Azul com
purpurina prata. Assim estavam pintadas as unhas da tia preferida
dele. Ele achou o máximo, pegou a mão, o dedo, a unha, olhou de
perto. Mexeu pra um lado e mexeu pro outro. Viu a mudança de
luminosidade no brilho quando se movia. Fazia isso levemente,
sorrindo e falando. Pegou o esmalte, pediu pra pintar também. O pai
pintou uma unha. Ele foi mostrar. Mostrou pro cachorro, pro gato, pra
mãe, pra avó. Voltou, pediu pra pintar mais. O pai pintou a outra
unha. De rosa. Ele achou o máximo. Mostrou pra todo mundo! Sorrindo!
Quanta alegria! Então uma tia disse algo que repreendia pintar a
unha de um menino. Ninguém deu muita bola. Eu fiquei refletindo. Que
coisa esquisita. Brincadeira legal daquela, todo mundo se divertindo!
Claro que entendi o preconceito de gênero, essa coisa incrustada na
nossa sociedade: o machismo. Que pena danada, pensou, quando vejo que
a grande maioria de nós humanos ainda vive como se ter pênis ou
vagina que definisse se somos homens ou mulheres. Se gostamos de
homens ou mulheres. Isso porque passamos a imensa maior parte do
tempo cobrindo nossos órgãos sexuais. Já pensou? Se fosse só
isso, na verdade só saberíamos se todo mundo andasse nu. Mas não
andamos. Cauã adora colocar minhas tiaras. E ele usa. Eu uso. O pai
já usou. Ele adora brincar de bola. Eu brinco, o pai também. E não
é isso nem aquilo que vai fazer dele menino ou menina. Não estamos
preocupados com isso. Ainda não consegui me desvencilhar de outras
concepções incrustadas dessa porcaria de concepção de gênero,
como a escolha de roupas. Mas vamos caminhando. Por enquanto ele
parece confortável usando as roupas que usa. Mas se um dia ele não
sentir, procurarei auxiliá-lo a encontrar as que lhe parecem mais
confortáveis. Esperamos propiciar pra ele uma plenitude de infância
com aprendizados de todas as brincadeiras legais e divertidas. No fim
o que importa é que ele esteja feliz e se sinta amado. E nisso a
gente se empenha!
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