terça-feira, 4 de março de 2014

Veganismo e humanização do parto: vivendo de maneira consciente

Um colega me mostrou um texto muito bom da maravilhosa Laura Gutman, que me instigou a escrever esse texto. Já faz algum tempo que consigo perceber uma relação entre os movimentos do veganismo, da humanização do parto e do feminismo. Os três lutam pela libertação e os três buscam através da informação um mundo mais igualitário e mais consciente. No veganismo acontece a alimentação consciente. Foi o que aconteceu comigo. Fui me informando e cada vez mais que sabia o que acontecia aos animais e como funcionava a indústria alimentícia de produção em massa e naturalmente passei a mudar minha alimentação e meu modo de vida. Tomei consciência e não tinha como ter um modo de vida incoerente com o que passei a saber. Na humanização do parto acontece o parto consciente. Luta-se pelo respeito ao protagonismo feminino, pela prática baseada em evidências científicas e pelos direitos reprodutivos femininos. O que já dá o link pro feminismo. No feminismo acontece a igualdade de ser Humano por ser Humano, não pelo que você carrega (ou não) entre as pernas. Os três temas abraçam minorias. Deixarei para um próximo texto o aprofundamento na questão do feminismo com os dois outros movimentos. Hoje quero falar especificamente sobre viver de maneira ativa e consciente.

Nesse final de semana de carnaval encontrei uma conhecida, que não sabia que estava grávida. Parabenizei e fomos conversando até que chegou no tópico parto. Ela disse algo que deu a entender que parto normal era algo muito assustador.
Perguntei: você já sabe como quer que ele venha ao mundo?
Ela disse: acho que não quero parto normal.
Eu: Por quê?
Ela: Porque é muito sofrimento.
Eu: Será que é mesmo? Tem mulheres que tem orgasmo durante o parto! Imagina aí se não é possível ter um parto com prazer!
Ela, meio com vergonha, disse: Eu tenho muito medo.
A mãe então se mete no meio da conversa e diz: Ela é muito medrosa! Até parece que vai encarar um parto normal.
Aí eu disse: Você tem medo de que? Olha, com uma equipe bacana, você pode buscar lidar com esse sentimento e parir de maneira fortificadora.
A conversa seguiu e a gestante pegou meu telefone para procurar um grupo de apoio na cidade em que mora. Mas bem, o que quero focar aqui é que já tive esse tipo de conversa inúmeras vezes e em todas elas o que me deixa triste é o fato dessas mulheres estarem tão desconectadas delas mesmas. O parto pode ser um ritual transformador, com o encontro e o enfrentamento de questões emocionais que nos tornarão mais fortes. A maneira como lidamos com o nascimento diz muito da maneira que lidamos com a vida. Distante, desconectada, passiva. A vida gira no automático, o tempo passa passa passa e nada se cria, nada se faz para mudar o que nos incomoda. Poxa! Que desperdício! Gosto de pensar que é uma questão de tempo. Que uma hora tomar as rédeas de nossas vidas e assumir posicionamentos coerentes em todos os aspectos dela não vai ser uma possibilidade e sim uma necessidade para transformar o planeta. Se esconder no medo, na insegurança, na zona de conforto não vai ser suficiente para um número cada vez maior de pessoas. Quando soube o que se encontrava nos alimentos que ingeria, se fez necessário mudar todo um estilo de vida. Não dá pra passar de olhos fechados diante de tanta crueldade, de tanta violência, de tanta falta de amor. Com a natureza, com os animais, com as mulheres, homens e com tudo. E assim é também com o nascimento. Não dá pra continuar recebendo seres novos com tamanha brutalidade que é para o bebê e para a mãe a cirurgia cesariana (salvo os casos com indicação real) ou um parto vaginal carregado de violência obstétrica. Não dá pra tantas mulheres continuarem perdendo o contato com si mesmas e se enfraquecendo alimentando uma forma de viver, gestar e nascer que não é coerente com a nossa natureza, com o nosso ser - a plenitude da existência.
Eu recebi Cauã na minha vida de uma maneira que nunca pensei, e passei por situações que eu não desejo pra ninguém durante o nascimento dele. Mas dessas situações ruins, eu procuro tirar algo bom, e isso tem me fortalecido. Ele chegou trazendo mais emergência ainda de viver de maneira consciente, ativa e coerente. Ele chegou trazendo mais força pra mim e pra nossa família de uma maneira arrebatadora. E às vezes não é fácil, dá um trabalhão... a luta, a vida, a birra... mas no fim sempre vale a pena.
E por isso as lutas se fazem tão essenciais nessa vida. Não dá pra passar por esse planeta sem ter feito nada pra tornar aqui um lugar melhor para todos do presente e do futuro.
Isso me move. O que move você?


Dá uma lida também:
Galactolatria – Mau deleite
Política Sexual da carne
O Renascimento do Parto
Cientificação do amor
O Camponês e a parteira

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