Para aqueles dias de chuva, uma brincadeira deliciosa é fazer a gelatina e colocar brinquedos de desejo dentro. Quando fica pronto oferecemos para a criança e deixamos ela descobrir o mundo de cores, texturas e temperaturas de dinossauros fossilizados na gelatina!
Nós aproveitamos e demos banho nos dinossauros depois! Delícia! Ainda sobrou um monte de gelatina, já que ninguém quis comer... ficou pra depois!
terça-feira, 31 de março de 2015
domingo, 29 de março de 2015
Reduzinho a cultura do medo do parto nos EUA: TED com Ina May Gaskin
Tradução livre por Gabriella Vinhas do TED Reducing Fear of Birth in US Culture da parteira americana há 41 anos Ina May Gaskin.
Há mais ou menos quatro décadas
atrás quando eu estava começando meu bacharelado em literatura da língua
inglesa, e naquela época eu não tinha nenhuma ideia do que era ser uma
parteira, pensava que essa era uma profissão que pertencia ao passado. Então estava eu vivendo em um parque de
caravanas, e meus vizinhos eram um casal gestando seu primeiro filho. Ela era
pequena e ele era muito alto. A barriga dela ao final da gestação era enorme. E
naquela época não tinha fotografia. E eu ficava pensando em como seria possível
que o bebê saísse dali. Então um dia ela saiu para uma de suas consultas de
pré-natal e voltou segurando seu bebê nos braços. E eu perguntei a ela: o que
aconteceu? Ela me disse: “eles foram me examinar, disseram que estava em trabalho
de parto e 20 minutos depois eu pari meu bebê. Não consegui nem tirar minhas
meias! Elas ficaram todas molhadas!” Uau! Eu lembrei dos cavalos da minha tia
quando pariam. Ela dizia que o parto dos cavalos durava em média 20 minutos.
Então eu pensei: aqui está uma mulher me mostrando que dar a luz pode ser tão
rápido quanto o de um cavalo. Isso me fez pensar em ir checar um livro que
peguei na biblioteca, sem registros fotográficos nem imagens, chamado
“Childbirth without fear” (Parto sem medo), você ainda pode conseguir esse
livro hoje. Ele foi escrito pelo obstetra Grantly Dick-Read. A ideia central do
livro é a de que a dor insuportável no parto está quase sempre associada ao
medo e a falta de um bom preparo durante a gravidez e talvez à falta de compreensão
do que acontece durante o parto. Vou retomar um pouco algumas histórias de
partos rápidos. Uma vez alguém me chamou em um ônibus escolar para acompanhar
uma mulher parindo e em duas horas ela pariu de uma maneira naturalmente linda.
Foi a coisa mais impressionante. Uau! E mais tarde quando tive a possibilidade
de conversar com muitos médicos e enfermeiros eu descobri quão raro era isso de
seu primeiro parto ser tão rápido e bonito. Eles não viam isso cotidianamente.
Na realidade, eu não conhecia ninguém que já tivesse testemunhado isso a não
ser que essa pessoa estivesse em uma fazenda observando um animal parindo. Em
1971 eu fiz contato com um maravilhoso médico da família em Tennessee que vivia
em uma cidade próxima e que tinha dezesseis anos de experiência auxiliando
famílias Amish. Sem eletricidade, sem água, sem controle natal. E eu convidei
alguns amigos para colaborarem comigo porque eu necessitava de parteiras também
e ele foi o nosso mentor por não mais que uma década. Nós trabalhamos juntos e,
claro que eu vi mulheres com partos longos, diferentemente dos que eu citei,
inclusive os meus próprios partos, então eis aqui algumas coisas que aprendemos
que ajudava: sair da cama, caminhar, talvez dançar, tirar um cochilo, comer,
beber algo, vibrar os lábios – por que isso iria funcionar? Faça e veja como
funciona- abraçar-se com seu marido (obviamente que você deve ter prazer ao
fazer isso) e se acarinhar com ele, porque assim que a dor passa o sangue vai
todo para as partes baixas, porque o corpo tem que se abrir. Não foi muito
tempo depois que eu percebi que os sintomas não estavam relacionados ao tamanho
do bebê ou da mãe. Um bebê grande poderia nascer rápido, bebês pequenos
poderiam demorar um ou dois dias. Agora lembrem que estamos descansando, comendo,
hidratando e checando os batimentos cardíacos a toda hora ao prestarmos
assistência. Antes que eu percebesse que o parto poderia ser bem estabelecido,
o útero poderia estar se contraindo, o cérvix se abrindo, e as coisas poderiam
parar. E então o que faremos? Eu descobri que algumas vezes palavras podem
ajudar, mas tem que ser as palavras certas, tem que ser algo forte e relevante
para aquela mulher. Mas normalmente o processo parava quando a mulher sentia
muito medo, como quando passasse por um procedimento desconfortável, ou ela não
tinha uma atmosfera suficientemente calma, então aprendemos maneiras de lidar
com essas coisas. Porque o corpo tem que abrir.
