quinta-feira, 19 de junho de 2014

Um chamado para a revolta: a publicidade é anti-minimalista

Tem um site que eu adoro ler. Principalmente quando me sinto meio down precisando de uma leitura revigorante, corro pra ele. Foi ele, o Leo Babauta que me instigou na busca em ser minimalista. Faz uns 4 meses que estamos nesse movimento aqui em casa, e tem sido uma roda gigante de emoções. Mas antes de falar do que venho vivendo, achei interessante traduzir esse texto dele sobre minimalismo e publicidade publicado nessa semana no site dele, o Zen Habits. Acredito que esteja muito relacionado a muitas coisas que falo aqui no blog. Os textos dele são livres de direitos autorais, porque assim ele acredita que suas palavras alcancem um maior número de pessoas. O nome do texto original é  A Call for Revolt: Advertising is the Anti-Minimalism, que você pode acessar clicando aí no título em inglês.

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O maior obstáculo para uma vida minimalista é a publicidade.

Vamos pensar sobre essa afirmação por um minuto: o que é uma vida minimalista e o que nos impede de alcança-la? Como a publicidade está envolvida?
Uma vida minimalista pode ser muitas coisas, mas em sua essência é tornar-se consciente sobre o que temos em nossas vidas. O espaço é limitado: nós temos horas limitadas em um dia, anos limitados em nossas vidas e espaços físicos limitados em nossas casas.
E nós enchemos todo esse espaço limitado inconscientemente, enchendo-o demais sem considerar ao menos se essa é a melhor maneira para usar nosso espaço.
Minimalismo é sobre pausa, e questionamentos sobre o que realmente é necessário. O que pertence a esse espaço e o que pode ser retirado? É a fantasia em nossas mentes que é a causa para buscarmos preencher inconscientemente a realidade que pensamos que fôssemos viver?
O objetivo da publicidade é exatamente o oposto: ela quer que nós gastemos sem pensar sobre isso. Quer quer compramos no impulso. Quer implantar fantasias em nossas mentes que façam com que saiamos e compremos.
Pense sobre um anúncio para roupa, ou para um produto da Apple, por exemplo: eles mostram lindas pessoas vivendo vidas maravilhosas, centrada na solução simples de possuir o produto em suas mãos (ou em seus corpos).
Anúncios para um sabão fazem com que pensemos que nós não teremos somente uma pele limpa, mas uma maçã do rosto perfeita e um namorado bonitão que nos ama.
Anúncios para um novo aplicativo fazem com que pensamos que de repente seremos mais organizados e mais produtivos e todas nossas necessidades serão magicamente sanadas com esse programa muito bem desenhado em nosso smartphone.
Obviamente, nada disso é verdade – nós não seremos mais organizados nem produtivos, nem mais saudáveis e bonitos, nem mais propensos a ter um(a) namorad@ bonit@ se comprarmos qualquer um desses produtos. Seremos apenas mais pobres com mais coisas para encher nossas já tão cheias vidas.
O pior da publicidade é que não só implanta fantasia em nossas mentes que nós instantaneamente queremos... como também nos dá uma sensação de vazio. De repente não nos sentimos completes, nem felizes, porque não vivemos a vida ideal. Nós não somos bons o suficiente ainda. Nós não somos felizes ainda.
E comprar não irá melhorar esse vazio. Nós compramos, e ainda não temos a fantasia, e então nos sentimos mal sobre nós mesmos. Nós ainda temos o vazio em nossos corações que nunca poderá ser preenchido.
Publicidade é o sussurro insidioso do anjo mal do comércio.
Eu não culpo os publicitários: eles foram pegos em um jogo onde eles tem que fazer publicidade ou morrer. Eu não culpo os consumidores: essa é a sociedade em que vivemos e nós nunca vivemos de uma maneira diferente.
Eu não culpo nem as agências de publicidade: os Googles e Don Draper do mundo só estão tentando fazer grana como tomo mundo, e descobriram o que funciona. Por que não fazer o que é eficaz, né?
Não culpe o jogador. Culpe o jogo.
Estamos presos em um jogo no qual temos que fazer mais dinheiro e consequentemente fazer propaganda, e para ser eficaz nisso precisamos introduzir fantasias inalcançáveis, um sentimento de vazio que não pode ser atenuado.
Estamos presos em um jogo onde o processo inteiro é OK com todo mundo, na verdade porque os mais bem-sucedidos são aplaudidos - Steve Jobs, Jeff Bezos, Barack Obama, Larry Page, Mark Zuckerberg, Steven Speilberg, Walt Disney, et al – eles são os vencedores de nossa sociedade. Nós endeusamos eles.
As pessoas que fogem desse jogo são ridicularizadas e taxadas pejorativamente de hippies, esquisitões e vagabundos.
Eu digo que devemos sair desse jogo. Pegue ele pelo cinto e mande-o para a calçada.
Eu acho que devemos nos revoltar.
Nós podemos nos revoltar simplesmente escolhendo sair disso. Eles não tem uma opção de entrada no formulário desse jogo, mas nós mesmo assim podemos sair mesmo sem terem nos dado essa possibilidade.
Nós podemos fugir não assistindo propagandas. Não tendo elas em nossos sites. Não comprando ingressos pra filmes que são simplesmente propagandas inteligentes. Não acreditando nas fantasias. Não comprando por impulso. Não usar como terapia ir às compras. Não usar compras como uma solução para tudo. Não apoiar as mídias que apenas estão lá para que leiamos os anúncios entre as estórias. Não indo a sites que tenham propagandas com popups intrusos. Não ouvindo a propagandas da radio. Não assistindo vídeos online que tenham propagandas. Não usando o email com propaganda. Não utilizando logos em nossas roupas. Não tatuando logos em nossos corpos. Não indo para parques temáticos que são apenas grandes propagandas para seus produtos. Não comprando quando estamos de férias. Não comprando presentes para celebrar datas. Não comprando smartphones por causa de anúncios que vimos. Não comprando roupa ou maquiagem ou produtos para a pele que façam com que pareçamos com a fantasia. Não lendo revistas que tentam fazer com que tenhamos uma fantasia de como deveríamos parecer. Não assistir a programas de TV patrocinados por anúncios.

Parece muito? Sim, eu concordo: estamos muito impregnados em propagandas. Não podemos sair deles. Somos dependentes. A revolta é muito revoltante. De volta a sua programação regular programada

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