Perto de Cauã fazer seis meses comecei minha procura por informações e relatos da introdução alimentar. E hoje o post é da querida Soraya Souza, a Sol, mãe da linda Rosa (essa menina de olhos luminosos da foto)! Eu aprendi um bocado com a experiência dela! Olhaí:
O que comer é para você? Para mim, é algo entre uma benção,
uma celebração, um honra, uma dádiva, um deleite. Não sei quando ou como isso
se deu, sei somente que comer é uma das coisas mais importantes e prazerosas da
minha vida. Mas só tive a dimensão disso quando, grávida, comer se tornou uma
obrigação regrada: enjoos tão intensos no primeiro trimestre que perdi um
bocado de peso e nos meses seguintes uma fome tão descomunal que eu não podia
atrasar as refeições em mais que dez minutos, para evitar perigosas quedas de
pressão. Some a isso o entendimento da importância de comer bem para o
bem-estar global e pronto, estava composto o contexto para uma mãe
preocupadíssima com o futuro alimentar da sua cria.
Felizmente, Rosa mamou muito bem desde a primeira oferta.
Amamentando em livre demanda, sofri horrores no primeiro mês, peguei o jeito no
segundo e no terceiro a vi se organizar para mamar a cada 2h, em média por
40min. Ciente de que o retorno às atividades do doutorado me imporiam limites
na manutenção desse esquema, muito cedo comecei a me preocupar com a introdução
alimentar. Quando a hora chegou, estrategicamente me cerquei de boas
referências: fui para perto de minha mãe, que introduziu oito pessoas à vida
alimentar, e da minha irmã com quem tenho mais sintonia, que tem três filhos e
um pediatra que é também gastroenterologista. Assim, eu tive quem me auxiliasse
na tarefa de preparação e oferta das primeiras refeições, juntamente com a
sorte de receber as orientações de alguém de confiança e muito preocupado em
fazer a coisa de um jeito respeitoso ao organisminho dos bebês.
Esse profissional é adepto da separação por grupos de
alimentos, visando, ao mesmo tempo, oferecer variedade e respeitar o ritmo de
funcionamento dos órgãos digestivos, principalmente os sensíveis intestinos.
Ele me passou um esqueminha que ajuda a orientar como garantir a variedade e
progressão de introdução das coisas mais difíceis de digerir. Uma coisa que é
meio consenso é de que o oferecimento nunca deve envolver mamadeira, pelo
simples fato de que ela é extremamente confortável pro bebê. Ou seja, acostumou
com ela, vai se apegar e, muito, provavelmente, largar o peito, que demanda
deles um esforço danado. Atentos a isso, usamos sempre a colher pros sólidos
(tem vários modelos em silicone bem legais) e o copo pros líquidos (o primeiro
foi comprado por minha mãe, pasmem, feito para se tomar cachaça, de um plástico
molinho). Aos 7 meses oferecemos canudinho e ela sugou feliz da vida, tanto que
é a maior “canudeira” até hoje.
Ela já estava com 10 meses quando aprendeu a usar uma caneca
de transição que nos tem sido genial: ela tem alças, uma tampa com bico de
silicone molinho e uma válvula de segurança que nem deixa derramar, nem deixa
os restinhos babados voltarem pra dentro da caneca. A funcionalidade dela é
tanta que quando a esquecemos em algum passeio, ficamos meio atrapalhados,
especialmente se não há disponibilidade de canudo ou
onde lavar bem a menininha, já que o uso do
copo comum implica em maior sujeira. Fazemos uso dela sabendo que contraria as recomendações médicas, que
são enfáticas quanto ao uso exclusivo de copos simples. Mas essa escolha entra
no rol daquelas que fazemos assumindo os riscos da discordância pela
conveniência que oferece ao cotidiano que vivemos, tal como foi com a
escolarização aos 7 meses e o desmame precoce, aos 12.
A primeira coisa que oferecemos foi mamão, depois pera, em
dias alternados e nesse meio tempo rolou também suco de laranja lima, que é
menos ácida e mais doce. As papinhas salgadas fizemos conforme o esquema do
pediatra, sempre amassadas no garfo e mantendo os vegetais separados. A
finalidade é favorecer a mastigação e trabalhar o paladar pros diferentes
sabores e texturas. Quando eu senti que ela já encarava, passei a oferecer
pedacinhos e cedo ela demonstrou preferência por essa forma, tanto que permanece
meio reticente a coisas pastosas, como purê de batata, por exemplo.
Eu demorei a entender que as papinhas salgadas não só podem como
devem ser temperadinhas que nem comida de gente grande, e quando passei a
temperar, ela aceitou ainda melhor, mesmo tendo estranhado as primeiras vezes, o
que não só é considerado normal como sadio. Ela já comia há mais de um mês quando
parei para ler com atenção a caderneta de vacinação e lá me deparei com o link
para o site do programa do Ministério da Saúde sobre complementação alimentar. Lá,
tivesse acesso ao pdf com receitas regionais de papinhas para a complementação
alimentar, o que me ajudou muito com isso dos temperos e, mais ainda, com o
cálculo das quantidades. Porque era um tal de falta papinha pra janta (ofertávamos
o mesmo do almoço), sobra papinha pra mais três bebês, e eu vivia louca sem
acertar as quantidades. Fora as vezes que me desliguei um pouco e ela comeu
beterraba várias vezes na mesma semana e ficou avermelhada, como se tivesse
tomado sol sem protetor...