Agora, tudo isso faz mais sentido se considerarmos os hormônios e os que
estão envolvidos no parto dependem do estado emocional da mulher. Idealmente
ela se sente segura, com privacidade, as luzes devem estar reduzidas porque
enquanto ela está dilatando a pupila está dilatando e pupilas dilatadas não
gostam de luzes fortes. Então temos uma mulher com um desenvolvimento de parto
e se ela fica com muito medo, eu descobri algumas coisas que podem ajudar com
isso. Às vezes o humor, queda de braço (sabendo que a mãe vai ganhar), dançar
fazendo o oito com o quadril, balançando o quadril para frente e para trás...
isso é como surfar. Assim podemos ter um parto prazeroso sem remédios. Como perdemos tanto, digo, como esquecemos? Eu
acredito que seja porque nós não falamos muito sobre o estado emocional da mãe.
Como eu disse, nós queremos que a ocitocina aumente, e o corpo produz quando a
mulher se sente segura, não se sente com medo e produz sentimentos de amor.
Sentimentos de amor aumentam a ocitocina. E com ela vem neuroendorfinas, que
são opióides, que são produzidos pelo corpo e que podem diminuir ou até mesmo apagar a dor. Estamos falando de uma coisa
maravilhosa. Nós não queremos medo no ambiente, porque interfere negativamente
na metabolização dos hormônios que queremos no parto. Na nossa prática as
mulheres são nossas chefes. Nós estamos na casa delas, e fazemos o que ela
precisa que seja feito. E cada mulher é
única. Cada parto é único. E é o trabalho da parteira descobrir o que ela
precisa que seja feito. Mulheres Amish tem cerca de 13 bebês e quando elas
percebem que terão um parto longo elas vão para a cozinha cozinhar e sabem que
se se movimentarem o parto irá mais rápido. Então nós aprendemos com as
civilizações antigas. Civilizações que não foram tão introduzidas ao medo.
Quando fui a Guatemala nos anos 70, aprendi uma manobra que chamei de manobra
de gaskin. Distócia de ombro é uma das complicações mais temidas porque a
cabeça sai e os ombros parecem ficar presos pela pélvis da mãe. O método médico
tradicional que eu aprendi foi que eu deveria primeiramente cortar
profundamente a vagina da mãe (episiotomia), e então com as mãos tentar virar o
bebê. Se esse método falhasse poderíamos quebrar a clavícula do bebê. Eu nunca
tive que fazer nada disso. Fui para a Guatemala e aprendi um método das
parteiras tradicionais mudar a posição da mãe para a de quatro apoios e quase
sempre o bebê sairá sem prejuízos para ambos. Por que isso acontece? Porque quando a mãe fica em quatro apoios a pélvis
abre mais. Temos a sabedoria que vem do México e estamos falando de
parteiras analfabetas, tradicionais.
Outra ferramenta muito usada é o rebozo e aqui nessa imagem elas estão
usando para evitar depressão pós-parto, fechando o corpo. Com esse mesmo pano
você pode mudar a posição do bebê. Em 1970 quando eu comecei a taxa de
cesarianas era um pouco mais de 5%. Era raro conhecer alguém que tivesse
passado por cesárea. O índice para partos instrumentais era de 65%, olha como
era alto. Isso corresponde em grande maioria ao uso de fórceps. Bom, nos anos
80 a taxa de cesariana nos EUA subiram um pouco mais, foram para 20% e o de
parto com intervenções caiu para 15%. Em 2011 as cesarianas correspondiam a 32%
e de parto com intervenções a 3%. Nós não conseguimos assimilar esses números.
