Essa é a história de um desmame
do Cauã, minha e do Léo, meu companheiro.
Foi bastante difícil tomar a
decisão de desmamar Cauã. Bastante difícil mesmo. Tão difícil para mim que
levou cerca de três meses para que eu batesse o martelo e começasse de fato a
tentar aplicar alguns métodos que já tinha estudado e a conversar com ele sobre
esse processo. Parte disso se deu pela longa batalha egóica interior de ser
“menas” mãe, de não estar dando meu melhor e all that crap que todas as mães sabem. Apesar de realmente não
achar que estamos numa competição, na maternidade a competição parece ser a
superação de seus limites, que são cada vez mais ultrapassados de forma
absolutamente incríveis. Enfim, demorou um tempo pra eu assumir que realmente
não estava mais rolando uma amamentação prazerosa pra mim. Meu companheiro já
tinha me dado uns toques de que eu estava exausta, que revirava os olhos quando
Cauã pedia o peito e que de noite, principalmente, eu ficava bastante
incomodada e de mau humor.
Veja, eu sou ativista da
maternidade ativa, da humanização do parto, da amamentação prolongada e
simplesmente sou fascinada pela teoria da Laura Gutman. Nesse período de
aceitação eu lidei e me livrei de muitas imagens do que era ser mãe e de outros
aspectos que poderiam estar interferindo na minha disponibilidade em amamentar.
Mas quando aceitei que não tinha mais disponibilidade emocional (talvez um
pouco de física ainda) em amamentar, foi bastante importante e um tanto
libertador. Eu sempre tive na minha imagem mental de ser mãe do Cauã de fazer
um desmame natural, de amamentar até quando ele quisesse, afinal eu sabia dos
benefícios para ele e para mim. Tive que desconstruir e me permitir me
desapegar dessas imagens mentais às quais eu mesma tinha me prendido.
O desmame do Cauã talvez tenha
sido tão importante para mim enquanto mãe porque foi o meu desmame de padrões
antigos de pensamento e de apego. Pra tomar essa decisão eu precisei me deixar
reconstruir minha imagem para mim mesma e a respeitar e aceitar meus limites.
Enfim, decisão tomada,
companheiro a postos pro que desse e viesse. Então, começamos o processo. Cauã
dorme com a gente desde sempre. Somos adeptos da cama compartilhada. E algo que
foi realmente o grande agravador do desmame noturno, principalmente, foi o fato
de ele sempre ter dormido mamando. Ele não conhecia outra maneira de
dormir a noite. Éramos sempre eu e ele, deitados, e ele mamava até dormir e
soltar o peito. Durante a noite eu deixava o peito disponível para ele pegar
quando quisesse. Até certo ponto de idade isso foi bastante cômodo, porque
minha qualidade de vida com um sono contínuo era outra. Eu nem lembrava quantas
vezes ele mamava e não acordava para amamentar. Para mim fazer isso foi glamour
total. Só que, tudo ia muito bem até que com cerca de 1 ano e 6 meses eu
comecei a ter bem menos leite e a acordar bastante com as mamadas, porque elas
não tinham interrupção. Eu ia mudar de posição e era simplesmente impossível,
porque se eu tirasse o peito ele acordava e se eu deixasse eu não dormia. Eu pensava
que podia ser pico de crescimento, que passaria logo, mas os meses foram
passando e a chupeitação não. Ele sempre foi um bebê high need. Tanto que uma
das poucas consolações que tive diante de tanta entrega que foi ter um bebê
high need na amamentação exclusiva foi me deparar com esse termo no grupo
Soluções para noites sem choro.
Passo inicial: avisar a ele que
eu estava cansada e que começaríamos a mamar cada vez menos até parar de mamar.
Falei que existiam outras maneiras de dormir, que não precisava ser no peito e
que seriam igualmente boas.
