domingo, 16 de março de 2014

O menino que queria pintar as unhas

Azul com purpurina prata. Assim estavam pintadas as unhas da tia preferida dele. Ele achou o máximo, pegou a mão, o dedo, a unha, olhou de perto. Mexeu pra um lado e mexeu pro outro. Viu a mudança de luminosidade no brilho quando se movia. Fazia isso levemente, sorrindo e falando. Pegou o esmalte, pediu pra pintar também. O pai pintou uma unha. Ele foi mostrar. Mostrou pro cachorro, pro gato, pra mãe, pra avó. Voltou, pediu pra pintar mais. O pai pintou a outra unha. De rosa. Ele achou o máximo. Mostrou pra todo mundo! Sorrindo! Quanta alegria! Então uma tia disse algo que repreendia pintar a unha de um menino. Ninguém deu muita bola. Eu fiquei refletindo. Que coisa esquisita. Brincadeira legal daquela, todo mundo se divertindo! Claro que entendi o preconceito de gênero, essa coisa incrustada na nossa sociedade: o machismo. Que pena danada, pensou, quando vejo que a grande maioria de nós humanos ainda vive como se ter pênis ou vagina que definisse se somos homens ou mulheres. Se gostamos de homens ou mulheres. Isso porque passamos a imensa maior parte do tempo cobrindo nossos órgãos sexuais. Já pensou? Se fosse só isso, na verdade só saberíamos se todo mundo andasse nu. Mas não andamos. Cauã adora colocar minhas tiaras. E ele usa. Eu uso. O pai já usou. Ele adora brincar de bola. Eu brinco, o pai também. E não é isso nem aquilo que vai fazer dele menino ou menina. Não estamos preocupados com isso. Ainda não consegui me desvencilhar de outras concepções incrustadas dessa porcaria de concepção de gênero, como a escolha de roupas. Mas vamos caminhando. Por enquanto ele parece confortável usando as roupas que usa. Mas se um dia ele não sentir, procurarei auxiliá-lo a encontrar as que lhe parecem mais confortáveis. Esperamos propiciar pra ele uma plenitude de infância com aprendizados de todas as brincadeiras legais e divertidas. No fim o que importa é que ele esteja feliz e se sinta amado. E nisso a gente se empenha! 



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