Nos nossos trabalhos, o índice de cesariana está em torno de 1.3% e uso de
parto com instrumentos em 0,8% e o índice de mortalidade é 0. Nossas indicações
de cesarianas nunca estiveram relacionadas ao tamanho do bebê ou à pélvis da
mãe. Atualmente nosso índice de mortalidade neonatal é 0.
Nós somos a única espécie que
pode duvidar da capacidade de parir. Então o que sabemos sobre o parto? É fácil
amedrontar as mulheres. É até mais rentável. Mas não é legal. Então vamos parar
com isso. Então como podemos diminuir o medo? Arrume uma doula. Uma doula é
essencial para manter uma atmosfera calma para a mulher. Mantenha beijos
sexuais com seu parceiro. Precisamos investir em educação perinatal. As
mulheres não querem ter medo. Então não contem histórias terríveis para
mulheres grávidas. E ninguém quer se sentir julgada por como pariram. Não
julgue. Sorria. Sorrisos liberam endorfinas. E lembrem-se: o corpo não é um
limão. Obrigada.
domingo, 22 de março de 2015
O desconforto e o que aprender com ele
Durante a vida passamos por muitos desconfortos. Físicos,
emocionais, sociais. Vivemos um eterno reacomodar. Ou deveríamos, pelo menos.
Afinal, perceber o desconforto e fazer alguma coisa para muda-lo é de fato algo
que nos proporciona movimento e aprendizado.
O que fazemos com o desconforto no dia-a-dia diz muito de
nossas escolhas, valores e como encaramos a vida. Se logo que percebemos uma
situação desconfortável fugimos dela ou então se a qualquer desconforto físico
ingerimos qualquer substância para calar o organismo, provavelmente buscamos
uma fuga do diálogo essencial a que os sintomas nos convidam e que poderiam
auxiliar a gente a superar e a modificar pensamentos, atitudes e sentimentos.
Na gravidez as coisas se tornam um pouco mais intensas. O
que gestamos ao longo da vida aparece logo na maneira como surgem e como
lidamos com os desconfortos de se reacomodar a mudanças tão bruscas e
cotidianas em um curto espaço de tempo. Nesses nove meses podemos construir uma
nova maneira de ser, de se ver.
E é aí que eu faço um convite para gestarmos de forma
ativa. Gestar não deveria ser apenas o desenvolvimento físico de alguém em
nossos ventres. Gestar é um processo constante da vida, afinal, nosso poder
criador pode ser exercido agora e a qualquer momento. Porém o gestar de uma
pessoa se torna um momento sublime, de grande potencial transformador para nós
mesmos e para nossa sociedade. Gestar ativamente alguém em nossos ventres
envolve o gestar de nós mesmas e de nossas relações com o mundo, com o bebê,
com o corpo, mente e emoção. E é aí que o desconforto pode ser um grande aliado
no desenvolvimento pessoal e espiritual.
Na gravidez muitas mudanças físicas ocorrem em um curto
espaço de tempo. Mudanças hormonais, emocionais, físicas, de equilíbrio, de
sentidos. Cada gestação tem a sua peculiaridade exatamente porque é impossível
viver o mesmo momento duas vezes, afinal trata-se de circunstâncias e de
pessoas diferentes. No gestar ativo a meditação, a auto-observação e o diálogo
contínuo com o corpo, mente e bebê fazem a diferença para que seja uma
experiência fortalecedora e não vitimizadora. Além de começar a construção do vínculo
mãe e bebê.
Quando falo de vitimizadora me refiro ao fato de para
muitas pessoas, favorecido pelo contexto patriarcal, a gravidez ser vista como
um momento de fragilidade, e não de força. Particularmente nessa gravidez, me
sinto muito conectada e com uma força interior que eu desconhecia, mas que
percebo que sempre esteve lá. Os desconfortos físicos que aumentam com o
decorrer da gestação servem como ferramentas para desacelerar mente e corpo,
voltar para si, se conectar para o processo do parto.
