
ela mais leve, e incrivelmente mais prazerosa!
Que a energia feminina universal
esteja conosco, sempre, nos lembrando do nosso poder criador!
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