Na orientação do pediatra, as fontes de glúten (trigo,
aveia, cevada) deveriam ser oferecidas somente após os 8 meses, preferencialmente
na versão integral, assim como as frutas muito ácidas (cupuaçu, por exemplo) e
que prendem muito o intestino (açaí, goiaba), e foi o que fizemos. Para reduzir
a produção de gases, os grãos eram mantidos primeiro num molho, cuja água era
dispensada, e somente depois eram cozidos, para serem consumidos sempre no
mesmo dia. Além disso, somente depois dela ter completado 1 ano foi que
oferecemos alimentos com a clara de ovo e os derivados de leite, primeiro um
queijo magro (aqui optamos pelo minas frescal) e depois iogurte natural, feito
em casa, misturado somente com mel ou batidinho com frutas.
As poucas tentativas que fiz de oferecer mingaus foram
frustradas e nunca envolveram leite de vaca (somente de soja e arroz), que ela
até hoje só toma como ingrediente de alguma receita. Desde cedo oferecemos
sucos variados, sempre com pouco açúcar, muitas vezes em combinações (abacaxi +
hortelã ou gengibre, maracujá + manjericão, acerola + manga, manga + cardamomo,
limão + couve). Em dias de temperaturas mais baixas, oferecemos também chás morninhos
(cidreira, erva-doce, camomila). Dou preferência aos bolos e biscoitos feitos
em casa, com farinha integral. E ofereço saladas cruas sempre temperadinhas com
azeite, limão, ervas (secas e/ou frescas), pouco sal e sementes como de
gergelim e mostarda.
Mesmo com a complementação, ela manteve o esquema de
amamentação de 2h em 2h até os 8 meses, quando precisei escolarizá-la para
poder cumprir com os compromissos do doutorado. Pouco antes dela completar o
primeiro aninho, meu ritmo de trabalho somado com a amamentação noturna
consumiram mais energia do que eu podia suportar, então conversei com o marido
e as pediatras (contamos com a ajuda de uma homeopata e de uma alopata), e
decidimos pelo desmame. Isso implicou no aumento do número de refeições diárias
dela (de 4 para 6, depois para 7), o que fizemos gradualmente. Felizmente ela
tolerou bem a mudança, permanecendo com um apego tão grande ao peito que,
alguns meses depois, quando enfrentou um processo grave de adoecimento, voltou
a mamar como se nada tivesse mudado. Até hoje, depois de mais de 1 ano de
desmame, ela continua com verdadeira adoração ao peito e ainda pede para mamar
vez por outra. E eu dou, feliz da vida.
Entre meus radicalismos, está a não oferta de várias coisas:
biscoitos recheados, refrigerantes, embutidos, maionese, bebidas lácteas e
achocolatados. Ela experimentou chocolate pela primeira vez ao completar 1 ano
e depois disso em oportunidades tão poucas que contamos nos dedos das mãos. O
mesmo vale para frituras, que jamais são feitas em casa. De vem quando, vamos a
uma sorveteria na cidade onde os sorvetes são feitos artesanalmente, a partir
de frutas frescas e sem gordura vegetal. Na pizzaria, que é raridade
frequentarmos, escolhemos opções menos calóricas e oferecemos pequenas porções.
Um dos atrativos da escola escolhida foi a ajuda nesse
sentido: são proibidos lanches muito artificiais e calóricos, ao invés de
cantina tem cozinha, com cardápio feito por nutricionista, sem uso de açúcar
branco (em casa usamos demerara para os sucos e mascavo para bolos e
biscoitos), com boa variedade de vegetais e de receitas. Todos os dias ela leva
fruta e somente fruta para o lanche, com tanta variedade quanto conseguimos manter
(em geral, são 3 tipos).
Se foi fácil a introdução alimentar? Não. Impossível ser. Dá
trabalho estar atenta à geladeira e à fruteira, calcular combinações, manter
variedade, descascar, cortar, refogar, cozinhar. E ainda fugir dos agrotóxicos
e adubos químicos, dos conservantes, corantes, espessantes, acidulantes e das
pessoas querendo ser legais oferecendo toda a sorte (sorte?) de guloseimas
supostamente saborosas. Mas, como eu disse no começo, isso de comer é algo que
me encanta e fascina. Talvez por isso seja um trabalho a que me entreguei e
entrego com esmero, dedicação e muita, muita satisfação. E certamente por isso
que eu tenho uma criança que mastiga cookies de aveia com o mesmo prazer de
bananas, sushis, tomates-cereja e cupcakes de limão.
E você? Como foi sua experiência com os alimentos do seu filho?