Tentativa inicial: tentei fazer a
remoção gentil. Ele mamaria e quando estivesse relaxado, eu tiraria o peito e
ficaria lá, imóvel, acalentando o choro. Caso o choro ficasse demais, eu
devolveria o peito. Esse método foi simplesmente impossível para nós dois. Ele
sempre chorava demais.
Tentativa inicial modificada: tentamos
mudar de estratégia e adaptar a remoção gentil. Se o problema era ele associar
a mamada com o adormecer, então eu o amamentaria sentada em uma cadeira e
quando ele estivesse relaxado, eu retirava do peito e tentava ninar na cama sem
o peito. Não deu certo de novo. O choro era pra lá de sentido.
Tentativa inicial modificada 2: e se eu amamentasse sentada, e quando ele
relaxasse, meu marido colocasse pra dormir? Não deu certo de novo.
Tentativa diferente da inicial 1:
talvez se eu ficar longe e o marido tentar colocar para dormir. Essa foi a
menos certo de todas, o choro era tão alto e meu coração ficava tão aflito que
era impossível para todos.
Tentativa diferente da inicial 2:
tentei me desapegar dos métodos e passei a amamentar para dormir e depois eu
amarrava uma faixa no peito, colocava uma blusa com uma gola mais fechada que
dificultasse o acesso durante a madrugada. Quando ele acordava procurando o
peito eu dizia que o “mamá estava dormindo”. Ele chorou um tantão as primeiras
vezes, mas bem menos do que as tentativas anteriores. Meu marido aproveitou
para ninar ele algumas vezes durante as acordadas de madrugada e acabamos
descobrindo que ele sentia fome se não tivesse um jantar reforçado.
Tentativa final (YES!): Quando
ele acordava a gente esfregava as costas, cantava uma música de dormir, dizia
que ele estava seguro e que estava na hora de dormir. Nesse processo ele ainda
continuava mamando para dormir, mas durante a noite não mamava mais, porque eu
dificultava o acesso ao peito. Também percebemos que com o estabelecimento fixo
do horário de um jantar reforçado, ele dormia melhor e acordava menos vezes.
Mas passamos a dormir com uma banana ao lado da cama, just in case ele acordasse de madrugada a gente não precisasse sair
da cama para fazer alguma coisa. Com algumas semanas ele percebeu que poderia
dormir de outra forma e eu passei a usar a camisa na hora de dormir também.
Explicava para ele que o mamá já tinha dormido e que ele poderia dormir sem o
mamá. Ele choramingava, mas era mais de reivindicação do que de sofrimento
mesmo, o que me consolava um pouco. Não fiz um desmame para o dia, o desmame
diurno aconteceu concomitante, mesmo sem eu perceber. Ele passou a pedir cada
vez menos.
E eu me senti muito bem de ter
respeitado meus limites.
Durante o processo do desmame eu
fiz um cartaz para que eu lesse toda vez que queria chorar com ele e desistir
de tudo para que eu lembrasse da importância da consistência para o sucesso do
desmame. No cartaz só estava escrito: consistência. Sempre que eu começava a
pensar em dar o peito de madrugada e colocar todo o processo construído por
água abaixo eu ia lá dar uma olhada. Às vezes nem lembrava do que tava escrito,
mas sabia que tinha que ir lá ler.
Enfim, foi isso que funcionou pra
gente. Acredito que não exista fórmula universal, que devemos seguir nossa
intuição materna e que ter alguém para ajudar nessas horas e ter privacidade é
essencial para o sucesso do processo gradual. Várias vezes que ele dormiu
mamando ou quando estava desmamando eu me sentia esquisita e precisava de
alguém para conversar. O processo todo demorou cerca de 3 a 5 meses.
Uma semana depois que estávamos completamente
desmamados eu descobri que estava grávida de novo. E lá vem por aí mais uma
história de amamentação daqui uns meses...
Espero ter ajudado. Encontrei
poucos relatos na internet na época do nosso desmame.
Beijos e luz