Ah, o parto. Cheio de desconfortos para umas, de orgasmo
para outras. Carregado de histórias de nossas vidas e de nossas ancestrais. De
como lidamos com muitos aspectos, dentre eles, os desconfortos físicos
cotidianos, nossas incertezas e certezas, nossa auto-confiança. Os processos de
gestar e parir ativamente são profundamente fortalecedores. Propiciar para
mulheres e bebês experiências positivas nesses processos é algo que toda sociedade
deveria perceber como algo essencial para melhorarmos nosso planeta. Afinal, o
impacto de como nascemos tem um impacto em como nossa sociedade se desenvolve.
Desde quando o bebê está na barriga até os três anos de vida formam-se imprints
que são essenciais para a formação da personalidade, para o exercício da
compaixão e do amor ao invés da violência.
A maneira como nascemos atualmente diz muito sobre a maneira
como vivemos e encaramos a vida. Ocidental, esterilizada, industrializada. Sem
conexão verdadeira, interior. Sem desenvolvimento pessoal, fortalecedor. Sem
muitas reacomodações, saídas das zonas de conforto. Uma gestação pode ser um
convite à reflexão do que você tem gestado ao longo de sua vida. Um parto pode
ser um convite ao despertar para sua força interior, ao milagre da vida.
Foto: Lisa Dawn Angerame |
Encarar o desconforto como ferramenta de trabalho
cotidiano faz toda a diferença para como viveremos a vida. Trata-se de
escolhas, cotidianas. Uma construção eterna e nem sempre tão prazerosa que nos
conecta com o todo, com o nosso potencial real, eu superior, ou como goste de
chamar isso tudo que se refere a nossa essência. Uma coisa é certa: não podemos
negar nossa responsabilidade enquanto criadores e mantenedores da realidade em
que vivemos. Tomar consciência e fazer escolhas mais sensíveis à nossa essência
de unicidade é o mais coerente que podemos fazer para jogar o manto do
despertar em mais pessoas para a construção de uma nova (e melhor) realidade.
sábado, 7 de março de 2015
Casadinha: BLW + Montessori
Maria Montessori sempre relata em
seus textos a importância do uso das mãos pelas crianças. Pelas mãos a
exploração e o conhecimento acontecem. Texturas, formas, pesos, temperatura e
muitos outros aspectos são assimilados pela exploração sensorial. Ela sempre
fala também, do amor à organização que as crianças possuem de maneira inata.
Na alimentação, o método propõe
que sempre seja oferecido o prato, o talher, o copo e um jogo americano bem
característico, que designa onde cada coisa deve ficar. A louça toda deve ser
de material real, isto é, plástico não é utilizado. Eu mesma fui bastante
criticada por quem quer que fosse que soubesse que Cauã desde 8 meses recebia
água em um copo de vidro. Um copo mini, de cachaça, que cabia em suas mãos. Que
ele jogou no chão inúmeras vezes. Que ele teve tempo de explorar, jogar água
fora, e outros experimentos em momentos que eu reservava especificamente para
isso. Depois de algum tempo, como prevê o próprio método, ele entendeu que se
jogar o copo ele quebra. E parou de jogar. Ele nem quebrou tantos copos o quanto
eu achava. Foram cerca de 5 em uns 3 meses. O blog How We Montessori tem muitas
coisas interessantes publicadas com a tag weaning.
Foto de howwemontessori.com |
Junto e misturado com as leituras
que já fazia sobre Montessori desde a gestação, li sobre o BLW e achei a coisa
mais intuitiva que poderia fazer. Até hoje utilizamos o método, apesar dele já
se alimentar sozinho desde um ano, com as mãos e algumas vezes com talheres. Como
ele nunca usou mamadeira nem bicos, aprendeu a controlar o fluxo de água com
alguns episódios de engasgos e sempre com minha supervisão. Falo mais sobre
isso e o BLW aqui.
Para mim o conceito da
importância do uso das mãos pelas crianças e a exploração sensorial, o
desenvolvimento motor e cognitivo propiciados pelo BLW formaram uma casadinha
perfeita para a nossa família. A coisa chata é a sujeira. Mas com o tempo ela
vai diminuindo, a medida que a criança percebe como é meio incômodo limpar a
sujeira. Aliás, esse é outro ponto importante: desde sempre oferecemos paninho,
esponja para que ele nos auxilie na limpeza da própria sujeira. Essa noção é
muito importante. Sujou, limpou. Hoje utilizo tanto o método Montessori quanto
o BLW na minha prática clínica como fonoaudióloga.
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